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Como eu vi e gostei da ilha de São Jorge (2008-2016) Parte 3

As Calamidades em São Jorge

Sempre assolado por inúmera atividade vulcânica, pirataria e maus anos agrícolas (a fome causou mais vítimas que os terramotos), a ilha de São Jorge sofreu as maiores crises:
1580 — Erupção do vulcão da Queimada. Na noite de 28 de abril a terra tremeu 30 vezes e 50 no dia seguinte. A 1 de maio os tremores recrudesceram e ocorreu uma explosão vulcânica no cimo da encosta sobranceira à Queimada e outra no alto da Ribeira do Nabo, 2 km a leste da inicial com emissão de lavas junto à Ribeira do Almeida. A erupção durou 4 meses com correntes de lava que atingiram o mar e muitas cinzas que recobriram a ilha, atingindo a Terceira. Uma nuvem ardente matou pelo menos 10 pessoas. Mais de 4000 cabeças de gado pereceram de fome e devido aos gases e cinzas.
1593 — Mau ano agrícola – fome na Terceira e S. Jorge, causou miséria e fome generalizada entre a população. Há notícia de terem morrido muitas pessoas de fome.
1606 — Inundações nas Velas. Em fevereiro grandes chuvadas provocaram grandes danos na vila e as ruas ficaram “de modo que se não podia andar a pé”.
1641 — Grande enchente de mar (maremoto?) nas Velas. A 21 de dezembro “empolgou-se o mar de tal sorte que dominando o Monte dos Fachos, com três mares” provocou grande destruição na vila, ferindo 50 pessoas e arrastando ao mar muitos bens. Terá sido um maremoto?
1668 — Tempestade – grandes prejuízos na Calheta. A 23 de novembro uma tempestade provocou “tal alteração de mar que este entrou pela dita vila derrubando casas” e obstruindo o porto com penedia.
1678 — Falta de cereais – Causa desaguisado entre as Câmaras – Mais uma vez um mau ano agrícola torna escassos os cereais e as câmaras de São Jorge e Pico se vêm na necessidade de proibir a sua exportação.
1713 — Inundações na vila de Velas. – A 10 de dezembro, chuvas muito intensas entre a Urzelina e os Rosais provocaram inundações, destruindo 27 casas nas Velas. A Ribeira do Almeida veio tão carregada de caudal sólido que criou uma praia que permitia a passagem a pé entre a vila e a Queimada.
1713-1714 — Mau ano agrícola, fome e peste, a que não foi alheio ciclone tropical de 25 setembro 1713, levou a que fosse tal “a falta de mantimentos que chegou a morrer muita gente de fome”.
1732 — Cheias provocam 5 mortos. A 6 de dezembro grandes cheias provocaram destruição matando 5 pessoas. Os mais afetados foram Urzelina, Figueiras, Serroa e Velas.
1744-1746 — Mau ano agrícola – Fome e emigração em massa em resultado das cheias de 1744 e do mau ano agrícola que se seguiu, em 1746 faltaram os cereais, havendo fome generalizada, o povo emigrou para as mais ilhas. Em resultado da desnutrição grassavam as doenças, fazendo grande mortandade. Face a esta situação, por alvará régio foi autorizada a emigração para o Brasil, tendo partido pelo menos 1600 pessoas.
1755 — Maremoto – O Terramoto de Lisboa de 1 de novembro de 1755 provocou o grande maremoto de 1755 (tsunami) que atravessou a área oceânica, afetando as costas viradas a sul e sueste, direção de onde as ondas se aproximaram. O maremoto fez com que “estando o mar em ordinária tranquilidade, se elevou tanto em três contínuas marés ficando quase seca a sua profundidade por largo espaço”. Em Angra o mar entrou até à Praça Velha, causando grande destruição; no Porto Judeu o mar subiu “10 palmos acima da rocha mais alta”; na Praia, inundou o Paul e derribou 15 casas na costa até à Ribeira Seca, incluindo a ermida do Porto Martins. Morreram várias pessoas arrastadas pelo mar. Quase todos os portos dos Açores sofreram graves danos, ficando destruídas muitas embarcações. Em Ponta Delgada o mar subiu pelas ruas estragando muitos edifícios. Na Horta, o mar entrou pela Ribeira da Conceição, chegando aos moinhos “na altura de 8 palmos”.
1757 — Grande terramoto de São Jorge: O Mandado de Deus em 9 de julho, um dos mais violentos, senão o mais violento, dos terramotos de que há memória causando destruição generalizada e formando muitas das atuais fajãs, como a da Caldeira do Santo Cristo. O terramoto ficou conhecido na tradição popular pelo Mandado de Deus. Dos grandes deslizamentos resultou um maremoto que atingiu todo o Grupo Central. Pelo menos 1053 pessoas morreram em São Jorge e 11 no Pico. O terramoto foi tal que a norte da ilha, a 100 braças, se levantaram dezoito ilhotas, todas na manhã do dia 10 [de julho]. É navegável o mar entre as ditas, e a ilha. Nas Fajãs dos Vimes, São João e Cubres, se moveu a terra, voltando-se do centro para cima, de sorte que nelas não há sinal [de] onde houvesse edifício. No Faial o sismo foi sentido sem danos.
1792 — Enchente de mar vila de Velas. – A 23 de janeiro, foi “tão impetuosa a bravura do mar” que derrubou a muralha de proteção, destruiu uma casa e danificou outras, até à praça defronte da Matriz de Velas.
