Os dados para análise da semana: o Partido Socialista rendeu-se ao Stalinismo?
O programa eleitoral do Partido Socialista, apresentado por Pedro Nuno Santos, quer obrigar os médicos, que pretendam emigrar ou sair para o privado, a compensar o Estado pelo alegado “investimento público na sua formação”. Os socialistas pretendem também a introdução de um tempo mínimo de dedicação ao SNS, após a especialização.
Lidas em conjunto, as medidas são complementares: os médicos terão de permanecer no SNS por um período mínimo após concluírem a especialidade. Caso queiram emigrar, ou optar pelo privado, terão de compensar o Estado.
O ex-ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, diz que isto se trata de uma “medida estalinista” e de “constitucionalidade duvidosa”. Os sindicatos médicos falam em ilegalidade e discriminação.
Nos tempos (para alguns saudosos) dos regimes soviéticos, era usada como justificação para a construção do muro a necessidade de garantir que os fugitivos pagavam os estudos, antes de lá saírem
Que próximas medidas poderemos esperar do Partido Socialista…? Trabalho “de borla” para os professores que fizeram curso universitário público…? E os arquitectos e engenheiros nas câmaras municipais, que fizeram curso superior público, serão obrigados a serviço cívico, para “pagar” o mesmo…? Muito acusam alguns, falando que outros são “populistas”, e ao primeiro “deslize” saem da toca pestilenta da tirania ideias inconcebíveis numa sociedade democrática.
A Ciência da semana: os novos jovens de 65 anos
Hoje trago, para análise, o artigo “PONTOS DE VIRAGEM – A América Nunca Teve Tantos Jovens De 65 Anos”, de Clare Ansberry, no WSJ.
“Este ano mais americanos fazem 65 anos, do que em qualquer outro momento da História. Os “jovens de 65 anos de hoje” (…) são mais ricos e, em muitos indicadores, mais saudáveis, e ainda esperam viver mais 20 anos. Uma parte crescente é divorciada. Muitos voltam o seu foco de atenção para o que querem nesta próxima etapa. Ter 65 anos não é apenas pensar em quem você era, mas no que você pode tornar-se, num novo capítulo”, começa a articulista. “Os nossos pais e avós não pensavam em novos empreendimentos e possibilidades aos 65 anos. Eles estavam a acabar”, continua.
4,1 milhões de americanos atingirão os 65 anos este ano, um número que continuará a aumentar até 2027. Isto é, cerca de 11200 por dia, em comparação com a média diária de 10000 da última década.
20% dos americanos com 65 anos, ou mais, estavam empregados em 2023, o que é quase o dobro daqueles que trabalhavam há 35 anos, de acordo com um relatório do “Pew Research Center”. Trabalham mais e tendem a trabalhar mais horas: cerca de dois terços dos trabalhadores com 65 anos ou mais estão a trabalhar em tempo integral, em comparação com quase metade em 1987.
E também ganham mais, com o salário médio por hora a chegar aos US$ 22, em 2023, acima dos US$ 13 por hora (valores ajustados à inflação).
Os “jovens de 65 anos de hoje” são também mais ricos do que os seus antecessores. Embora existam disparidades significativas, o património líquido médio das pessoas entre os 65 e 74 anos era de US$ 410000 em 2022, acima dos US$ 282270 em 2010 (valores em dólares, ajustados pela inflação, a 2022). Parte deste aumento de 45% no património líquido reflecte o aumento dos valores das casas.
Muitos trabalham porque precisam do dinheiro, mas outros gostam do seu trabalho e da oportunidade de aprendizagem contínua e ligações sociais.
Em 2018 uma parcela maior de pessoas com mais de 65 anos cumpria 150 minutos de atividade aeróbica de intensidade moderada por semana (e fazia treino de força), do que em 1998, de acordo com o CDC. Ora, manter-se ativo e fortalecer os músculos ajuda a reduzir os riscos de quedas, as doenças cardiovasculares, a depressão e a doença de Alzheimer.
A taxa de divórcio em pessoas com 65 anos, ou mais, triplicou desde 1990. Não está claro porquê, mas pode ser em parte o resultado da longevidade. Os “jovens de 65 anos de hoje” podem esperar viver mais 20 anos, e podem não querer gastá-los num casamento infeliz. Muitas vezes acabam a morar sozinhos, embora nem todos possam dar-se ao luxo de fazê-lo.
Vejam-se todos estes dados, do que já é a realidade dos EUA, e recordemos uma das medidas mais extraordinárias, e inovadoras, com origem nos Açores, o “Programa Novos Idosos”, que permite aos idosos (com 65 anos ou mais) continuar a viver em casa, beneficiando de um apoio mensal de “até 948 euros”.
O Programa está já a ser aplicado em 5 concelhos: Ponta Delgada, Praia da Vitória, Lagoa, Vila Franca do Campo e Horta, abrangendo 250 idosos (50 vagas em cada concelho). Note-se que 3 destes concelhos são na Ilha de São Miguel.
Ao abrigo do Programa promoveu-se ainda o emprego de 193 Cuidadores Domiciliários e de 18 técnicos superiores especializados, das Equipas Técnicas Locais de cada concelho.
Em sede de revisão do PRR foi aprovada, pelo Conselho Europeu, a atribuição de mais 175 vagas ao Programa “Novos Idosos”, a fim de estendê-lo a todas as ilhas dos Açores.
Não será demais sonhar que este programa um dia seja Nacional, beneficiando assim portugueses de ambos os lados do Atlântico. Para uma realidade que muito em breve será a de cá.
A Homenagem da semana: Diminuição da abstenção nos Açores
O aumento da participação cívica nos Açores merece destaque e homenagem, sobretudo por ser em linha oposta à tendência na metrópole.
Claramente a população açoriana parece estar mais interessada no futuro da sua Região, e isso só pode merecer aplauso.
Ademais, durante o corrente ano os açorianos passarão por (pelo menos) mais duas eleições: a 10 de Março as legislativas nacionais, e a 9 de Junho as Europeias!
Saibam os actores políticos respeitar a vontade popular, e assim contribuir para que esta tendência de participação se mantenha.
Mário Freitas*
*Mário Freitas, médico consultor (graduado) em Saúde Pública,
competência médica de Gestão de Unidades de Saúde