Quem vai ao supermercado continua a ouvir, a cada canto, as queixas dos consumidores sobre os preços dos produtos alimentares.
Na verdade, os preços dos bens alimentares essenciais nunca estiveram tão caros, nos Açores, como agora, consequência do fim do IVA zero, mas não só.
Já no final de Dezembro do ano passado a inflação dos bens alimentares estava mais alta do que no mesmo período de 2022, uma situação incompreensível para os consumidores, já que os preços deviam diminuir devido ao IVA zero e à descida da inflação geral.
A verdade é que, ao contrário, os preços subiram, o que só pode ser explicado pelo aumento de alguns custos de produção, mas que não explica tudo.
Inflação alimentar
nos 12%
No final de Dezembro do ano passado a inflação geral nos Açores baixou para 4,85%, menos do os 5% do mesmo período do ano anterior.
Mas a inflação na categoria dos Produtos Alimentares e Bebidas Não Alcoólicas situava-se nos 12,21%, mais do que os 9,20% do período homólogo.
Nos Produtos Alimentares Não Transformados registava-se uma inflação de 12,19%, acima dos 7,92% registados em 2022.
Na Restauração e Hotéis o fenómeno já era um pouco diferente: a inflação no final de Dezembro situava-se nos 11,49%, abaixo dos 12,13% do ano anterior.
Os custos da energia baixaram significativamente, de 11,05% em 2022 para os negativos -5,17%, pelo que não será por aí que se repercutam os aumentos de preços nos produtos alimentares.
A Habitação, Água, Electricidade, Gás e Outros Combustíveis também baixaram a sua inflação de 2,29% para 1,26%.
Fim do IVA zero agrava
A nível nacional o fenómeno dos aumentos de bens alimentares é semelhante, mas em menor grau do que nos Açores.
Algumas explicações avançadas por distribuidores do comércio apontam para custos de produção, aumento de salários e fim do IVA zero, mas isso só se verificou a partir de Janeiro.
Com efeito, a inflação que se faz sentir desde o final de 2022 – em Portugal e em todo o mundo -, aliada à subida das rendas, das prestações de crédito à habitação, do gás, da eletricidade e dos combustíveis colocou muita pressão no orçamento das famílias portuguesas.
Como forma de minimizar o impacto da subida dos preços, o Governo apresentou o Pacto para a Estabilização e Redução de Preços dos Bens Alimentares, que inclui a redução do IVA de bens alimentares.
No entanto, esta medida era transitória e, com a chegada de 2024, o IVA Zero chegou ao fim, o que irá impactar, ainda mais, as despesas de supermercado.
Tal significa que todos os produtos do cabaz de alimentos básicos, composto por 44 artigos, voltaram a aumentar.
Muitas queixas sobre os preços
Como é notório e sentido por todas as famílias, o custo de vida agravou-se em várias frentes.
A subida de preços de bens e serviços fez disparar, inclusive, as reclamações dos portugueses no Portal da Queixa.
Em 2023, observou-se um crescimento das queixas na ordem dos 12%, face a 2022.
Janeiro passado registou quase 4.000 queixas relacionadas com o aumento dos preços, um aumento de 2%, em relação ao mês homólogo do ano passado.
As categorias ‘Banca, Pagamentos e Investimentos’ e ‘Comunicações, TV e Media’ são as que absorvem mais reclamações.
Na verdade, o fim do IVA zero e a subida do preço da eletricidade fizeram disparar a inflação no arranque do ano.
Segundo dados do INE, a aceleração foi de 2,3%, apontando para um aumento de 0,9 pontos percentuais do Índice de Preços no Consumidor, em janeiro.
A chegada de Fevereiro traz também a subida de alguns preços, nomeadamente nas telecomunicações (4,3%) e um aumento médio de 9,49% dos preços do correio regulado nos CTT.
A subida do custo de vida tem um grande impacto no bolso dos portugueses e na insatisfação tornada pública pelos consumidores no Portal da Queixa.
Segundo os dados analisados, em 2023, a subida do custo de vida foi o motivo reportado em 39.840 reclamações registadas no Portal da Queixa, um aumento de 12,3%, em relação ao período homólogo de 2022, onde foram apresentadas 35.488 queixas.
Em Janeiro deste ano, a plataforma recebeu 3.703 reclamações relacionadas com a inflação, um crescimento de 2%, em comparação com o mês homólogo de 2023, onde se verificaram 3.635 queixas.
Entre os setores analisados, verificou-se que, em 2023, lideraram no pódio das reclamações a categoria ‘Banca, Pagamentos e Investimentos’ a absorver 14% das queixas e a categoria ‘Comunicações, TV e Media’ a recolher uma fatia de 13,4%. Segue-se a categoria ‘Informática, Tecnologia e Som’, na origem de 10,7% das denúncias e ‘Água, Eletricidade e Gás’, a gerar 9,7% das reclamações.
Em quinto lugar, figura no ranking das mais reclamadas a categoria ‘Transportes Públicos, Aluguer e Condução’, ao somar 6,4% das ocorrências registadas pelos consumidores por causa da subida de preços.
No Portal da Queixa pode ler-se, por exemplo, que Gracinda Saraiva foi uma das consumidoras que reportou a sua indignação contra a Caixa Geral de Depósitos:
“Reclamo pois o spread que tinha no contrato anterior era de 0.05% e neste novo contrato colocaram 2%, reclamo pois além de não ter sido informada da alteração o qual não concordo e tal como informei não contratei um empréstimo novo.”
Por sua vez, Helder Carvalho, reclamou contra a APIN: “Alteração de preços da água sem aviso prévio. Enviaram a nova tabela de preços junto com a factura de Janeiro”.
As queixas não param e o mais certo é que se prolongarão por todo o ano, no país, mas especialmente nos Açores, onde o custo de vida é muito maior.