1808 — Erupção do Vulcão da Urzelina. – Depois de semanas com muitos sismos, no dia 1 de maio a terra tremeu tão frequentemente que se contavam oito tremores por hora, tão fortes que espalharam o pânico entre a população. Pelo meio-dia foi ouvido um grande estrondo acompanhado pelo aparecimento de uma grande nuvem de fumo nos montes sobranceiros à Urzelina. A nuvem engrossou e subindo ao mais alto céu fez arco sobre Manadas e Urzelina… mostrando nas redobradas e negras nuvens uns incumbrados montes, umas medonhas furnas. A erupção destruiu casas, vinhedos e campos cultivados. Existe no Arquivo Histórico Ultramarino uma aguarela mostrando a erupção vista do Faial e ficou conhecida pelo Vulcão da Urzelina.
1812 — Mau ano agrícola – grave crise alimentar em São Jorge e Terceira por mau ano agrícola em 1811, agravado por uma forte tempestade em dezembro, levou a que no início de 1812 grassasse a fome em São Jorge. Em março na Câmara Municipal de Velas recebeu-se uma proposta de importação de milho para “sublevar a misérrima necessidade e falta de mantimentos que atualmente padece o povo”.
1842 — Cheia – grandes danos nas Velas. No domingo da Trindade grandes chuvadas provocaram inundação. Na praça junto à Câmara a enxurrada foi tal que das casas saiu a “água pelas janelas de sacada”.
1846-1847 — Fome. – Um mau ano agrícola, associado à grande densidade populacional, leva à “penúria de cereais e falta de batata” sendo necessário recorrer à “Comissão de Socorros de Boca” de São Miguel para evitar a catástrofe alimentar.
1856 — Mar invade a vila de Velas – Provoca naufrágio. A 6 de janeiro, Dia de Reis, “levantou-se o mar com tal fúria que produziu uma terrível enchente”. A escuna Leonor que estava surta no porto naufragou provocando a morte a todos os tripulantes a bordo. O mar levou casas e barcos e galgou a Conceição, chegando às paredes da cerca do convento de São Francisco (hoje Centro de Saúde), que parcialmente derribou.
1857-1859 — Fome. – Um ciclone tropical atingiu o Grupo Central no dia 24 de agosto de 1857 provocando a destruição total dos milharais, a principal produção alimentar. Daí resultou penúria generalizada, e no início de 1858 “estava no concelho de Velas, toda a ilha, e vizinhas, manifestada a fome com suas negras cores”. Os anos seguintes foram também maus anos agrícolas pelo que a crise alimentar se manteve até 1859. Foi preciso recorrer a subscrições públicas, incluindo uma nos EUA, organizada pela família Dabney, para evitar que se morresse à fome.
1877 — Fome. – Um mau ano agrícola em 1876, associado à grande densidade populacional, leva, mais uma vez, à “falta de cereais e fome” em São Jorge, sendo necessário recorrer à importação de milho e trigo para evitar a catástrofe alimentar.
1893 — Furacão – Provoca grande destruição no Grupo Central – A 28 de agosto a maior tempestade de que há memória, provocando grande enchente de mar e arruinando casas, igrejas e palheiros. Também os portos foram severamente atingidos com perda de muitas embarcações. A destruição dos milhos nos campos causou fome generalizada no ano seguinte. São Jorge foi severamente atingida, particularmente o Topo.
1899 — Grande enchente de mar. – Na madrugada de 3 de fevereiro, uma grande tempestade marítima atingiu as costas viradas a sul. Em São Jorge, o mar galgou a terra matando uma pessoa nas Velas e provocando enorme destruição na Conceição e zonas adjacentes.
1899 — Furacão – A 17 de outubro um furacão atravessou o Grupo Central provocando destruição generalizada das habitações e perda de colheitas e de gados. Em S. Jorge verificaram-se os maiores danos.
1964 — Crise dos Rosais – Uma crise sísmica abalou a parte oeste de São Jorge, provocando grande destruição nos Rosais e nas Velas. Ficaram danificadas mais de 900 casas e 400 destruídas. Espalhou-se o pânico na ilha, levando à evacuação de grande número de jorgenses para a Terceira e outras ilhas. Esta crise esteve associada a uma erupção submarina ao largo da Ponta dos Rosais.
1973 – Crise sísmica – A partir de 11 de outubro foram sentidos numerosos sismos no Pico, Faial e S. Jorge.
1980 – Terramoto de 1980 nas ilhas Terceira, São Jorge e Graciosa – Pelas 16h42 (hora local) do dia 1 de janeiro de 1980, ocorreu um sismo com intensidade 7.2 na escala de Richter, uma profundidade hipocentral de 10-15 km e com epicentro situado no mar cerca de 35 km a SSW de Angra do Heroísmo. Provocou destruição generalizada dos edifícios na cidade de Angra do Heroísmo, na vila de São Sebastião e nas freguesias do W e NW da Terceira, nas freguesias do Topo e Santo Antão, em São Jorge, e ainda no Carapacho e Luz, Graciosa. Morreram 71 pessoas (51 na Terceira e 20 em São Jorge) e ficaram mais de 400 com ferimentos. Ficaram danificadas mais de 15 500 casas, causando cerca de 15 000 desalojados.
1998 — Sismo de 9 de julho, Faial, Pico e S. Jorge – Pelas 5:19 da madrugada um sismo de magnitude 5,6 na escala de Richter com epicentro a NNE do Faial provocou destruição generalizada das freguesias de Ribeirinha, Pedro Miguel, Salão e Cedros no Faial e fortes danos em Castelo Branco (Lombega), Flamengos e Praia do Almoxarife, Faial. Também atingidas localidades do Pico. No extremo de S. Jorge (Rosais) provocou grandes desabamentos de falésias costeiras. Morreram 8 pessoas, no Faial, desalojadas 1700 pessoas.

Chrys Chrystello*

*Jornalista, Membro Honorário Vitalício nº 297713

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