Na Solenidade da Ascensão do Senhor, Domingo, 12 de Maio do corrente ano de 2024, a Igreja Matriz, de Nossa Senhora da Estrela, cidade da Ribeira Grande, reabre às comunidades do concelho, as suas portas para (re)iniciar naquele templo, as celebrações litúrgicas, e eventos sócio- religiosos e culturais numa linha assídua de fé e acção cristã.
Por motivo de obras de restauração e conservação do templo, a Igreja Matriz esteve encerrada às celebrações, paroquiais na sua liturgia, após as grandes festas do Sagrado Coração de Jesus, inserida na tradicional “Comunhão Solene”, da juventude, celebrada na 1ª semana de Setembro de 2019, sendo na presente data, 12 de Maio de 2024, a sua nova (re)integração paroquial e (re)inauguração com a sua sagração festiva.
A Ascensão do Senhor, convida-nos a voltar os olhos para o mundo em que vivemos, e com a clareza humana, é preciso viver o presente com estima, onde temos uma tarefa diária cristã muito concreta a realizar: trabalhar pelo advento do Reino de Deus, que hoje e sempre se manifestará, qualquer que seja o prazo temporal e, enfrentarmos as responsabilidades que Deus nos confiou, porque não podemos permanecer inactivos com o olhar passivo e a mente nas nuvens.
Que Deus “conceda a todo o povo paroquial e devotos da Senhora da Estrela, um espírito de sabedoria e de luz para O conhecermos plenamente.” Que sejam iluminados os olhos do nosso coração, e compreendermos a que esperança fomos chamados e unidos”, a formar um só corpo e um só espírito, onde se enraíza a unidade da fé.
A Virgem Maria, Senhora da Estrela, acolha no seu oráculo inicial, os devotos peregrinos que procuram nas suas virtudes, a luz da fé, a porta do Céu, e o espelho de justiça no trono de David.
A celebração festiva / litúrgica, dia 02 de Fevereiro, é considerada na igreja o tempo professo dos consagrados, o tempo por excelência da luz que o Senhor com o seu podervem iluminar os olhos dos seus servos, como refere a antífona da bênção e procissão das velas.
É o tempo de encontro, quarenta dias depois do nascimento do Senhor, que o Papa Sérgio I, (687-701), introduziu no ciclo litúrgico, a festividade da apresentação de Jesus no templo/Purificação de Nossa Senhora, onde a celebração é iniciada ao nascer da aurora na Matriz da Ribeira Grande, como ainda hoje é prática festiva tradicional, muito acarinhada não só pela população local e suas proximidades vizinhas, mas a ilha, no geral.
Nesta liturgia, o Papa Sérgio I, indicou que a missa fosse precedida de uma solene procissão, em que todos os cristãos participantes no acto religioso do dia, se munissem de um círio, daí o nome popular da festividade “Senhora da Candelária ou Senhora das Candeias, e esta religiosidade, foi ao longo dos tempos estendida a outros lugares da diocese de Angra, tomando o nome popular de ”Louvar o nome de Maria”, na festa de Nossa Senhora da Estrela como foco de Luz, vida e amor, terna Mãe do Redentor, como invoca o seu riquíssimo hino.
Ela, a Alva Estrela que brilha no céu e na terra, volve aos seus filhos a Luz de piedoso olhar, como luzeiro de esperança, onde a luz refulgente nos ilustre até final.
O Senhor, é a luz do mundo, não se impôs a ninguém, porque os homens, cada um em particular, tem a possibilidade e responsabilidade de O aceitar ou recusar.
Congregados numa só família pelo Espírito Santo, caminhamos para a casa de Deus, ao encontro de Cristo, luz do mundo, para encontrá-Lo na fracção do pão, até que volte revestido de glória.
História da criação do Templo e dedicação do seu Orago
A Igreja Igreja Matriz, de Nossa Senhora da Estrela, sitiada na Cidade nortenha da Ribeira Grande, é um vetusto templo com história, arte, de porte imponente e beleza, digna de ser olhada e contemplada com dignidade humana merecida, onde a fé, faz rejubilar o orago da Virgem Maria, Nossa Senhora da Estrela, popularmente conhecida pela imponência e exposição do seu templo, sua arquitetura e estrutura física.
