Nos Açores há 17.348 pessoas a viver sozinhas, segundo os últimos dados do INE, relativos a 2021.
Cerca de 42% destas pessoas têm mais de 65 anos e 6% e 10% possuem menos de 35 anos.
Os números foram divulgados num estudo, citado pelo idealista/news, a propósito da dimensão das casas existentes no território português.
“A habitação e demografia estão intimamente relacionadas e a relação é bidireccional. De um modo mais geral, a habitação é um elemento fundamental na transição para a vida adulta e o acesso à habitação está associado ao ciclo de vida. As casas que procuramos e que respondem às nossas necessidades também dependem fundamentalmente da dimensão do agregado familiar”, da localização, preço e preferenciais pessoais, explica a economista Vera Gouveia Barros, em declarações ao idealista/news.
Mas “uma casa que hoje é adequada a uma família, já não o será daqui a uns anos”, recorda Gonçalo Antunes, porque “essa adequação na verdade é transitória numa perspectiva temporal”.
Há, portanto, uma casa ideal para cada momento da vida. Mas será que o parque habitacional português está preparado para responder a esta evolução dos agregados familiares?
O INHRU concluiu, num estudo, que se voltou a registar uma diminuição do número de elementos que cada agregado tem: a média passou de 2,6 em 2011 para 2,5 em 2021.
Ou seja, “verificou-se um aumento do número de agregados de menores dimensões, com 1 e 2 elementos”, muito devido ao envelhecimento da população.
E as “tipologias dos alojamentos disponíveis no parque habitacional apresentam diferenças em termos de adequação, face àquilo que são necessidades evidenciadas de mais tipologias T1 e T2”.
Isto quer dizer que “Portugal tem casas grandes para a dimensão dos agregados familiares que temos”, com a maioria a apresentar quatro ou cinco divisões e uma área média de 112 m2, refere Vera Gouveia Barros.
Esta realidade dificulta a mudança de casais sem filhos ou sem ascendentes para casas mais pequenas e simples de cuidar.
E, por isso mesmo, é que cerca de 64% das habitações de residência habitual se encontra sublotada, das quais 15% apresenta três ou mais divisões em excesso.
“Temos hoje cada vez mais pessoas que vivem sozinhas. Isto tem um impacto grande nas questões de acessibilidade” da habitação, refere Vera Gouveia Barros, já que a taxa de esforço no pagamento da renda ou da prestação da casa (no caso de compra) será sempre superior para uma só pessoa em comparação com um casal.
Além disso, “as casas mais pequenas têm um custo maior por m2”, acrescenta ainda a economista.
Esta inadequação da oferta de casas às necessidades da procura pode ser vista como uma oportunidade de negócio.
Hoje, há proprietários que estão mesmo a transformar casas grandes em tipologias mais pequenas para adequar à atual procura, reduzir custos e rentabilizar o negócio, tal como noticiou recentemente o Expresso.
Mas Vera Gouveia Barros não acredita que este movimento seja uma “tendência, porque tal transformação implica licenciamento e sabemos o pesadelo burocrático que isso é” – embora tenha sido descomplicado pelo simplex, conclui ao idealista.