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Flores Turismo 2013 Parte 6 (II)

“A identidade insular é bem distinta da portuguesa e da europeia e para se cumprir falta apenas a vivência de uma autonomia plena que cortasse as amarras ao velho continente. Pertence o arquipélago à Europa por mera e fortuita coincidência geopolítica, mas a alma destas ilhas está equidistante de Américas e Europa. Ainda vou acabar por me naturalizar açoriano!”

Se não fosse a bandeira azul com estrelas que se vê no aeroporto e o uso do Euro como moeda ninguém pensaria que estamos na Europa e não é pelos dois mil quilómetros que nos separam da terra firme, mas pela diferença de paradigmas de vida, pelo seu ritmo cadenciado, pelas suas ondas e marés e não pelos ditames da burocracia. A identidade insular é bem distinta da portuguesa e da europeia e para se cumprir falta apenas a vivência de uma autonomia plena que cortasse as amarras ao velho continente. Pertence o arquipélago à Europa por mera e fortuita coincidência geopolítica, mas a alma destas ilhas está equidistante de Américas e Europa. Ainda vou acabar por me naturalizar açoriano!
Por outro lado, os jovens terão de emigrar para terem futuro, como era o caso do jovem especializado em Agronomia com mestrado completo, que nos atendeu no aluguer de carros, e nos disse da sua paixão pela Austrália (e que incentivei, pois lá terá muitos mais hipóteses do que cá). Mais um caso de subemprego ou desemprego camuflado dos jovens deste país. Quem sabe se um dia não estarei a traduzir o seu processo de emigração? Como atrás disse, se não forem criadas condições de fixação de jovens a única saída que lhes resta é a emigração…. Foi ele que nos disse que as rachas na estrada da Fajãzinha não se deviam a qualquer sismo, mas ao mero aluimento de terras, uma constante que ameaça lançar a freguesia no mar. Depois das inundações e derrocadas de fevereiro de 2012, todas as estradas foram reconstruídas, mas estão todas a ceder. O mesmo acontece no Lajedo, pelo que a longo prazo estão ambas condenadas a desaparecer levadas pelo mar. Agora entendo o que na altura me deixou surpreso, que era ver algumas casas com o telhado inclinado em relação ao nível da rua. Pensei que fosse defeito de fabrico, mas afinal era um mero aluimento progressivo (e constante) dos solos. Aliás, embora a Igreja e várias casas tivessem sido recuperadas depois das inundações (que deixaram a Fajãzinha isolada vários dias e obrigaram à evacuação de larga parte da sua população) havia ainda muitas casas que apresentavam rachas e fissuras provenientes do lento deslizamento dos solos. As brechas nas estradas, algumas bem largas, prenunciam mais sofrimento e dor para as gentes da Fajãzinha, e a acreditar no jovem agrónomo, idêntico fenómeno ocorre no Lajedo, o tal local de difícil acesso onde tivemos a emocionante aventura de descer a estrada em terra, em obras, cheia de montes de bagacina, sem margem para erro de condução a menos que quiséssemos deslizar encosta abaixo.No último dia houve várias estradas que deixamos de percorrer pois a margem de tolerância para tanto abismo era já reduzida, algumas dessas estradas eram demasiado estreitas e nada as separava das falésias, nem a mera ilusão de um renque de hortênsias a fingir de proteção das falésias alcantiladas, a pique sobre o mar, centenas de metros abaixo…, e, francamente, gosto de descer mais suavemente até às fajãs. Outras que fizemos, como a subida do Farol de Albernaz para o Morro da Burra, guiamos bem mais afastados do precipício, mais encostados ao morro, praticamente na contramão, dado ser muito assustador ir pelo lado direito da estrada ou da berma sobre as falésias. Cá em baixo havia o ilhéu de Maria Vaz, a Quebrada Nova e a Ponta dos Fanais. Tudo a pique num bosque sem árvores, apenas um declive em linha reta e direta para as pequenas ondas. Houve outras estradas semelhantes e a noção que perdura é a de que a Ilha das Flores é feita de montes muito altos e de muitas pequenas fajãs lá em baixo e todos sabemos como nascem as fajãs…. Sobem-se 300 metros em poucos quilómetros de estradas íngremes.
Não há muitas casas isoladas, agrupam-se em aldeamentos não havendo tanta dispersão como noutras ilhas. Talvez pela inclemência dos elementos tivessem necessidade de permanecer agrupados.
Outra nota curiosa desta estadia foi constatar a falta generalizada de crianças e de jovens por todos os locais por onde passamos, pois, a maioria das pessoas que se viam eram já de uma certa idade. Começa também a ser visível nas ilhas o envelhecimento populacional. Ainda hoje o secretário da educação, Luiz Fagundes Duarte referia haver menos 853 alunos este ano, tendência redutora que se vem verificando nesta última década. Começam a desaparecer as famílias numerosas de seis a dez filhos que ainda eram normais na geração anterior…. Menos alunos significa menos professores, menos escolas, menos serviços, menor economia, menos contribuições fiscais e menos riqueza na região. O envelhecimento geracional em paralelo com outros fatores pode conduzir à extinção das espécies, neste caso à extinção do povo açorianos que nem atinge 250 mil pessoas nas ilhas embora com seus descendentes sejam uns milhões expatriados. No entanto, é um facto comprovado que em alturas de crise os nascimentos disparam, pelo que resta esperar que esta enorme crise traga um acréscimo de natalidade.
Depois da leitura não perca as fotos das Flores e Corvo https://www.youtube.com/watch?v=FrF_9UrceZchttps://www.lusofonias.net/a%C3%A7ores/flores/1874-00-diaporama-flores-e-corvo-chrys-2013.html

Chrys Chrystello*

*Jornalista, Membro Honorário Vitalício nº 297713

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