A sua obra, foi iniciada em 04 de Junho de 1507, desconhecendo-se a sua conclusão, mas, a sua sagração aconteceu em 1517 por D. Duarte, bispo e, em 1528 o seu lajeamento foi atribuído a mestre João Alves, construtor da ponte do Paraíso.
O “hiato” entre a sagração do templo e a sua conclusão, deveu-se ao facto do governo eclesiástico dos Açores, bem como o civil, estar confiado e pendente da Ordem Militar de Cristo, com sede em Tomar, até à criação do bispado do Funchal, em 1514, com “jurisdição” em em todas as ilhas do Atlântico, costa de África e Índia.
O Bispado/Diocese de Angra, só foi criado em 1534, por bula de 3 de Novembro por ordem do Papa Paulo III, nomeando seu primeiro bispo, D. Agostinho Ribeiro, sábio ilustre, além de fulgurante carreira que regeu vários cargos de responsabilidade, sendo à data, Reitor da Universidade de Coimbra, quando atingiu a plenitude do sacerdócio.
Ao tempo da sagração da Igreja Matriz da Ribeira Grande, o governo eclesiástico dos Açores estava no Funchal, e à ordem de D. Diogo Pinheiro, titular da vasta Diocese, que D. Duarte, por aqui passou, na data de 08 de Março de 1517, sagrou o primeiro grande templo dos Açores, dedicado à Virgem Mãe, Senhora da Estrela.
O Infante, por inspiração e arraigada devoção, resolveu colocar em cada nau uma imagem da Virgem Mãe, lembrando aos seus receosos marinheiros que, se era ao demónio que temiam ao atravessarem os mares dos Açores, ali tinham o anátema; para eles a advogada, a protectora e guia caminheira, era a Mãe de Deus, Senhora da Estrela, e Mãe dos Navegantes.
A fé, é sempre um baluarte que defende os gentios do desânimo, do medo, do pavor, embora a fertilidade das ilhas, com o ferver das águas correntes e o arder do subsolo, são factores naturais de fenómenos acontecidos e inesperados, os quais nos habituamos a viver como ilhéus, resguardados e protegidos pela Virgem dos Mares, e Navegantes em tempos de tempestades, e por isso, cantemos com fé, Maria, Estrela do Mar, e Mãe da Igreja, como louvor perene.
Salve! Estrela-do-Mar! Mãe do Verbo de Deus.
Virgem pura entre as virgens, Feliz Porta do Céu.
Salve! Salve estrela-do-Mar! Salve, Mãe, do Verbo de Deus
- Saudada pelo Arcanjo: / “Ave, cheia de graça”.
Dá-nos a tua paz, / Mudando o nome de “Eva”.
-Quebra ao preso as cadeias, / Dá aos cegos a vista,
Afugenta a desgraça / Traz-nos todos os bens. - Mãe de Deus, nossa Mãe, / Ouça os nossos pedidos
Aquele que por nós / Quis chamar-Se teu Filho.
-Virgem incomparável, / Mãe de misericórdia, liberta-nos da culpa, / Faz-nos mansos e castos.
-Dá-nos a vida pura / E o seguro caminho, Para que, vendo o teu Filho, / Sempre nos alegremos.
-Glória a Deus, Pai eterno / Glória ao Filho, Senhor, Com o Espírito Santo, / Agora e para sempre.
Através dos séculos, a cronologia dos tempos foram narrados acontecimentos catastróficos sofridos na luta com a natureza inesperada, que, através de fenómenos telúricos, coloca(ou) em risco o povo ilhéu sempre vigilante e activo, para que nada provoque a destruição do templo, património artístico e monumento histórico, fruto de esforço de um povo abnegado e bom, suportando com fiel justiça, os enormes custos para manter de pé a Matriz de Nossa Senhora da Estrela, de que nos estamos a ocupar no tempo presente.
O respeitável templo pela sua antiguidade de 517 anos de existência, é um imponente e magnânimo monumento arquitetónico local, que criado à época, o torna(ou) um símbolo de eficaz admiração aos olhares dos locais e forasteiros que o vêm de perto, o identificam sem dificuldade no longe da paisagem concelhia.
É incomparavelmente belo, altivo, rico e encantador, que baixando os olhos, admiramos a grandiosa escadaria, que dá acesso pelo Norte e Poente numa visão panorâmica da extensa área agrícola e bacia marítima.
