O professor Onésimo Almeida, natural do Pico da Pedra, ilha de S. Miguel, colaborador deste jornal, deu a sua última aula na Universidade de Brown, em Providence, nos EUA, onde lecciona há várias dezenas de anos.
Reputado professor naquela universidade americana, escritor, filósofo e historiador, Onésimo Almeida é doutorado em Filosofia pela Universidade onde lecciona.
Frequentou o Seminário de Angra e em 1972 emigrou para os EUA.
Ainda enquanto aluno de pós-graduação na Brown University, começou a leccionar no Centro de Estudos Portugueses e Brasileiros dessa mesma universidade, que ajudou a criar. Em 1981 foi nomeado assistente nesse Centro; em 1987, promovido a professor associado; em 1991, a professor catedrático.
O Centro entretanto passou a Departamento e foi dele seu Director de 1991-2003.
É Fellow do Wayland Collegium for Liberal Learning, um Instituto de Estudos Interdisciplinares na Brown University, onde lecciona uma cadeira sobre Valores e Mundividências. Lecciona também no Center for Early Modern Studies, da mesma universidade.
Na Segunda-feira deu a sua última aula na Brown, sendo “uma aula como qualquer outra”, como ele próprio descreveu, uma vez que nos EUA não existe a tradicional “última lição”.
Mesmo assim, familiares e amigos, alguns vindos de longe, fizeram questão de assistir.
A última aula do seu University Course foi uma aula diferente.
Ele próprio explica: “Lecciono esse curso desde 1982. Os denominados University Courses destinam-se a alunos do 4º ano de licenciatura (no seu último semestre) e são cursos interdisciplinares destinados a tratar de temáticas transversais não pertencentes a um departamento em especial. Os alunos provêm de todas as áreas, desde a Matemática, a Informática e a Filosofia e Humanidades até à Economia, as Clássicas, a Engenharia e a Biologia. O curso intitula-se “The Shaping of Worldviews” (A Formação das Mundividências) e começa por ser um curso de Filosofia das Ciências Sociais, mas acaba num de Ética. A ideia central é examinar como chegámos à mundividência da modernidade (daí lermos Nietzsche, Marx, Max Weber, Piaget, Kant, Hume, Hobbes, Darwin, Rawls, e outros – um total de 12 livros) interrogando-nos depois sobre a possibilidade de se encontrar um núcleo duro de valores éticos universalmente aplicáveis”.
“Esse exercício ao longo de quase 40 aulas é todo empírico-racional, todavia vai passo a passo deixando claro que a ciência apenas estuda a realidade mas não explica o porquê dela nem nos diz como a vida deve ser vivida. Por outro lado, a razão só cobre um reduzido espaço da nossa mundividência e das nossas vidas. Ela pode ser usada na análise dos valores éticos e estéticos, todavia não os explica. O domínio das emoções pode ser pensado pela razão, contudo não é explicado por ela. Existe uma enorme espaço da vida humana que escapa à compreensão da ciência e da razão. Analisamos esse universo na segunda parte do curso quando passamos do domínio do empírico-racional para a esfera dos valores (que englobam a ética e a estética) e em que buscamos um conjunto de regras que possam servir de guia nas escolhas que inevitavelmente fazemos na vida. No fundo é o que a Ética tem procurado desde os clássicos gregos e prossegue ainda hoje, se bem que num contexto moderno”, explica ainda.
E conclui: “Durante o semestre, o normal é dialogarmos sobre as leituras requeridas para cada aula.
No último dia, porém, coloco de lado a perspectiva empírico-racional em cujo paradigma o curso está estruturado e deixo também a filosofia na sua vertente lógica para falar numa linguagem filosófica no sentido etimológico de “amor da sabedoria”.
Isto é, falo como um ser humano com alguma experiência dirigindo-se a jovens que vão começar a sua vida fora da universidade”.
Autor de dezenas de livros, fundador da revista Gávea-Brown, tem centenas de dissertações em diversas publicações, é colaborador assíduo da imprensa luso-americana e portuguesa e tem um programa televisivo no Portuguese Channel.
Pertence a várias organizações americanas e portuguesas, tendo recebido um doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Aveiro e outro pela Universidade Lusófona, foi agraciado com o grau de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique, recebeu a Grã-Cruz da mesma Ordem e é sócio correspondente da Classe de Letras da Academia das Ciências de Lisboa.
Em 2019, o Presidente da República nomeou-o Presidente da Comissão de Honra do Dia de Portugal e nessa qualidade, foi o orador oficial nas celebrações do 10 de Junho, em Ponta Delgada.
Em 2021 a Câmara Municipal de Ponta Delgada nomeou-o Presidente da Comissão de Honra da candidatura de Ponta Delgada a Capital Europeia da Cultura-2027. Em 2023 recebeu da Brown University a cátedra-prémio Royce Family Professorship for Teaching Excellence.
Possui casa em S. Miguel, onde passa o Verão com a sua esposa, e a Casa do Povo do Pico da Pedra atribuiu o seu nome à Biblioteca daquela freguesia.
O Diário dos Açores deseja longa vida ao nosso estimado colaborador.