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Porque continuamos na cauda da Europa

As forças políticas e o próprio governo já estão nas ruas, todos entusiasmados com os períodos eleitorais que se aproximam.Será um fartote de idas às urnas, à cadência de poucos meses a separá-las, com as regionais a 4 de Fevereiro, as nacionais a 10 de Março e as europeias a 9 de Junho.No meio da euforia, vamos esquecendo que andamos nisto há quase 50 anos e continuamos a arrastar-nos pela cauda dos principais índices de desenvolvimento europeus.É verdade que avançamos alguns passos, mas o problema é que os outros avançam mais depressa do que nós e nunca conseguimos convergir.Ainda agora acabamos de ver o nosso desempenho do PIB no ano passado em 2021, que é de crescimento, como não podia deixar de ser, mas um crescimento mediano, que nem chega a metade do da Madeira.Vamos assistindo à contenda eleitoral com uns a dizerem que fizeram mais do que os outros e vice-versa, mas a verdade é que nenhum deles conseguiu, ainda, fazer-nos descolar do grupo dos últimos.Há poucos dias, num seminário sobre Programas de Gestão Directa da Comissão Europeia, alguém mostrava os números comparativos das várias regiões nestes últimos 20 anos, no âmbito da política de coesão, e lá figurava, teimosamente, a Região Autónoma dos Açores nos últimos em quase todos os parâmetros.Entre 89 regiões NUTS II da Europa, as portuguesas estavam mal classificadas, e entre estas a menos desenvolvida (PIB por habitante, p.p.c., inferior a 75% da média da UE27), figuram o Norte, o Centro, o Alentejo, a Região Autónoma da Madeira e, por último, a Região Autónoma dos Açores.O Algarve já passou às “regiões em transição” (75 a 100% da média da UE27) e a àrea Metropolitana de Lisboa está ao lado das “regiões mais desenvolvidas”, ultrapassando os 100% da média da UE27.No que toca à convergência real com a UE27, todas as regiões portuguesas divergiram com a UE27 nas duas últimas décadas, sendo que os Açores figuram aqui em penúltimo.Depois, somos o descalabro nos índices de competitividade e na dinâmica de convergência com a UE27 voltamos ao último lugar, uma situação confrangedora, quando outras regiões, com índices perto dos nossos, conseguiram traçar uma caminhada muito mais favorável. E é com elas que devíamos aprender, estudando as apostas que fizeram e adaptando-as à nossa dimensão.É o caso da região Norte, que foi a segunda região europeia que mais convergiu com a UE27 em matéria de competitividade.Os pilares da aposta do Norte assentaram, sobretudo, na vertente da Educação Básica, na Eficiência (especialmente do mercado de trabalho) e na Inovação (sofisticação de negócios). Em sentido oposto, segundo o estudo apresentado pela CCDR Norte, os menores fatores competitivos da região são a dimensão do mercado (devido a baixos rendimentos da população residente) e a estabilidade macroeconómica (um fator nacional resultante, essencialmente, da elevada dívida de Portugal), o que se aplica por inteiro aos Açores, com a agravante de possuirmos uma dívida que atrofia a nossa região, pela nossa dimensão ainda mais reduzida e dispersa, pela falta de qualificações profissionais e os baixos rendimentos, mesmo em actividades de valor praticamente consolidado.Foi isto que transformou o Norte de Portugal na segunda região mais inovadora do país e a 143ª da Europa, com um índice de 85,9%, enquanto que os Açores quedam-se novamente no último lugar, com um fraco índice de 55,6%.Esta caminhada fez com que o Norte subisse uns bons lugares no índice de “progresso social”, estando ao lado da média europeia, onde nos encontramos mais uma vez na cauda.Vamos ter, agora (2021-2027), mais uma oportunidade de convergência, com um novo ciclo de apoios comunitários, e a pergunta angustiante que todos devemos fazer é se ainda somos capazes.Enredados que estamos todos nas tricas políticas, do quem apoia quem, no contar espingardas e na retórica habitual das grandes promessas dos ciclos eleitorais, é de desconfiar que seja diferente, se as políticas continuarem iguais.Os objectivos estratégicos do desenvolvimento dos Açores precisam de uma espécie de “pacto de regime” entre os principais partidos do arco do poder, até porque, como se receia, daqui para a frente nunca mais vamos ter governos de maioria, prevendo-se uma instabilidade que nada ajuda às apostas económicas que necessitamos no próximo ciclo.O poder dividido em capelinhas será sempre um cancro para a nossa convergência.O problema é se estamos todos dispostos a enterrar o machado de guerra.Nesta quadra natalícia, onde teremos, certamente, uma pausa eleitoral, deveríamos aproveitar o período para reflectir sobre a humildade que falta aos partidos em vez dos egos inflamados de cada um.Não é justo que, logo após esta pausa para celebração da paz e da esperança, se entre num período de agressividade, tensão e radicalização de discursos.Precisamos de mais entendimento colectivo, não apenas no Natal.Em nome do futuro dos Açores e das próximas gerações.P.S. – Esta coluna vai de férias e regressa em Janeiro. Bom Natal e boas entradas!

Osvaldo Cabral
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