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Mensagens come sem tarelo

“Reduzir as celebrações natalícias a meros programas cívicos e a bem sucedidos planos comerciais de aumento de vendas é desvirtuar a sacralidade da quadra e ocultar as verdadeiras razões por que se celebra o Natal de Jesus no Ocidente e noutros países onde ao longo dos séculos, se operou a Missionação cristã.”

Nesta quadra natalícia o mundo cristão assinala o nascimento de Jesus Cristo em Belém.
Esse fato histórico e a mensagem transmitida pelo Messias mudaram, de forma indelével, o pensamento e o relacionamento humanos que ainda hoje são transmitidos às gerações pelas igrejas e comunidades cristãs.
Não fora a evangelização das primitivas comunidades e a coragem em expressar a sua Fé, por vezes de forma desadequada, mas com o intuito de proclamar a mensagem de Jesus, a humanidade teria seguido outros rumos menos condicentes com a dignidade, a justiça e a solidariedade a que todos têm direito.
Reduzir as celebrações natalícias a meros programas cívicos e a bem sucedidos planos comerciais de aumento de vendas é desvirtuar a sacralidade da quadra e ocultar as verdadeiras razões por que se celebra o Natal de Jesus no Ocidente e noutros países onde ao longo dos séculos, se operou a Missionação cristã.
O mesmo se diga, sobre a utilização da quadra para desenvolver programas sociais e políticos, contrariando a mensagem de Paz, de Justiça e de fraternidade patente no Presépio.
O Papa Francisco, sempre atento à problemática das periferias e da guerra, na sua mensagem natalícia recordou os conflitos na “martirizada Ucrânia” e em Gaza “onde a situação é gravíssima”; lembrou as situações em Israel, Líbano, Síria e Chipre; em África, referiu os conflitos na República Democrática do Congo, Burkina Faso, Mali, Níger, Corno de África e em Moçambique; na Ásia as lutas em Mianmar e na América: o Haiti, a Venezuela, Colômbia, e Nicarágua. A todos os povos e nações lançou o convite a “calarem as armas e a superarem as divisões.” E foi ainda mais longe: pediu o perdão das dívidas para os países mais pobres, apelou “ao derrube de todos os muros de separação – ideológicos e físicos”, à redescoberta do “sentido da existência e da sacralidade de todas as vidas”, e à recuperação “dos valores basilares da família humana”.
Neste mesmo sentido foi a mensagem do Presidente do Governo dos Açores.
J.M.Bolieiro que distribuiu pela imprensa um anúncio/postal de Boas Festas com ele próprio em grande destaque e sem nenhum símbolo religioso, evoca na sua mensagem de Natal os fundamentos bíblicos do Natal: “O Natal é tempo de celebração da vida, que nos convida a valorizar o amor, a solidariedade, a união dos povos e a esperança.” E acrescenta:
”É também o momento para refletirmos sobre a fraternidade, que nos convoca a agir com generosidade e a cuidar uns dos outros, com a mesma ternura que desejamos a nós próprios. A verdadeira fraternidade é aquela que nos impulsiona a estender a mão ao próximo, e apoiar a quem mais precisa de nós. Este tipo de atitude fortalece os laços de solidariedade que devem orientar a nossa vivência em sociedade. A transformação do mundo começa dentro de cada um de nós. Este espírito de fraternidade, essencial à construção de uma sociedade justa, deve nortear as nossas ações e as nossas escolhas, e é, sem dúvida, o que procuramos cultivar nos Açores.”
Idêntica preocupação de defesa dos valores da solidariedade e da justiça e sem qualquer ataque a adversários políticos, teve o líder do PS Açores, Francisco César, na sua mensagem natalícia, distribuída nas redes sociais.
Em meu entender só os pressupostos evangélicos deveriam ser invocados na data celebrativa do nascimento de Jesus. Respeitando o princípio da separação de poderes entre a Igreja e o Estado – o Estado é laico! – e por se tratar de um dia evocativo da Paz e da concórdia, governantes e políticos deviam reservar para outras oportunidades a abordagem das questões que lhes dizem respeito e que sempre geram naturais dissensões e clivagens.
Não entendeu assim o Primeiro-ministro. Na sua comunicação sobre a atividade governativa, Luís Montenegro recuperou temas fracturantes da recente discussão do orçamento do Estado, relembrou a contestada política de imigração e a sua preocupação securitária, mencionou os alegados feitos do seu governo em matéria salarial, saúde, etc.
Foi um discurso de retórica vazia sobre o Estado da Nação.
Nem uma vez Montenegro mencionou o nome do aniversariante – Jesus de Nazaré. Antes frisou, acintosamente, os aniversários de Luís de Camões, de Sá Carneiro, de Mário Soares e da morte de Vasco da Gama.
Fazer da mensagem natalícia, um discurso de pendor laico e político-partidário, eivado de neoliberalismo e economicismo, teorias e práticas tão contestados pela Doutrina Social da Igreja, não tem cabimento naquele dia.
Se o objetivo é descristianizar a quadra natalícia, os Governantes e os poderosos têm de o dizer, claramente, como já o fizeram outros Estados.
Não se pode é desrespeitar a Fé de milhares de crentes, impondo-lhes um secularismo crescente e um consumismo desmedido que se aproveitam da celebração do Nascimento de Jesus só em benefício de grandes lucros e negócios.
Esse Natal não se identifica com a nossa cultura e identidade. Por isso devemos rejeitá-lo com grande vigor e quanto antes.

José Gabriel Ávila*

*Jornalista c.p.239 A
http://escritemdia.blogspot.com

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