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Uma música para ouvir todo ano, não apenas no Natal!

“Que importa que a mão seja pesada e caia quando a deixam cair, se em vida foi aberta, generosa e fiel; que importa que o coração não bata, se em vida soube sentir e ser terno; que importa que o pulso pare, se em vida pertenceu a um homem?”Hoje trago-vos uma história que decorre no período de Natal, no século XIX, de nome Um cântico de Natal, de Charles Dickens. No entanto, esta não é uma história para ler, ouvir ou contar apenas na época natalícia, muito pelo contrário. A páginas tantas esquecemo-nos que é no Natal que se vive esta história e percebemos que somos nós, seres humanos com falhas, que vivemos neste livro.Além disso, esta não é uma história apenas do século XIX; é do século XX e dos outros que se seguirão, pois há questões na Humanidade que nunca mudarão, por mais esperançosos que gostemos de ser!Já muitos filmes se têm visto com esta história, mas o facto é que a sua leitura, naturalmente, nos traz uma maior essência, uma maior verdade sobre o que nos canta este cântico. É que esta música aqui descrita vai muito além da simples ideia de um Natal feliz, recheado de neve, frio, com alguma comida na mesa e coros celestes a dar graças pelo nascimento do Menino.Este livro leva-nos à história de um homem que sabe ser mais frio do que a neve que cai na rua, mais sozinho que a solidão que vive dentro da sua casa, mais desumano do que alguém que já morreu.Uma personagem atroz, portanto, com quem não criamos qualquer empatia inicialmente. Ele tem quem o queira acompanhar, quem o queira dar conforto, mas rejeita tudo, como se de nada precisasse. E, de repente, numa noite de Natal em que ele está sozinho, porque assim o quer, recebe uma visita estranhamente importante e reveladora do estilo de vida que tem e do que inflige nos outros. E é o espírito de um antigo sócio seu quem o visita em primeiro lugar, mostrando-lhe tudo o que ganhou depois da morte, quando em vida perdeu todas as oportunidades para ser melhor para si e para os outros. Scrooge, assim se chama a personagem principal deste livro, assusta-se com aquela visão, com aquela possibilidade de a morte ser ainda pior do que a vida, mas não logo no início!A narrativa vai seguindo com a visita de vários espíritos a este pobre homem, que só agora percebe o que perdeu ao gananciar a junção de moedas e moedas, não olhando a meios para isso. A sua mente vai-se abrindo, como uma caixa de pandora, e de repente é tudo tão simples, tão fácil de melhorar na sua vida. Por ele vai passando o passado, o presente e o futuro, realidades tão difíceis de vivermos e de combatermos. É que o passado traz sempre a memória do que aconteceu e do que nos atingiu, o presente é consequência, muitas vezes, daquilo que fizemos e o futuro há de ser uma forma estranha de vida, na qual teremos de aprender a viver; sim, porque nunca sabemos o que há de vir no futuro e esta ideia, bem pensada e só por si, já é estranha!Entre cobranças e rejeições, este homem vai vendo e sentido de todos os calços da estrada que pisou e percebe que todo o caminho é negro, solitário e pouco iluminado, não obstante o luzimento das moedas que se encontram no seu bolso. Ele vai caindo em si, sim, subindo o calvário do que foi, do que é e do que virá a ser a sua vida. No entanto, é no final que a maior evidência do seu futuro nos faz ver o fundamento de vida e pensamento deste homem. O último espírito, o do futuro, mostra-lhe incessantemente a ocorrência da morte de um homem que era pouco acarinhado, que não tinha ninguém que o amparasse ou o velasse na hora da morte e Scrooge sente pena por aquela criatura, ninguém mereceria tal coisa! Mas o que ele nunca entende, até se descortinar a placa de uma campa, é que este alguém é nada mais nada menos do que ele próprio, morto, enterrado e mais sozinho do que nunca. Em momento algum este homem aceitou ou sequer suspeitou que aquele cadáver, sempre de cara tapada, fosse ele próprio. Acaso este homem não representará muito de nós que julgam, incessantemente, que não irão morrer? Que este mundo é deles, sem qualquer pretensão de mudar de forma de vida ou de pensamento?Sim, a meu ver, é isso mesmo que representa esta personagem: a certeza vã do ser humano de não poder morrer a qualquer momento, de adiar as pazes que nunca serão feitas por orgulho e vaidade, de deixar para um amanhã, talvez inexistente, a coisa mais importante das nossas vidas. Scrooge é uma personagem, é certo, mas traz-nos um exame de consciência perfeito neste livro que nos faz ser capazes de ganhar empatia pelo outro, sendo automaticamente mais felizes connosco próprios; qual grilo falante do Pinóquio que tanto o inquieta e, a bem da verdade, a nós também!Como já o disse aqui tantas vezes, é por isso que eu leio, é por isso que sou mais feliz e mais tranquila na minha consciência; porque me revejo nestas personagens que os escritores nos oferecem e aprendo, cada vez mais, a colocar-me no lugar delas!Por isso mesmo, leiam mais, sejam mais felizes!Boas leituras!

Patrícia Carreiro*

* Diretora da Livraria Letras Lavadas

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