Edit Template

Manuais digitais: Quem concorda que ponha o dedo no ar!

Chamem-me antiquada, conservadora, info excluída, o que quiserem, mas não consigo concordar, com a introdução dos manuais digitais nas nossas escolas dos Açores, nem, tão pouco, entender qual é o objectivo de tal medida.
Não consigo perceber a teimosia deste Governo que não é capaz de voltar com a palavra atrás, indo assim ao encontro do que pretende muito mais que a maioria dos açorianos e dos residentes nos Açores. Refiro-me a professores, auxiliares de educação, pais e encarregados de educação, alunos e até mesmo muitos especialistas e terapeutas na área da saúde que também, como eu, consideram um tremendo erro a introdução dos manuais digitais nas escolas da Região.
Na Suécia e na Noruega, os professores estão a regressar aos manuais em papel, recuando no digital, defendendo que os manuais físicos “são importantes para a aprendizagem dos alunos”.
O Instituto Karolinska da Suécia afirmou, inclusive, que “há provas científicas claras de que as ferramentas digitais prejudicam, em vez de melhorarem, a aprendizagem dos alunos”.
Também a Agência das Nações Unidas para a Educação e Cultura (UNESCO) emitiu um “apelo urgente ao uso apropriado da tecnologia na educação”.
Desde o passado dia 1 de Janeiro de 2024, os alunos dos Países Baixos deixaram de poder levar telemóveis, tablets e smartwatches para as escolas, em todo o país. A medida, anunciada pelo Ministro da Educação neerlandês, teve como objectivo “proteger os alunos” das distrações associadas aos dispositivos electrónicos. “Os alunos têm de ser capazes de se concentrar e precisam que lhes seja dada uma oportunidade para estudar da forma correcta. Os estudos mostram que os telemóveis são uma distracção. Precisamos de proteger os alunos contra isto”. O Ministro defende que, por muito que estes dispositivos já estejam enraizados no quotidiano, “não pertencem às salas de aulas”.
Quando se assiste em muitos países ao recuo na implementação dos manuais digitais e se questiona a eficácia dos mesmos, não entendo porque, por cá, numa Região onde, bem sabemos, que os níveis de literacia estão muito longe dos de muitos países da Europa e onde a Região ocupa as piores posições relativamente ao país, se mantém este propósito.
A nível nacional, mais de quatro em cada cinco encarregados de educação que responderam a um inquérito sobre o projecto-piloto do Ministério da Educação para introduzir manuais digitais nas escolas mostraram-se insatisfeitos, defendendo o fim do programa e considerando o mesmo um “retrocesso intelectual”.
Por cá, defende-se que os alunos podem escolher se querem manuais digitais ou físicos. Mas o que não se disse aos pais e encarregados de educação é que isso não é bem uma opção. É que quem optar pelo uso dos manuais físicos terá de os adquirir com o seu orçamento familiar, enquanto os manuais digitais são totalmente gratuitos. Ora, acho que todos conseguimos perceber que esta acaba por ser uma não opção. Entre comprar e ter gratuito, creio que é fácil perceber onde vai recair a escolha.
Por outro lado, se ainda assim, existir pais que tenham suporte financeiro para adquirir os manuais físicos para os filhos, como será na prática? Numa sala de aula, como se vão entender alunos e professores com as duas opções em cima da mesa? Está a comunidade educativa preparada para isso? Não sou professora, mas parece-me que o resultado não pode ser bom.
Quem está a favor da introdução dos manuais digitais nas escolas dos Açores que ponha o dedo no ar!
Os pais, não querem, professores também não, psicológicos, oftalmologistas, terapeutas da educação também não, a própria sociedade discorda e tantas outras franjas da população. Os que não discordam dizem ter muitas reservas… afinal, o que se está aqui a fazer? Os governantes não deveriam ouvir a população? Vamos criar e obrigar à implementação de uma medida que quase ninguém concorda, à excepção de alguns governantes e, claro, das empresas tecnológicas?
Não deveríamos olhar para os exemplos que estão a vir de fora e tirar ilações? Porque vamos avançar com uma medida que em muitos outros países está a ser abandonada?
Eu não meto o dedo no ar!

Olivéria Santos *

  • Deputada do CHEGA Açores
    (A autora escreve conforme o antigo acordo ortográfico)
Edit Template
Notícias Recentes
Jeremias Tavares cria peças de vidro através da técnica “Fusing - ”Os presépios e a bijuteria são os artigos mais procurados nesta época natalícia
Presépio com 300 bonecos de panos do Pico da Pedra é tradição com meia centena de anos
Francisco César apela a um Natal de empatia e união para enfrentar os desafios nos Açores
Neto de açorianos invade tops canadianos com versão de Silent Night
Bispo dirige mensagem de Natal a partir do Estabelecimento Prisional de Angra - “Humanizar todos os ambientes, servir toda e qualquer vida” para além “de cada erro ou fracasso”
Notícia Anterior
Proxima Notícia

Copyright 2023 Diário dos Açores