“Pode a lua subir no céu e as nuvens a noite toldar
Pode o escuro ser como breu acabei por te encontrar.”
Fado do Encontro, Tim
Sempre gostei de conversar. Sempre fui conhecida por ser metida, descarada e por perguntar, com respeito, tudo o que precisava. A vida tem passado por mim, de muitas maneiras, mas esta característica não mudou. Ficou mais moderada, talvez, mas continuo a adorar encontros e reencontros.
Há quase uma mão cheia de anos, encontrei um mercado do encontro que me satisfaz esta vontade do encontro diariamente. Sou livreira, vendo livros e encontro nesta livraria, que me conhece como a palma da minha mão, pessoas que não vejo há séculos, pessoas de outras ilhas que estudaram comigo, outros tantos que conhecem a minha família e muitas outras pessoas, muitas que eu não conhecia, que passam a visitar esta pequena loja no centro da cidade de Ponta Delgada e a tornam mais nossa, mais caseira, mais feliz.
Há quem me diga que é uma sorte poder encontrar, sem daqui sair, tantas pessoas que, com o correr da vida, não consigo ver com a regularidade que pretendo. E é verdade!
Já não sei, às tantas, se não temos tempo para nada, nem para ninguém, ou se o tempo não quer nada connosco. É que andamos, provavelmente, tão enfadonhos com rotinas e obrigações que o tempo, este libertino sem regras, não nos liga nenhuma. Passa, simplesmente, e não quer saber do que deixamos por fazer. Porque nós queremos fazer tudo e não podemos, pois claro. A escolha do que realmente importa deveria ser um pilar da nossa vida e da nossa sociedade, não um faz-de-conta, não um tirar-à-sorte onde vamos, afinal, gastar o nosso tempo livre.
Vender livros dá-me o superpoder de conversar com muitas pessoas, sobre muitas coisas e se isso, conversar, não é a base da vida do ser humano, então não sei o que será. Mas muitas vezes também estou embebida em telefones, emails, ecrãs e mais ecrãs, e tempo que nunca para de passar. Estamos todos afinal. Mas quando regresso ao trono dos livreiros, no qual falo com todos e onde conheço todos, então sou mais feliz, sou um ser humano por excelência, e sinto que não saí de casa naquele dia só para trabalhar, mas também para encontrar as pessoas que, muitas vezes, já não moram no meu pensamento.
Ter como segunda casa um mercado do encontro não é bom, é fascinante! E só gostaria que os nossos dias, as nossas vidas, fossem recheadas destes mistérios e destas histórias, tão capazes de nos fazer refletir, alegrar ou entristecer, nascer ou morrer!
É que além de encontrarmos pessoas que compram livros, para si ou para os outros, ainda encontramos personagens, épocas históricas, autores e locais maravilhosos da nossa História que nos fazem ser mais empáticos, mais relativos em relação a tudo o que nos rodeia e, por consequência, mais felizes!
Boas leituras!
Patrícia Carreiro*
*Diretora da Livraria Letras Lavadas