A escadaria em anfiteatro, de 34 degraus, divididos em dois pequenos patamares, antes do adro propriamente dito, e mais oito degraus para outro patamar contíguo à porta da Igreja, e mais três, incluindo a soleira da porta principal, que ao todo perfazem45 degraus no total, separam a igreja, do Largo Gaspar Frutuoso, recinto harmónico e estético da Ribeira Grande.
Ao admirar a paisagem, e voltando a nossa fronte para a fachada da igreja Matriz, e olhando a sua frontaria, nota-se que a torre é separada do templo. O contraste estrutural ressalta à vista, pois a torre é escura e irregular, enquanto a da igreja, é bastante clara e uniforme. Três portas retangulares dão acesso às três naves interiores, três janelas retangulares, garantem a luz suficiente para a iluminação do templo e da pintura artística dos tectos.
Quatro contrafortes de reforço para sustentação de arcos ou paredes, dividem o frontão da igreja, formado por dois enormes ESSES semideitados, aos quais se juntam outros dois de dimensão inferior e inclinados, fechando a frontaria, encimada com a cruz latina.
Acima das janelas a toda a largura do frontão, há uma cornija que torna distintas e destacadas as duas janelas retangulares na parte superior, para iluminarem o tecto da nave central, e abaixo das quais, há um nicho com imagem, ladeada por quatro pequenas colunas.
No corpo interior do templo, comportam três naves de cinco arcos de cada lado, que marca e evidencia presença de uma obra elegante com suas colunas quadradas, despidas de ornato, chanfradas nas arestas, e de sete metros de altura, de cujos ábacos partem arcos de volta perfeita, o que torna elegante e majestoso este templo, onde se deve admirar a simplicidade dos seus ornatos.
Na Matriz de Nossa Senhora da Estrela, a arte sobressai sem ferir a mística do observador e sem contradizer a recta intenção da construção, pois o templo edificado, é a casa de Deus, onde o povo se junta para render o culto de adoração a Deus, à virgem, e aos santos.
Os tectos das três naves, são em madeira de castanho, e em forma de berço, revestidos de pintura a fresco, em claro-escuro. Os laterais, apresentam correspondência simétrica, e em cada uma das abóbadas, dois tapetes em retângulo, dentro dos quais um losango, em cor mais escura, e a todo o comprimento das naves.
Os motivos ornamentais, pintados na mesma cor e estilo, completam a pintura principal, tornando-a bela, elegante e artística a pintura em todos eles, mas de modo especial a nave central e o tecto da capela-mor.
Toda a pintura da nave central, contêm motivos alusivos à Ladainha de Nossa Senhora do Rosário, bem como a parte superior e exterior do altar da mesma. No geral, os motivos na pintura da nave central e laterais são alusivos e bem artesoados, predominando as folhas de parras, e cachos de uvas, entremeados de espigas de trigo: – Pão e vinho, matéria de sacrifício, dirigido ao acto principal do culto, juntando a estes motivos, as alegorias à Virgem, nomeadamente: A Estrela da Manhã; Torre de David; Casa do Ouro; Arca da Aliança, a Porta do Céu, e sobre o transepto, o A.M. entrelaçados, iniciais da saudação do Anjo Gabriel à Virgem Maria, na Anunciação.
Cronologia da edificação do templo
1507- Sua edificação em 04 de Junho
1514- Bispado / Diocese do Funchal
1517- Sua sagração em 08 de Março, e dedicação do orago, à Virgem Mãe
1534- Criação do Bispado / Diocese de Angra, 03 de Novembro
1581- Destruição da caixa que continha as relíquias do Bispo D. Duarte.
1614- Queda dos sinos sobre a Igreja, destruindo uma das naves, e arruinando uma outra, sendo o serviço paroquial mudado para a Igreja da Misericórdia, onde esteve desde 03 de Maio de 1614 a 1728, 114 anos depois da catástrofe.
1736- 03 de Julho, ainda não estavam concluídas as obras da Igreja Matriz, mas sim em 22 de Setembro do mesmo ano, sendo a duração das obras em 8 anos.
1834, a 05 de Abril, (um século depois), desabou o tecto da nave central, recuperado no mesmo ano, e no seguinte, todos os tectos das outras naves, em madeira de castanho e pintados em 1845. As obras de restauro, duraram 44 anos e sete meses e concluídos em 1878, incluindo o douramento e pintura.
Bibliografia consultada
Pereira, Ventura Rodrigues, – A Ribeira Grande, 3ª edição-Maio de 1984
José Gaipo