A Administração do Grupo SATA divulgou ontem as contas da empresa relativas a 2023, mas sem revelar o resultado líquido da Azores Airlines e da Air Açores.
Numa nota enviada à comunicação social, a SATA começa por dizer que “a Azores Airlines mantém a tendência de crescimento sustentável pós pandemia, solidificando o caminho da recuperação e da sustentabilidade financeira”, mas não diz qual o resultado líquido da operação.
“Foi registado o melhor ano de sempre em Receitas, alcançando 285,8 milhões de euros em 2023. Este valor representa um crescimento de 35,4% (+74,7 milhões de euros), em comparação com o período homólogo, e de 81,7% (+128,5 milhões de euros) quando comparado com o período pré-pandemia (2019), o que reforça a tendência de crescimento da atividade da companhia e da capacidade de capitalizar oportunidades de mercado nos últimos anos”.
“A SATA tem feito um trabalho muito significativo junto dos Turismos, entidades Governamentais e comunidades dos locais para onde voamos, não só para dar a conhecer o Grupo, os Açores e, acima de tudo, para despertar para o posicionamento estratégico da companhia e a facilidade de ligação que esta oferece, entre a América do Norte e a Europa. Temos desenvolvido um conjunto de iniciativas operacionais e comerciais neste sentido. Houve uma aposta muito grande na consolidação das rotas da América do Norte e em novos mercados”, comenta Teresa Gonçalves, CEO do Grupo SATA.
“O aumento do tráfego, em comparação com 2022, foi, uma vez mais, muito impulsionado pelo aumento da conectividade dentro da rede”, acrescenta Teresa Gonçalves.
A evolução verificada alicerça-se nos passageiros transportados pela companhia aérea em 2023, cerca de 1.445 mil passageiros, +33,4% (+362 mil passageiros) em relação a 2022 e +52,8% (+499 mil passageiros) em relação a 2019, fruto do aumento da capacidade de passageiros transportados e da revisão na oferta de rotas, prossegue a nota da empresa.
O número de voos realizados ascendeu a 9.700 representando, igualmente, um incremento face a 2022 e 2019, de +17% e de +39%, respectivamente.
O load factor (taxa de ocupação) evoluiu para 82,8% ano, um aumento de 8 pontos percentuais (p.p.) face a 2022, ultrapassando igualmente o ano pré-pandemia em 4 pp.
De referir que o load factor nas rotas de/para a América do Norte foi de cerca de 85,6% durante 2023, +32p.p. comparativamente ao período homólogo.
As rotas de/para a Europa (excluindo Portugal) revelaram um desempenho agregado muito significativo atingindo um load factor de 81,5% em 2023 (vs 64,8% em 2022).
O maior crescimento de Receitas face aos Custos Operacionais permitiu atingir um Resultado Operacional antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (EBITDA) de 21,6 milhões de euros que compara com os 5,4 milhões de euros de 2022, traduzindo o excelente ano operacional desenvolvido pela companhia com uma variação 4 vezes superior ao ano anterior.
O Resultado Antes de Juros e Impostos (EBIT) apresenta uma melhoria de 11,8 milhões de euros quando comparado com o ano de 2022, sendo este fortemente impactado pelos leasings dos aviões.
A performance da Azores Airlines tem sido de crescimento consistente e sustentado tendo, em 2023, superado as metas de receitas e EBITDA definidos no Plano de Restruturação acordado com a Comissão Europeia, reflexo dos esforços comerciais, da eficiência da operação e do compromisso da gestão e das equipas no turnaround da companhia.
Custos operacionais
de 264 milhões de euros
Os custos operacionais atingiram um total de 264,2 milhões de euros, +28,5% face ao período homólogo e refletem custos extraordinários com irregularidades (+4,7 milhões de euros vs 2022) e ACMIs (aluguer de aeronave, tripulação, manutenção e seguros) (+15,3 milhões de euros vs 2022) em 2023, resultado, sobretudo, de condições climatéricas adversas e de atrasos na entrega de aeronaves em manutenção e na entrega do novo avião A320 NEO.
Esta variação incorpora, ainda, o incremento dos custos operacionais de tráfego (+36%, cerca de 20,1 milhões de euros vs 2022), refletindo o aumento da atividade da companhia e da subida generalizada dos preços dos serviços e o aumento dos custos com pessoal (+21,2%, cerca de 9,6 milhões de euros vs 2022) motivados pelo aumento da atividade operacional e pelo contínuo impacto da reposição dos cortes salariais, progressões nas carreiras e negociações de acordos de empresa.
