No 25 de Abril estava a meses de terminar engenharia com cento e tal colegas das mais variadas inclinações políticas. Esses tempos foram de consenso e esperança sobre coisas fundamentais, como a liberdade, o fim das guerras e os direitos à saúde, educação, justiça, habitação e trabalho bem remunerado generalizados.
À euforia, bem justificada, dos primeiros anos, logo se seguiu uma tentativa de tomada do poder pelo outro lado dos ditadores e o Verão nos Açores viu coisas como a passagem por tudo o que era sentido proibido em Angra, com muitos tratores, mas particulares também, e a deportação no “Ponta Delgada” para S. Miguel de sindicalistas e soviéticos incipientes, em que, felizmente, se evitou uma tentativa planeada ingenuamente e tolamente de violência no alto mar, em contraponto à recolha anterior em Ponta Delgada, de supostos contra revolucionários do 25 de Abril.
Tudo isso passou e bem, mas esperávamos mudanças de fundo em quase tudo, que não se verificaram em quase nada, como por exemplo uma uniformização do sistema de saúde e o fim da discriminação criada por Salazar, com o favorecimento dos seus funcionários através da ADSE, o que reduziu logo as possibilidades do SNS alguma vez ter sucesso e muitas outras mudanças que continuam por efetuar, passados 50 anos, para mal de todos nós, com a manutenção de um funcionalismo público gigantesco e ineficiente (até ao corrupto muitas vezes) e os direitos que são mais no papel que reais.
É claro que a vida média é muito melhor, então com os milhares de milhões despejados pela UE, mais sobre uns que sobre todos em geral, (ou não seja a UE dos milhões nas malas) mas nem que para disfarçar foram caindo um pouco por todo o lado.
Mas, na realidade, falta Cumprir Abril. E não sou eu que o digo, infelizmente é de um deles, um ex-governante brilhante como muitos do defunto governo que achava e dizia que cumprir Abril era cobrar mais impostos e queria aumentar o IMI de todos, porque em Lisboa e em várias cidades (supostamente portuguesas onde em muitos sítios o português é apenas a 5ª língua falada a certas horas) envenenadas pelo turismo de massas, pela invasão de estrangeiros com a limpeza social e expulsão de milhares de inquilinos. Ele queria completar essa limpeza pondo a andar os Portugueses que tinham conseguido aguentar-se e ficar nas suas casas, que “aumentaram” de valor para um valor especulativo de corruptos.
Cumprir Abril com 6.684, sim seis mil crianças e jovens “institucionalizados” (e muitos por dinheiro), e só 200 para adoção (com seis vezes mais pretendentes frustrados e muitos mais desistentes) porque os drogados, traficantes, assassinos etc, têm o direito (no Portugal de Abril???) de manter os filhos presos às suas vidas miseráveis e de miseráveis na cadeia. O Estado é cúmplice quando o único interesse importante nisso devia ser o das crianças que acabam crescendo sem família por melhor acolhimento pago ou não, que tenham e saem sem terem conhecido quase tudo do melhor da vida a que tinham direito.
Cumprir Abril com o nascimento de uma criança a aumentar de “preço” até na ADSE e com o aborto de graça
Cumprir Abril facilitando, distribuindo gratuitamente e encorajando o consumo de drogas e mesmo deixando existir sem repressão feroz as que transformam os jovens em vegetais sem retorno.
Se houvesse na Assembleia um grupo parlamentar de traficantes e drogados proporia um voto de louvor pela lei lá aprovada que lhes permite ter 10 dias de consumo no bolso e os traficantes a não terem de ir a casa das mães buscar várias vezes ao dia.
Cumprir Abril com gente, pessoas a morrer, sem assistência nos corredores dos Hospitais e dentro de ambulâncias nos parques à espera
Cumprir Abril com os “NOSSOS” fundos comunitários, tão bem “controlados”, que até dá para figuras do lixo jetset viverem em hotéis de luxo oito anos à custa do dinheiro para o desenvolvimento de Portugal. O que tem desenvolvido é as fortunas dos amigos e amigalhaços e no caso do Plano da Roubalheira e Rapinanço tem permitido aumentar e piorar o pior que temos do Estado excessivo.
