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E Depois Do Adeus…

Aos primeiros dezoito minutos do dia 21 deste março, o presidente da República indigitou um novo primeiro-ministro.
Luís Filipe Montenegro Cardoso de Morais Esteves, abre, a partir de agora, novo capítulo da política portuguesa. Vai governar uma aliança partidária cuja composição é, no mínimo, bizarra, absurda ou mesmo surreal. Aliou-se com o CDS (Centro Democrático Social) e essa seria uma aliança natural. A bizarria nasce do outro parceiro desta aliança: o PPM – Partido Popular Monárquico.
Eu pensava que a monarquia tinha sido extinta quando mataram o rei Carlos em 1908. Ou mesmo quando seu filho Manuel II acabou sendo o 34º e último rei de Portugal, exilado em 1910 aquando da instauração da República.
Vem isto a propósito do permanente, suspeito e irrazoável repúdio que os atuais partidos políticos da República sentem por outro partido – o Chega -, que além de ser constitucional, é pró-europeu e anti Putin, ao contrário do partido Comunista ou do Bloco de Esquerda, que apoiam a causa russa e são contra a União Europeia, mas têm os seus deputados em Bruxelas a viver à custa da Europa. Sim, o PPM é também constitucional, tal como todos os outros. O que não entendo é essa aversão ao Chega, essa repugnância e ódio fratricida por um partido que todos eles geraram.
Que a esquerda radical odeie ideologicamente o Chega, até percebo. Que o Partido Socialista não o veja com bons olhos, por ser mais um concorrente, também sou capaz de perceber. Mas que o Partido Social Democrata e o CDS não queiram saber do Chega, mas aconchega-se à monarquia em pleno regime republicano, faz-me macaquinhos na cabeça!!!
O líder do Chega é um ex-PSD e o Chega é mais à direita que aqueles. No entanto, decidem fazer coligação com a monarquia extinta, que tem representação política abaixo de residual e menosprezam um partido que obteve 50 deputados nas eleições de 10 de março último, para um parlamento de 230 deputados. O Chega tem quase um quarto do parlamento. A coligação AD (Aliança Democrática) obteve 80 deputados; o PS perdeu por pouco, com 78 deputados.
Os votos da AD mais os do Chega e Iniciativa Liberal, somam 138 deputados. Querem uma direita mais forte que essa? O Partido Socialista, mais os votos pingados à sua esquerda radical, totaliza 92 deputados. Mas se o PS combinasse com a AD, os dois teriam 158 deputados. Os tais dois terços do parlamento, necessários para reformas estruturais de que o país tanto carece.
Nestes 50 anos de aniversário da instauração da Liberdade, a qual gerou a Democracia que vivemos hoje, esta seria a melhor prenda que os três partidos (PS/PSD/CDS) fundadores do regime democrático poderiam dar a Portugal. Se fizessem isto, o Chega cairia a pique, porque ninguém precisaria dele. Seria reduzido ao mesmo que os comunistas e todos os outros votos pingados. Reduzido à sua insignificância popular.
Mas como não o farão, o Chega continuará a crescer. E com ironias de quando em vez, como foi a derrota de Augusto Santos Silva, peso pesado do PS e presidente da Assembleia da República.
Santos Silva foi implacável para com o Chega. Quis a ironia que perdesse para um deputado do Chega. Não há, em política, pior humilhação. E por mais flores que tragam ao morto os seus correligionários, o fato é que Santos Silva dificilmente será candidato à presidência da República pelo Partido Socialista. Nunca teria sido um bom candidato para ganhar. O PS tem melhores do que ele.
O ideólogo socialista radical e narcisista, acabou na guilhotina da urna de voto. Sempre teve mais sorte que Robespierre que ficou, literalmente, sem cabeça.
Quanto ao partido Chega, conseguiu o impensável. E o simbólico!
Cinquenta deputados no ano que se comemora cinquenta anos da revolução. Foi 50/50.
Há 50 anos derrotamos um sistema de ultradireita, ditatorial e fascizante, como temos na Rússia hoje com Putin. Agora temos um partido simpatizante da ultradireita que elegeu 50 deputados.
“Eram 22 horas e 55 minutos do 24º dia do mês de Abril de 1974 e nos Emissores Associados de Lisboa era dada a primeira senha para o arranque do Movimento das Forças Armadas que tinham como missão libertar Portugal do regime totalitário em que esteve mergulhado durante 48 anos. Esta senha foi dada por João Paulo Diniz aos microfones dos Emissores Associados de Lisboa ao colocar a essa hora a canção vencedora do Festival RTP da Canção, o tema E Depois do Adeus da autoria de José Niza e de José Calvário, na voz de Paulo de Carvalho.”

José Soares*

*[email protected]

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