De realçar, ainda, que os resultados, para além de estarem impactados negativamente pelas irregularidades e ACMIs acima do expectável, não consideram qualquer remuneração pela execução das rotas ao abrigo das Obrigações de Serviço Público entre a Região Autónoma dos Açores e o Continente e a Madeira, que têm apresentado historicamente défices de exploração.
Se fossem excluídos estes três efeitos, a Azores Airlines teria atingido um EBIT de 26,7 milhões de euros, +30,9 milhões de euros quando comparado com 2022, e fazendo os mesmos ajustes neste ano.
Ao longo de 2023 a Azores Airlines registou resultados líquidos positivos durante cinco meses consecutivos, tendo o Resultado Líquido de 2023 apresentado uma melhoria de 8,1 milhões de euros face a 2022, apesar de impactado por custos de reestruturação e por custos financeiros decorrentes de dívida contraída maioritariamente em anos anteriores.
Air Açores com 11,4 milhões
antes do EBITDA
“A SATA Air Açores mantém tendência de crescimento da sua atividade operacional”, prossegue a nota da SATA.
Em 2023 realizou mais 1.423 voos inter-ilhas que em 2022 (+8,2%) e mais 3.447 face a 2019 (+22,5%), num total de 18.737 voos.
O load factor (taxa de ocupação) evoluiu para 74%, o que representa um aumento de 2 p.p. face a 2022, embora ainda 2 p.p. abaixo de 2019, justificado pelo aumento do número de frequências, e consequentemente do número de lugares oferecidos, nas diferentes rotas operadas no Arquipélago dos Açores.
A companhia aérea registou, em 2023, um total de Receitas de 109,5 milhões de euros, representando um crescimento de 18,4% (+17 milhões de euros) em comparação com o período homólogo e de 30,9% (+25,8 milhões de euros) comparado com o ano de 2019, pré-pandemia.
Na base desta evolução está o número de passageiros transportados em 2023, de 952 mil passageiros, o que representou um crescimento de 14% (+114 mil passageiros) em comparação com o ano anterior, e de 24% (+185 mil passageiros) em comparação com 2019.
A SATA Air Açores atingiu um Resultado Operacional antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (EBITDA) de 11,4 milhões de euros, que compara com 7,8 milhões no período homólogo (+45,9%), tendo o Resultado Antes de Juros e Impostos (EBIT) de 2023 sido positivo em 0,3 milhões de euros, +2,8 milhões de euros face ao registado no período homólogo.
Os custos operacionais atingiram um total de 98 milhões de euros, +15,9% face ao período homólogo (+13,4 milhões de euros). O crescimento dos custos está impactado, maioritariamente, pelo aumento dos gastos com pessoal, +22,7% (+10,1 milhões de euros) motivado, sobretudo, pelo contínuo impacto provocado pela reposição dos cortes salariais durante o período de pandemia e pelas progressões na carreira e aumentos salariais acordados com as diferentes estruturas sindicais. Também os gastos com manutenção apresentaram em 2023 um crescimento expressivo face a 2022, +22,8% (+1,4 milhões de euros), resultado do aumento das necessidades de reparação e manutenção sobretudo pelas especificidades da operação nos voos inter-ilhas. Os custos operacionais representaram, em 2023, 89,6% da receita total (vs 91,5% em 2022). O Resultado Líquido do exercício foi fortemente condicionado pelos custos financeiros líquidos (8,6 milhões de euros) e pelos custos de reestruturação (1,6 milhões de euros). De referir que a SATA Air Açores procedeu, em 20 de setembro de 2023, ao reembolso antecipado da totalidade do empréstimo obrigacionista de 60 milhões de euros, emitido em dezembro de 2022, cujo contributo para os gastos financeiros de 2023 ascendeu a cerca de 6 milhões de euros, sendo estimada uma poupança total de 18 milhões de euros até 2026.
Medo de quê?
A SATA cometeu ontem um erro de transparência ao esconder o resultado líquido da Azores Airlines e da Air Açores na divulgação das contas de 2023.
É uma atitude inqualificável para uma empresa pública, tratando os cidadãos contribuintes como uns tontos, que vão olhar apenas para as coisas boas anunciadas e esquecendo o resultado final de toda a operação.
É uma atitude ainda mais grave, tratando-se de uma empresa em processo de privatização e que deve divulgar as suas contas com total transparência.
Se a tutela governamental teve conhecimento deste atropelo à transparência da governação pública, significa que o XIV Governo dos Açores começa mal, contradizendo José Manuel Bolieiro, que prometeu no Parlamento mais transparência na governação.
Até parece que voltamos aos tempos de Sérgio Ávila, em que todas as empresas públicas davam lucro, porque incluíam os subsídios dos contratos-programa! Esperamos que o erro venha a ser corrigido hoje ou nos próximos dias.
A bem da transparência pública.
O.C.