Cumprir Abril com turismo de massas e casas fechadas por todo o lado, 200.000? No Algarve, com os trabalhadores sem casa ou qualquer hipótese dela, a passarem a pé a caminho dos “trabalhos” por bairros inteiros de casas fechadas no Inverno, muitas delas “arranjadas” com verbas da CE da habitação ( dos ricos claro) e com esta utilidade social evidente.
O Canadá proibiu a venda de casas a estrangeiros.
Cumprir Abril com 75% das famílias a terem dificuldades enormes em pagar as suas contas para aquecer as suas casas etc.
Cumprir Abril com os amigos de S. Bento a terem de levar os tostões uns míseros 70.000 euros ganhos com muito sacrifício a trabalhar à noite e esconderem-nos nos livros do Gabinete para evitar que em casa os pudessem encontrar e dissipar nos Hipers.
Cumprir Abril com uma justiça instantânea que demite primeiros ministros nos jornais e nas redes sociais (e quem quiser acreditar que isso que aparece antes de ser dito aos ”criminosos” não é lucrativo pois que seja tolo e acredite) e depois leva anos sem fim, à espera que os “crimes” vão prescrevendo e se possa ir trabalhando nessas prescrições “gratuitas”.
Cumprir Abril com Paulo de Carvalho, insuspeito, que diz que se perdeu a revolução na cultura e que se achamos que vivemos em liberdade e democracia, e se acham que sim pois continuem.
Cumprir Abril com alguns dos militares, que não de Abril, a insinuarem a possibilidade de um movimento qualquer e a reviverem o fantasma desagradável de Abril ter sido também muito para aumentar os ordenados deles.
Cumprir Abril organizando comícios religiosos como Salazar, só que em vez de ser para Fátima (como o botas organizava com o amigo Cerejeira para dar alento religioso ao povo) é mesmo para Lisboa, custando 65 milhões de euros ao Estado e dão lucro de 20 milhões, mas que ficam do lado religioso, e, coisa boa, boa mesmo, dão indulgências que tiram multas e devolvem cartas de condução. Basta o infrator confessar-se, sim sr. Padre, perdoe-me este excessozinho.
Cumprir Abril cortando milhares de sobreiros e outras árvores, algumas de antes do 25 de Abril, para estrangeiros instalarem milhares de hectares de lindos painéis solares, cuja energia, provavelmente, vai lá dar à terra deles pelos nossos cabos, como os ingleses fizeram com Marrocos, mas estes alugam deserto não criam deserto como nós.
Cumprir Abril com o TGV, entregue aos mesmos chantagistas que enchem as estações da CP com portugueses pobres e com imigrantes a chorar, porque nem podem pagar os transportes alternativos para os seus “trabalhos” (que aquelas administrações cúmplices dos “sindicatos” deixaram sequer de tentar montar como garantia de cidadania por troca do monopólio nojento que tem).
Cumprir Abril com o Novo Banco a dar 750 milhões de lucro e os outros também, sem tratarem ou serem obrigados a indemnizar toda aquela gente que ficou sem as suas poupanças.
Cumprir Abril em que, antes do 25, os jovens fugiam de Portugal para escapar à guerra e aos salários baixos para a vida; agora não há guerra, ainda, mas os militares sonham com ela, principalmente com as guerrinhas principescamente pagas da ONUzinha e querem o famigerado SMO para terem escravos baratos, novamente, mas os jovens continuam a fugir e aos milhares .
Cumprir Abril aí sim de verdade com a principal e fundamental conquista do 25 de Abril, que é aquilo que diferencia o que chamamos democracias, como as europeias, felizmente ainda muitas pelo mundo fora; do lixo como a Rússia soviética, Venezuela, Cuba e montes de outros e é a capacidade e a certeza de que, de 4 em 4 anos, podemos varrer o lixo político que nos tiver desagradado para a lixeira, que muitas vezes merece sem que possam dar um pio ou ensaiar ficar à força .
Cada bocado deste triste texto saiu inspirado de jornais e documentos oficiais (deviam ter vergonha) e não só.
Se se sentiu ofendido nas suas crenças sobre o pós 25 de Abril, pois eu também, mas a culpa não é do 25 de Abril e da boa vontade dos seus executantes, é nossa, que não aproveitamos a oportunidade para criar um Portugal mais igual e sem privilégios. Felizmente as boas ações do 25 de Abril que não foram poucas tiveram milhares de abonatórios voluntários de boa vontade num coro laudatório que eclipsa este breve e incompletíssimo intervalo.
João Paim Vieira