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Saúde Pública e a Saúde do público, semana a semana (39): “Nascer entre brutos, viver entre brutos e morrer entre brutos é triste.”

Nota prévia: No seu leito de morte, Rodrigo da Fonseca lamentou-se: “Nascer entre brutos, viver entre brutos e morrer entre brutos é triste.”. De facto, avisar, avisar, avisar antes de acontecer, e só ver agir depois do caos instalado é triste demais.

Os dados para análise, da semana: mais capítulos do Caos

Há 15 anos, a forma como foi gerida a Gripe A nos Açores, mostrou a inoperância à época das estruturas de Saúde Pública, então excessivamente politizadas, e vocacionadas para um certo tipo de sanitarismo. A COVID-19, e o sucesso na forma como foi gerida nos Açores, veio demonstrar a necessidade de uma Reforma nas estruturas de Saúde Pública, no sentido de se replicar o que demonstrou sucesso. Nos Açores e na metrópole, onde a mesma reforma aguarda há 20 anos, para acontecer, como lembrou há dias o Dr Ricardo Mexia. Há 15 anos atrás denunciar paradoxos (de má) gestão (o sr. secretário regional da saúde era então um economista, com uma breve passagem pelo mundo da poesia erótico-pornografica) resultava em saneamento. Era o que era, um tempo diferente, sem abaixo-assinados indignados.
Na semana passada, o Dr. Francisco George (que há 15 anos era Director-Geral da Saúde) afirmou que há “um problema de mortalidade excessiva” entre os 45 e os 64 anos que tem de ser analisado e estudado em pormenor. “É preciso estudar em pormenor a causa da morte desses doentes e perceber se teriam ou não indicação para serem vacinados, porque há grupos de risco com indicação formal para serem vacinados”. As infeções respiratórias, nomeadamente a gripe A (H1N1), estão a sobrecarregar as urgências hospitalares. “É preciso insistirmos nas questões da vacinação que é gratuita e muito eficaz, sobretudo, para reduzir os casos graves”, que são os que levam a população a procurar os serviços hospitalares. “As pessoas que estão internadas são maioritariamente pessoas que não foram vacinadas. Portanto, há um maior risco de evolução grave da doença para quem não está vacinado”, tal como acontece com a covid-19. A população também terá de colaborar, evitando frequentar ambientes fechados com aglomeração de pessoas, manter o distanciamento, se necessário utilizar máscaras, e ter particular atenção à higiene das mãos.

A Ciência da semana: aliviando os temas, falemos de cafeína

O WSJ (Wall Street Journal) traz um artigo muito interessante sobre a cafeína, algo que nos pode dar energia, mas também atrapalhar o sono. Então, qual é a quantidade certa de cafeína? Geralmente, recomenda-se que adultos saudáveis não consumam mais de 400 mg de cafeína/dia. Isto é, cerca de 4 chávenas de café. O adulto americano médio consome cerca de 200 mg de cafeína/dia; na Europa, o consumo é de 270 mg, de acordo com um estudo de 2017.
A cafeína pode ajudar-nos na concentração e alerta. Cerca de 100 a 150 mg – ou 1 a 1,5 chávenas de café – é uma quantidade que proporciona energia. Os efeitos geralmente entram em ação cerca de 5 minutos após o consumo, e tornam-se ideais após 15 a 120 minutos.
A cafeína está associada a benefícios físicos. As pessoas andam mais nos dias em que bebem café, do que nos dias em que não bebem, de acordo com um estudo de 2023, no “New England Journal of Medicine” (NEJM). Os participantes no estudo, em média, deram 1000 passos a mais nos dias em que beberam café com cafeína, do que quando não beberam. O principal ponto negativo da cafeína está na alteração do sono. O mesmo estudo da NEJM mostra que nos dias em que os participantes do estudo podiam beber tanto café quanto quisessem, dormiam em média 30 minutos menos, do que nos dias em que não bebiam café.
Crianças com menos de 12 anos devem evitar a cafeína, e entre os 12 e os 18 anos não devem tomar mais de 100 mg/dia, de acordo com a “Academia Americana de Pediatria”. As grávidas são aconselhadas a não tomar mais do que 200 mg de cafeína/dia. Pessoas com hipertensão, diabetes ou doenças cardíacas devem ser cautelosas no consumo de cafeína, e as pessoas que têm enxaquecas não devem beber mais do que 100 mg de cafeína/dia.

A Homenagem da semana: os pobres, e os frágeis, as maiores vítimas de todas as epidemias

Quão boa foi a resposta económica dos EUA à Covid-19? O WSJ diz-nos que no livro “The Pandemic Paradox”, Scott Fulford mostra que os pacotes de estímulo do governo americano foram “extraordinariamente eficazes na prevenção de dificuldades financeiras”, em parte porque os formuladores de políticas “aprenderam com os erros do passado”. Fulford mostra, diz também o WSJ, que muitos americanos terminaram 2022 “numa posição financeira melhor do que antes da pandemia”. O Estudo “Making Ends Meet” da CFPB, feito anualmente (a partir de 2019), questiona sobre os desafios financeiros, reais e percebidos, que as famílias enfrentam. O estudo inicial contactou 15000 domicílios e recebeu 2990 respostas. Estudos subsequentes acompanharam os entrevistados iniciais, e trouxeram novas famílias. Entre Junho de 2019 e Fevereiro de 2021, a proporção de entrevistados que refere dificuldade em pagar as suas contas caiu de 40,4% para 34,4%. Durante o mesmo período, o índice geral de bem-estar financeiro aumentou ligeiramente. Essa aparente melhoria foi reforçada pelo declínio dos níveis de dívida de cartão de crédito e pelo crescimento na criação de novos negócios. Gastamos também menos, e trabalhamos à distância.
Os biliões de dólares de apoio público nos EUA tiveram um efeito positivo nos orçamentos privados da maioria dos americanos, mas um efeito negativo no orçamento público colectivo. Como os impactos na saúde (da pandemia) foram particularmente terríveis para os americanos de baixo rendimento, houve justiça nos gastos públicos que reduziram a desigualdade económica. “O valor da dívida federal aumentou para US$ 26,3 triliões no terceiro trimestre de 2023, de US$ 17,2 triliões no início de 2020. Corrigido o aumento de 19% nos preços, que ocorreu no mesmo período, o aumento real da dívida foi de US$ 5,8 triliões”.
O estudo “Making Ends Meet” de 2023, mostra que a proporção de americanos com dificuldade em pagar as suas contas cresceu para 37,8%, sugerindo que, embora os gastos públicos tenham impedido uma maior deterioração nas finanças das famílias, não melhorou permanentemente a sua situação.
A generosidade federal diminuiu a dor financeira imediata da Covid-19. Esta é a grande conclusão de Fulford, diz-nos o WSJ, num país conhecido pelas reticências de boa parte da sua população à intervenção do Estado, no campo social. Por cá, pouco habituados a reflexões sobre o destino dado ao dinheiro público que é gasto, ainda há quem ponha até em causa a importância das vidas salvas. É este crescimento que precisamos fazer como sociedade: termos consciência e solidariedade social, mas sermos críticos na gestão do Erário Público com este fim. Gastos que não demonstram resultados positivos para a comunidade, lesam aqueles que mais precisam.

Mário Freitas*

*Mário Freitas, médico consultor (graduado) em Saúde
Pública, competência médica de Gestão de Unidades de Saúde

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