O presidente do Sindicato dos Professores da Região Açores (SPRA), António Lucas, advertiu que o uso excessivo de telemóveis entre as crianças com idade escolar, está a provocar problemas de socialização.
“É normal vermos os miúdos, do 1º, do 2º e do 3º ciclo do ensino básico, nos corredores das escolas, sentados no chão, e de telemóveis na mão”, explicou o sindicalista na Comissão de Assuntos Sociais da Assembleia Regional.
Na audição parlamentar, realizada na ilha Terceira, António Lucas acrescentou que os alunos “passam demasiado tempo” nos tablets e nos telemóveis, e “os pais não têm noção da falta de socialização” que isso provoca.
O presidente do SPRA, que foi auscultado a propósito de uma proposta do Bloco de Esquerda, que pretende reduzir o uso de ecrãs nos recreios das escolas dos Açores, lembrou que a influência das aplicações de telemóveis, com origem no Brasil, por exemplo, está a alterar a forma como as crianças falam.
“Nós hoje temos um número significativo de crianças no ensino pré-escolar que, apesar de terem pais portugueses, falam brasileiro”, exemplificou António Lucas, provocando alguns risos entre os deputados ao parlamento açoriano, que se encontravam na comissão.
Segundo explicou, o uso excessivo de telemóveis ou tablets nas escolas provoca também inércia junto dos estudantes e até aversão a algumas disciplinas, dando como exemplo a Educação Física, que se tornou numa “disciplina problemática para os alunos”.
“Isso demonstra a questão da inatividade dos alunos”, alertou o sindicalista, lamentando que a Educação Física, que antigamente era uma das disciplinas preferidas da maioria dos alunos, se tenha transformado, entretanto, “num papão, como a Matemática”.
Por tudo isto, António Lucas disse concordar com a proposta do BE, de reduzir o uso de ecrãs nos recreios das escolas e sugeriu mesmo que a medida abrangesse os alunos do 3º ciclo do ensino básico, além dos alunos do 1º e do 2º ciclos, que figuram na resolução dos bloquistas.
O Bloco de Esquerda defende também a restrição do uso de manuais digitais, seguindo o exemplo dos países nórdicos (os primeiros a verificar os malefícios das novas tecnologias na aprendizagem das crianças), mas, nesta matéria, o SPRA tem outro entendimento.
“O manual, quer seja em papel, quer seja em formato digital, é apenas uma linha orientadora! Tudo o resto, o professor deve enriquecer o melhor que souber e puder”, justificou António Lucas, defendendo que o uso dos manuais digitais deve depender de cada docente.
De acordo com os dados recolhidos pelo SPRA, a maioria das participações feitas pelos professores, sobre o comportamento dos alunos, está relacionado com o uso indevido dos telemóveis nas salas de aula.