O populismo, quando combinado com o ilusionismo, pode gerar um impacto profundo na dinâmica política, ao mobilizar massas por meio de narrativas simplificadas e emocionais. No entanto, essa combinação também apresenta riscos significativos, ao enfraquecer as instituições democráticas e ao perpetuar ilusões políticas que obscurecem os problemas reais. Assim, compreender essa interseção, é crucial para avaliar criticamente os regimes populistas e as suas implicações.
O populismo é uma prática política que enfatiza a oposição entre “o povo puro” e “a elite corrupta”, apresentando um líder como o único representante legítimo das demandas populares. Líder que estabelece uma relação direta com as massas, criando um vínculo carismático com o povo e ignorando as instituições políticas tradicionais.
O populismo estriba-se num nacionalismo económico através de discursos que promovem a união nacional e medidas protecionistas e na concentração do poder centralizado na figura do líder, recorrentemente em detrimento da democracia pluralista. Transformando a política em espetáculo e utilizando símbolos e eventos para criar uma ilusão de inclusão popular.
O ilusionismo político, por outro lado, refere-se ao uso de estratégias que criam percepções distorcidas da realidade. No populismo, isso manifesta-se através da simplificação de conflitos e na redução da complexidade social, criando narrativas maniqueístas e promessas grandiosas e irrealizáveis, sem base prática mas que mobilizam apoio imediato e entusiástico. Utilizando eventos públicos e discursos emocionais para criar sensações de unidade e progresso, escamoteando os problemas estruturais que permanecem.
Sendo muito mais fácil inventar narrativas místicas/fantasiosas do que estudar e investigar, a ciência é descartada e substituída por estórias do oculto e da transpiração que, rapidamente e pela sua simplicidade, atingem níveis estratosféricos de adesão nas redes sociais e alimentam discursos demagógicos de ódio e exclusão. Conseguindo, mesmo, igualar e suplantar o futebol e as touradas.
A relação entre populismo e ilusionismo é evidente na forma como ambos dependem da construção de narrativas sedutoras. O populismo utiliza o ilusionismo para criar uma identidade coletiva que mascara desigualdades internas. Criando inimigos comuns, como alegadas elites corruptas e/ou grupos/partidos que são apresentados como ameaças à soberania popular, desviando a atenção de questões internas e centralizando tudo no discurso no líder carismático (há sempre um…) exaltando a sua condição de salvador, enquanto as instituições democráticas são deslegitimadas e vilipendiadas.
O ilusionismo, que tem a ver com estratégias de manipulação que criam percepções distorcidas da realidade, desviando a atenção de problemas reais e/ou construindo narrativas falsas para consolidar o poder, é uma ferramenta da maior importância para a consolidação do populismo. Retórica emocional, promessas grandiosas e simplificação de conflitos sociais para criar uma identidade coletiva e antagonizar elites com base em técnicas como distração e manipulação dos média.
A simbiose perfeita que tem possibilitado o aparecimento dos trumps, bolsonaros e orbáns desta vida que combatem arduamente a inclusão e a equidade como maleitas malignas dos sinistros “socialismo e social-democracia” e, desse modo, arrebanham incautos e promovem, meteoricamente, o “vil metal” e os seus acólitos insaciáveis.
O combate ao populismo e ilusionismo político nas democracias contemporâneas exige uma combinação de medidas institucionais, educacionais e sociais. Medidas que englobam o fortalecimento das instituições democráticas, a transparência e regulação dos média, a educação política e cívica e a participação democrática reforçada. Medidas que visem criar uma sociedade mais informada e instituições mais resilientes contra as práticas ilusionistas.
Tarefas ciclópicas, mas incontornáveis, se quisermos continuar a viver neste mundo, como o conhecemos.
António Simas Santos