Embora a Secretaria Regional da Educação, sob a liderança de Sofia Ribeiro, tenha investido nos manuais digitais, promovendo uma verdadeira celebração das maravilhas da tecnologia, há algo que permanece indiscutível: um livro físico é, afinal, um livro. Não importa quantas promessas de inovação e modernidade venham a brilhar nas telas; o valor de um livro em papel é, por definição, intangível e, aparentemente, insubstituível.
Sofia Ribeiro não se cansa de destacar que os manuais digitais proporcionam uma experiência de aprendizagem mais dinâmica e envolvente. Sem dúvida, a tecnologia tem muitas vantagens — quem não gostaria de uma aula repleta de cliques e interatividade? Mas, em nome da “modernidade”, devemos realmente descartar o querido e confiável livro físico?
A ironia é que, enquanto festejamos a eficiência dos manuais digitais, também nos deparamos com as suas complicações. Precisamos de baterias que não acabem no meio da aula, equipamentos que funcionem (o que pode ser um grande “se”), e, claro, uma ligação à internet que seja mais estável do que a nossa vontade de acordar cedo. E o que dizer do simples prazer de folhear um livro, sentir o cheiro do papel ou fazer anotações à mão?
Estudos mostram que a leitura em papel pode levar a uma melhor retenção de informações. Uma pesquisa realizada pela Universidade de Aveiro revelou que a leitura em papel resulta em uma maior compreensão e memória do que a leitura em ecrãs. Os participantes que leram textos impressos recordaram mais informações do que aqueles que usaram dispositivos digitais.
Além disso, a exposição constante a ecrãs pode ter efeitos negativos na saúde visual e aumentar a fadiga ocular. A Direcção-Geral da Saúde alerta que a síndrome da visão de computador já afeta uma parte significativa da população, especialmente entre aqueles que passam mais de duas horas diárias em frente a dispositivos digitais. Por isso, devemos perguntar-nos: até que ponto estamos dispostos a sacrificar o conforto visual e a saúde em nome da modernidade?
Assim, uma abordagem híbrida parece uma solução perfeita. Por que não aproveitar o melhor de dois mundos? Vamos manter os livros em papel, enquanto tentamos integrar os manuais digitais.
Imagine um futuro em que a modernidade dos manuais digitais e a intemporalidade dos livros físicos coexistem pacificamente, cada um com seu papel no grande teatro da educação. De um lado, a eficiência e interatividade tecnológica; do outro, a profundidade sensorial e emocional de um livro impresso, que, sejamos francos, não exige uma atualização de software a cada dois meses.
Além disso, um estudo publicado na revista Frontiers in Psychology revelou que a leitura em papel pode facilitar a formação de conexões mais profundas e significativas em comparação com a leitura digital, permitindo que os leitores desenvolvam um entendimento mais rico do texto. Isso é algo que a leitura digital, com a sua natureza dispersa e repleta de distrações, muitas vezes falha em proporcionar.
Desta forma, respondemos às necessidades de todos os alunos, porque o que realmente importa é garantir uma aprendizagem mais completa e rica, mesmo que isso signifique equilibrar o mundo virtual com o mundo real, como se fôssemos malabaristas num circo educacional. O que podemos concluir é que, numa era em que tudo parece ser digitalizado, um bom e velho livro físico pode ser exatamente o que precisamos para não perder a conexão com uma aprendizagem genuína.
Rita Simas Bonança *
- Doutorada em Educação
Universidade Iberoamericana