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Estradas e risco de derrocadas

A Ilha do Pico está cheia de gente.
Diariamente, um notável movimento aéreo contribui para o crescimento de 8,7% do número de passageiros registado em julho, relativamente ao mês anterior. Este fluxo de gente, sobretudo estrangeira, reflete-se no tráfego viário.
É certo que a maioria dos visitantes tem preferência pelos percursos pedestres, pela observação de cetáceos e pela subida da Montanha mais alta de Portugal, mas centenas de pessoas recorrem aos “rent-a-car” e as viaturas circulam em volta da ilha por trajetos que não oferecem segurança, como é fácil verificar pelos sinais de perigo de derrocadas, pela falta de sinalização horizontal e sobretudo pelo abandono a que votaram as bermas e o corte do arvoredo.
Quem andou pelo norte de Angola, facilmente compara alguns troços às estradas do café, tal a exuberância desmedida da vegetação e da floresta que cresce de ano para ano sem controlo.
Exemplos flagrantes são os troços entre a Ribeira Seca e o Ramal de Santa Cruz das Ribeiras, no sul e o troço entre a entrada para o ramal da Terra Alta e o Miradouro, no norte. Nesses percursos há o perigo iminente de derrocadas de taludes provocadas pelo crescimento incontrolado do arvoredo. Noutros, como na Prainha do Norte, está a proceder-se, lentamente, à desmatação.
Temo que, no inverno, a força do vento e os terrenos alagados cedam à pressão dos elementos e as escarpas se desintegrem.
Na estrada transversal que liga as Lajes a São Roque, por onde passa um apreciável número de viaturas ligeiras e pesadas, é praticamente impossível andar a pé. As bermas estão tomadas pela vegetação e o que podia constituir um percurso pedonal muito interessante e ameno só é frequentemente utilizado para mudança de gado do mato e para o transito de viaturas. Estas, porém, também não têm a vida facilitada no acesso à Casa da Montanha. O caminho carece de um piso compatível com a crescente frequência de visitantes. A reclamação já foi feita, mas, incompreensivelmente, as entidades competentes fazem ouvidos de mercador.
O que sucede é que à volta da ilha, existem outros troços de estrada com bermas largas e bem cuidadas, que dá gosto ver.
A zona leste da ilha, porém, está, há muito, votada ao esquecimento e os que lá vivem sentem-se discriminados. Esta convicção, infelizmente, não os mobiliza para quaisquer protestos públicos.
O mesmo sucede com os responsáveis locais e os deputados regionais eleitos.
Nota-se uma inércia, uma acomodação, um alheamento, um “seja o que Deus quiser” constantes e preocupantes, contrários à participação cívica e democrática na causa comum e na construção de um futuro coletivo melhor.
Há um ano, dei conta do desabamento de um enorme pedregulho do talude do lado da terra, no troço de estrada entre as Pontas Negras e o Ramal de Santa Cruz. Foi no domingo do Espírito Santo. O inerte ainda se encontra na berma contrária, como se nada tivesse acontecido.
Os serviços competentes apenas colocaram blocos de proteção, mas o perigo de desabamento mantém-se e agrava-se, certamente.
Que recomendações fez o Laboratório Regional de Engenharia Civil? Será que estudou a situação e emitiu algum parecer? Se o fez ficou no segredo dos deuses, como é usual. Mas pelos sinais de aviso, a situação é de perigo e pode repetir-se com consequências imprevisíveis. Ali e noutros locais (ver foto).
Não me parece que a entidade regional e os deputados eleitos tenham dado muito atenção à situação. Eu por mim, sempre que por lá passo, desvio-me, por precaução e se me é possível, para a faixa contrária da estrada.
Tendo em conta a dotação do Plano Regional de 2024 destinada à Beneficiação e Pavimentação de estradas regionais (9.15.7(A0045) – 255 mil euros, inferior à verba atribuída ao Faial 350 mil e um pouco mais do que a Graciosa (244 mil), desconfio que tudo ficará como está. O melhor é rezar à Senhora da Boa Viagem que proteja os caminhantes…
Também não é de prever que a sinalização horizontal e vertical em zonas de nevoeiro seja reposta, pois o Governo prevê gastar nas estradas de todo o arquipélago apenas 300 mil euros. Eventualmente, para poder fazer face às despesas com a “Requalificação da Casa do Diretor do Aeroporto de Santa Maria” orçadas em 1.358.596 euros (9.16.2(A0090)…
As estradas são vias essenciais de comunicação e mobilidade, pois libertam as populações do isolamento em que durante anos e anos se encontraram, o qual moldou a sua cultura, os modos de falar e de ser, a que vulgarmente se designa por Identidade.
Tudo o que se fizer aos residentes, nos domínios da economia, da saúde, da educação e do bem-estar social, refletir-se-á, necessariamente, na melhoria das condições dos visitantes, durante três ou quatro meses por ano.
É por isso que me interrogo, se o investimento previsto para o corrente ano no montante de 4.350.000 euros em “Circuitos logísticos terrestres” irá também beneficiar a população residente, ou se advém de dotações de programas ambientais da UE que a Secretaria Regional do Ambiente gasta com percursos pedestres e pedonais. Se esta é a resposta correta, então, inclua-se a resolução dos perigos viários nos efeitos das alterações climáticas e ambientais e proteja-se a vida de todos.
Não se aguarde por estudos sobre riscos e alterações climáticas ( 770. 666 euros) contemplados no Plano do ano corrente, pois os efeitos estão à vista e carecem de solução imediata do Governo, todo ele solidariamente responsável pelos problemas que inevitavelmente surgem.

José Gabriel Ávila*
*Jornalista c.p.239 A
http://escritemdia.blogspot.com

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