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Emplastros, populismo e criminalidade

Nunca entendi o que se pretende quando um político, detentor de cargo público ou similar, se apresenta a falar em público com 2 ou 3 emplastros a ladearem-no, sorridentes, a abanarem a cabeça concordantemente, nem entendo como noutras ocasiões dois ou três não são suficientes e vem toda a equipa de futebol de salão… é tão ridiculamente patético que nunca paro de me rir com os emplastros e nem sequer ouço a comunicação do político. Mais ridículo do que isso é o ato de enterrarem a primeira pedra de algo que não é, pode vir a ser, ou não, e depois atirarem umas pazadas de terra para cima da pedra. Qual o simbolismo disso escapa-me, além da inutilidade ridícula de ver políticos que nunc apegaram numa pá ou enxada antes e ali se dedicam a essa palhaçada inconsequente. Por último a merecer o meu maior desprezo é o descerrar de lápides, que queiram ou não, me fazem sempre recordar o Almirante Tomás no tempo do Salazar, numa vacuidade inconsequente. Sei que é uma herança pesada que vem da era das Descobertas quando por exemplo Diogo Cão chegou a terras de Angola e ali plantou um Padrão dos Descobrimentos
Esta mania dos governantes portugueses porem lápides em tudo o que é sítio para assinalarem a passagem tem origens históricas antiquíssimas: os padrões das Descobertas como a versão majestosa da Torre de Belém. Existem também em versão mais comum para exportação como este em Cannon Hill, Warrnambool, Estado de Vitória (na Austrália) a marcar o local onde as naus de Cristóvam de Mendonça terão chegado entre 1522 e a cuja inauguração assistiem1990, sem que lá tenha ficado na lápide quem foi o ministro que a inaugurou..

De acordo com a versão mais popular da história contada pelo primeiro colono Hugh Donnelly, em 1836, baleeiros de regresso a Port Fairy – a 25 quilómetros de Warrnambool – avistaram na Baía de Armstrong, “destroços antigos de mogno” nas dunas de areia. Como era de mogno e só os portugueses tinham esse tipo de caravela a lenda surgiu, teriam os portugueses visitado a Austrália antes do Capitão Cook? A história ou estória ganhou tanta popularidade que em 1992 o governo de Vitória ofereceu 250 mil AUD$ para quem achasse os destroços do navio. A cidade também ‘adotou’ a lenda e hoje parte do movimento turístico local é baseado no mítico Mahogany Ship. Se visitar Warrnambool pode caminhar pelo Mahogany Ship Walking Track, visitar a exposição sobre a caravela no museu marítimo, ficar no Mahogany Motel, passar pelo conjunto residencial Mahogany Gardens ou mesmo visitar a De Lemos Court, rua que recebeu o nome do criador do Festival Português de Warrnambool, Dr Carlos Pereira de Lemos, durante anos Cônsul Honorário de Portugal. O Comendador, 94 anos, diz “Gosto de olhar do topo do morro e imaginar as caravelas portuguesas”.
Mas a principal atração do ponto de vista português, o Festival Português, que acontece a cada dois anos (e chega aos 30 anos em 2020) e o ‘padrão’, o grande obelisco que exploradores portugueses fincavam em terras conquistadas. Com o escudo português, o padrão está no topo do morro Canon Hill com vista para a baía de Warrnambool. E nunca esqueço a grata honra de estar presente em 1990 no descerramento do Padrão.
Vem isto a propósito do aumento desmesurado da criminalidade em Lisboa por mais que o autarca local e outras entidades o desmintam, ao ponto de alguns roteiros turísticos desaconselharem viagens a Lisboa por não ser tão segura como era até bem pouco. Num determinado dia do mês de fevereiro o CM, esse órgão de comunicação social, instigador de fobias, populismos, nacionalismos bacocos, xenofobias baratas e outras doenças da atualidade, reportava:
Homem morto à porta de ginásio na Amadora por tiros disparados de uma mota.
Seis encapuzados raptam homem num ataque da máfia brasileira em Lisboa.
Homem sequestrado na própria casa em Lisboa foi libertado. Suspeitos levaram o homem errado.
Foi encontrado um corpo mutilado no bairro da Lapa, em Lisboa.
Imagens de videovigilância tramam agente da PSP que matou Odair Moniz.
Professor acusado de 3.734 crimes quer indemnizar alunas mas diz ter só 30 mil euros.

Homem detido por suspeitas de violar prostituta em Matosinhos.
Homem detido por violência doméstica e por tentar incendiar o restaurante onde trabalhava a ex-companheira.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM.
Padre de Braga julgado por 18 crimes de abuso sexual de crianças e pornografia.
Tribunal de Beja absolve 18 pessoas julgadas por tráfico de imigrantes no Alentejo.
Prisão preventiva para suspeito de dez crimes em Leiria.

E surgiu recentemente a exploração macabra desses crimes no Tour noturno pelos Crimes de Lisboa: onde se descobrem os episódios mais tenebrosos, tem a duração de 90 minutos.
Início no Arco da rua Augusta e termina na praça do Rossio para maiores de 12 anos.

Tudo isto narrado ao pormenor, visualmente descrito no telejornal da noite do canal de TV daquele órgão que agora recentemente inaugurou uma rádio (sobre a qual não posso falar por nunca a ter escutado), vem incutir nos telespetadores o sentimento de insegurança, trazendo à tona os mais primários sentimentos que alimentam os sonhos de qualquer político populista. E assim eles surgem no ecrã acompanhados dos ditos emplastros que abanam a cabeça e sorriem como aqueles cães de ornamentação que se colocavam na parte de trás do vidro das viaturas nos anos de 1960 e que abanavam a cabeça…

é isso que me fazem lembrar….

Chrys Chrystello*

*Jornalista, Membro Honorário Vitalício nº 297713
MEEA-AJA (IFJ)

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