No discurso político contemporâneo, a prevalência da mentira e da desinformação causa um desassossego de que nos apercebemos no bate-papo ocasional e no ruído da comunicação social. As pessoas inquirem se um perigo iminente para a sua liberdade se revela no caráter poluído de alguns chefes de governo e de aspirantes problemáticos à liderança da segurança planetária. Numa dimensão internacional, as esquerdas radicais e os partidos da direita reacionária fizeram da falsidade uma característica da luta pelo poder e predominância económica. As dinâmicas deste choque, que transcende nas suas implicações as diferenças ideológicas, sobressaem na origem do recurso aos meios violentos e o abandono do conceito e operacionalidade do Estado de Direito. Nos Estados Unidos, que se supõem um modelo para o Mundo, esta situação assumiu proporções escandalosas.
Este fenómeno erode a confiança entre o governo e a população, constituindo uma ameaça aos próprios fundamentos da democracia. Põe em perigo a estabilidade do tecido social e a transparência funcional das instituições representativas do povo. Recentemente, J. D. Vance, o candidato republicano a vice-presidente da República Federal dos Estados Unidos, pretendeu legitimar as inverdades sistemáticas de que ele e Donald Trump são apontados em alegações comprovadas na evidência postada nos meios audiovisuais dos mídia. Defendeu, assim, a deceção como elemento justificável no discurso eleitoral como se referisse às chamadas «mentiras brancas» (White lies) do quotidiano social. Todavia, as mentiras brancas são inverdades inconsequentes, inofensivas ou «pequenas», que as pessoas dizem para defender o seu próprio ego, evitar ferir os sentimentos de alguém ou para se adaptarem a situações sociais sem problemas.
Em flagrante contraste com as mentiras brancas, a desinformação no discurso político é uma tentativa deliberada potenciando enganar o público para ganho pessoal ou político. Trata-se de manipular a verdade para alcançar o poder e o controlo. Muitos políticos e outras figuras influentes envolvem-se neste tipo de ludíbrio a fim de influenciarem a opinião pública, desacreditar adversários ou promover agendas específicas e ilegítimas.
A ascensão das redes sociais e a notícia ao minuto, fundadas em tecnologias nunca antes observadas no decurso da civilização, simplificam a difusão rápida das falsidades. Criaram um ambiente onde as mentiras podem com celeridade iludir a perceção pública antes que a verdade tenha a chance de se atualizar.
A democracia depende de um eleitorado informado, confiante na transparência do processo de discussão em que os intervenientes expõem as suas ideias e demonstram a competências e genuidade necessárias à formação do mapa cognitivo em que se baseia o voto responsável. Quando o embustes e torna habitual no discurso político, essa confiança produz confusão e anarquia. Fica comprometida a capacidade do público de tomar decisões apropriadas. A rutura do processo democrático quebra a legitimidade sistémica, promovendo o caos porque um eleitorado que não consegue discernir o facto da ficção é incapaz de responsabilizar os seus dirigentes.
A manipulação da informação compromete a livre troca de ideias, indispensável à democracia saudável. O debate e a discussão são impossíveis quando a verdade é obscurecida. O público é deixado à mercê da desordem que lhe impede a participação cabal, e representa uma ameaça significativa à segurança nacional. A mentira conduz à discórdia, criando divisões que incitam à violência.
A erosão da verdade no discurso político é, outrossim, uma questão moral. A honestidade e a transparência são valores fundamentais que sustentam uma sociedade justa e equitativa. Quando os líderes promovem a fraude, traem a confiança do público e minam o tecido moral da sociedade. Isso tem implicações de longo alcance, pois estabelece um precedente para as gerações futuras e molda os padrões éticos de comportamento político.
A corrosão da democracia e da segurança através de artifícios políticos é uma questão premente que requer atenção imediata. Embora as mentiras brancas possam fazer parte da vida quotidiana, a disseminação de falsidades inaceitáveis no discurso político levam a consequências muito mais graves. A desconfiança entre o governo e os seus cidadãos enfraquece os processos democráticos e representa uma ameaça incontestável para a harmonia social, o progresso económico, e a segurança nacional. Por isso é preciso exigir medidas legislativas inseparáveis do Estado de Direito no sentido de salvaguardar a integridade das instituições democráticas e garantir uma sociedade mais segura e justa para as gerações futuras.
Manuel Leal