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Ser cristão e pastor na Terra Santa

A minha mais recente passagem por Jerusalém, onde participei nas celebrações da Semana Santa, fez-me vivenciar a paixão de Cristo e a sua morte na cruz pela salvação do mundo como já tenho tido oportunidade de referir várias vezes.
Pude testemunhar in loco que os cristãos da Terra Santa têm as suas “cruzes” a carregar para poderem seguir Cristo fielmente. A primeira, vem do facto de serem um pequeno rebanho, enfraquecido pela emigração de milhares de irmãos em busca de uma vida mais segura e digna. A percentagem de cristãos nesta terra caiu para menos de 2%.
Este pequeno rebanho vive numa situação política e económica precária e luta para encontrar trabalho. Há dificuldades quotidianas: obter permissão de trabalho em Jerusalém ou em Israel, pagar medicamentos, hospital, renda de casa, contas de eletricidade e água, leite para bebés, escolaridade das crianças e todas as necessidades básicas.
O Patriarcado Latino de Jerusalém instituiu uma comissão humanitária e um fundo de caridade para alcançar as famílias necessitadas e fornecer-lhes os bens de primeira necessidade. Esta comissão empenha-se na arrecadação de fundos, na distribuição e na comunicação com os doadores. Os mais martirizados são os nossos irmãos e irmãs de Gaza. As suas casas estão destruídas ou inabitáveis e os seus filhos estão sem escola há dois anos. O exército pede que deixem o complexo paroquial que os abriga e saiam de Gaza. Mas para onde ir? Há também o perigo de morte se não deixarem o complexo. O horizonte está nas mãos dos políticos que ainda estão a negociar um cessar-fogo que não chega.
Com a cruz há uma grande Esperança. Deus não os abandona. A solidariedade das outras igrejas não faltou, felizmente. O Santo Padre esteve próximo da paróquia de Gaza durante os 15 meses de guerra. Ele escreveu uma bela carta o ano passado dizendo:
“E vós, irmãos e irmãs em Cristo que habitam nos lugares de que mais falam as Escrituras, são um pequeno rebanho indefeso, sedento de paz. Obrigado pelo que sois, obrigado porque querem permanecer nas suas terras, obrigado porque sabem rezar e amar apesar de tudo. Vós sois uma semente amada por Deus. E como uma semente, aparentemente sufocada pela terra que a cobre, sempre encontra o caminho para cima, para a luz, para dar frutos e dar vida, assim não vos deixeis engolir pela escuridão que os cerca, mas, plantados nas suas terras sagradas, tornam-se rebentos de esperança, porque a luz da fé vos leva a testemunhar o amor enquanto se fala de ódio, o encontro enquanto o conflito se espalha, a unidade enquanto tudo se volta para a oposição.” (Carta do Papa Francisco aos católicos do Oriente Médio, 7 de outubro de 2024).
Ao “pequeno rebanho” da Terra Santa, Deus não tem faltado com pastores santos, corajosos e sábios. Um deles é sem dúvida, Sua Beatitude o Cardeal Pierbatista Pizzaballa, Patriarca Latino de Jerusalém, que nasceu próximo de Bergamo, no norte da Itália, no dia 21 de abril de 1965. Depois recebeu o hábito de São Francisco em 1984 e vive em Jerusalém há 35 anos.
Tenho duas notas curiosas por relação ao Cardeal Pizzaballa. A primeira, tem que ver com o facto de ele ter tido conhecimento da nomeação de Cardeal pelo Papa Francisco, a 9 de julho de 2023, ocasião em que eu era hóspede do Patriarcado e associei-me a este acontecimento de grande alegria e júbilo. A segunda, ligada à última estada na Casa Patriarcal (15 – 23 de abril de 2025). No dia em que parti para Portugal ele também partiu para Roma para o Conclave. Conheci-o, ainda, como frade franciscano na Basílica da Anunciação em Nazaré. Depois da sua Profissão Solene (1989) e ordenação (1990) foi enviado para Jerusalém onde tem permanecido. Na Cidade Santa tem tido várias responsabilidades: Custódio da Terra Santa durante doze anos (2004-2016), Administrador Apostólico da Arquidiocese de Jerusalém (2017) e depois Arcebispo Patriarca (2020).
Daquilo que tenho testemunhado é um homem que privilegia muito o diálogo inter-religioso e ecuménico, sendo também um grande conhecedor de todo o Médio Oriente e do mundo em geral.
É muito zeloso, inteligente, íntegro, próximo e corajoso, sendo um Pastor que durante esta guerra Israel-Gaza não se cansou de fazer visitas pastorais a toda a sua Arquidiocese que abrange Israel, Palestina, Jordânia e Chipre.
Não obstante o silêncio ensurdecedor em todo o mundo, ignorando a situação catastrófica em Gaza e na Cisjordânia, Sua Beatitude visitou Gaza duas vezes, a primeira a 16 de maio de 2024, onde permaneceu quatro dias. Esta visita foi parte de uma missão humanitária conjunta do Patriarcado Latino e da Ordem Soberana de Malta, com o objetivo de distribuir alimentos e ajuda médica à população de Gaza. Nota-se, também, a sua influência diplomática usada em favor deste povo massacrado.
Na segunda visita, a 22 de dezembro do mesmo ano, o Patriarca presidiu a uma missa nas vésperas do Natal, na Paróquia Católica da Sagrada Família.
Ele tem feito vários apelos à paz e tem sido uma voz proeminente no cenário internacional. É um bom administrador com grande capacidade de organização e planificação. Tem tido vários gestos proféticos, como o do dia 15 de outubro de 2023, quando se dispôs para ser trocado por crianças israelitas mantidas como reféns pelo grupo terrorista Hamas: “Estou pronto para uma troca, qualquer coisa, se isso puder levar à liberdade e trazer as crianças para casa. Não tem problema. Há total disposição da minha parte”.
Para ajudar as pessoas mais necessitadas, criou um fundo de emergência, com o qual a nossa Associação (Associação dos Amigos da Terra dos Açores) tem sido solidária através de donativos de tantas pessoas e instituições.

P. Jacinto Bento *

  • Cónego do Santo Sepulcro de Jerusalém/
    Pároco em São Pedro de Angra
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