Mas alguns de nós ainda acreditam que, sem a liberdade, os seres humanos não se podem tornar plenamente humanos e que, por conseguinte, a liberdade tem um valor supremo.
Aldous Huxley
Não há liberdade sem democracia e não há democracia sem liberdade.
A caminho de eleições legislativas nacionais e em vésperas da comemoração dos 50 anos do 25 de Abril, faz todo o sentido falar em liberdade. Sobretudo quando Portugal começa a dar sinais preocupantes de erosão da democracia e em que forças, de muito duvidosas credenciais democráticas, ganham expressão eleitoral significativa.
Esta é, talvez desde os quase últimos 50 ano, a ocasião em que a nossa democracia está mais ameaçada. Em grande parte, por culpa dos partidos que têm vindo a ocupar o centro do poder e que criaram grandes bolsas de revolta e protesto que abriram as portas a movimentos populistas que, agora, aspiram ocupar um espaço importante no xadrez político.
A evolução do populismo em Portugal reflete um fenômeno complexo e multifacetado, que se enquadra dentro das tendências políticas mais amplas observadas tanto na Europa como globalmente. Populismo que é caracterizado por uma abordagem antielitista e pelo apelo directo ao povo contra as “elites” estabelecidas.
O surgimento de partidos e movimentos populistas tem sido mais limitado em Portugal, mas, nos últimos anos, começaram a aparecer sinais de mudança. Partidos como o Chega, de extrema-direita, conseguiram capitalizar o descontentamento com as questões de imigração, segurança e a crise econômica, apresentando-se como uma voz contra o “sistema” e as “elites corruptas”.
Muita gente bem-pensante, assegurava que esse fenómeno não viria a ter grande expressão no nosso país. Mas, como se comprova, não poderiam estar mais longe da verdade. O Chega prepara-se para ocupar um confortável terceiro lugar, entre os partidos maiores, e com aspirações para subir. Longe vão os tempos em que era descartável como marginal.
A liberdade é um conceito multifacetado que ocupa um lugar central na filosofia política, na ética e na vida quotidiana dos cidadãos. Ela é, justamente, considerada um dos valores mais preciosos da humanidade, servindo como um pilar fundamental para as sociedades democráticas e um princípio orientador para as lutas individuais e coletivas pela justiça e pela igualdade.
Liberdade que é fundamental para o desenvolvimento do indivíduo e da sociedade. Permitindo a expressão da individualidade, a busca pela felicidade e a realização pessoal. Num nível social, a liberdade é crucial para a criação de uma sociedade justa e igualitária, onde todos têm a oportunidade de contribuir e participar da vida cívica. Sendo, também, essencial para a inovação e o progresso, promovendo a livre expressão e a troca de ideias tendentes a fomentar o desenvolvimento científico, cultural e tecnológico.
Não falamos, por conseguinte, numa palavra que, por indevidamente usada e vulgarizada, foi perdendo força e sentido. Falamos sim, num ideal que continua a inspirar indivíduos e sociedades em todo o mundo. Mas que não é, como o populismo bem demonstra, um estado permanente ou inalterável, mas antes um processo contínuo que exige vigilância, participação e compromisso.
Portugal está, atualmente, confrontado com desafios à liberdade, seja a nível individual ou coletivo. E bom seria que, colectivamente, entendessemos que os novos arautos da “ética” e da “justiça” mais não são do que manipuladores que vivem à custa das desigualdades e dos défices que a nossa democracia gerou e que lhes tem permitido “arrebanhar” cidadãos, simplesmente descontentes e zangados, mas que não são de índole verdadeiramente populista.
Desta vez, mais do nunca, todos os democratas e amantes de liberdade deverão deixar o conforto dos sofás e a inercia das suas vidas para apostar na democracia e nos partidos que, ainda com muitos defeitos, realmente a praticam e nela acreditam.
A liberdade não pode nem deve ser negociável, muito menos por um prato de lentilhas.
Antonio Simas Santos