O tema da semana: o surto de Sarampo, nos EUA
Na semana passada aconteceu a segunda morte pelo mais recente surto de sarampo nos EUA, com os casos a subirem para mais de 200.
Desta feita foi a morte de um adulto do Novo México, que ocorreu depois da de uma criança de 6 anos, pela mesma doença, no Texas, na semana anterior.
O adulto, não vacinado, não procurou qualquer ajuda médica antes da morte. O laboratório científico do departamento de saúde do Estado confirmou a presença do vírus do sarampo na pessoa.
A pessoa residia no Condado de Lea, onde já ocorreram, pelo menos, 30 casos de sarampo. O Condado de Lea fica junto à fronteira com o Condado de Gaines, Texas, onde o surto está centrado, como já aqui referi numa destas minhas crónicas. Pelo menos 7 dos indivíduos infectados não estavam vacinados.
No total, 228 casos foram reportados nos 2 Estados. As Autoridades acreditam que o número real é muito maior.
As Autoridades estaduais, seguindo as melhores práticas, não divulgaram a idade, sexo e antecedentes pessoais subjacentes. Porém, não revelaram também se o rastreio de contactos está a decorrer, para identificar outras pessoas que possam ter sido expostas a um dos vírus mais contagiosos do mundo, o que deveria ter sido feito, na minha opinião. O vírus é transmitido pelo ar, e espalha-se facilmente quando uma pessoa infectada respira, espirra ou tosse.
A morte deste adulto ocorre depois da morte, em 26 de fevereiro, no Texas, da criança de 6 anos não vacinada e saudável. Esta que foi a primeira morte por sarampo desde 2015, nos EUA.
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA está a monitorizar a situação, e em comunicação com as autoridades estaduais de saúde, e recomenda a vacinação, como a melhor protecção contra o sarampo.
O surto de sarampo representa a primeira grande crise de saúde para o Secretário da Saúde e Serviços Humanos, Robert F. Kennedy Jr.. Kennedy disse que as vacinas contra o sarampo protegem as crianças e contribuem para uma imunidade mais ampla na comunidade.
Estas mortes são uma recordação trágica da gravidade desta doença. Nos casos de sarampo, 1 em cada 5 casos requer hospitalização, e aproximadamente 1 ou 2 em cada 1000 casos resultam na morte do doente.
A homenagem da semana: ao Lar do Nordeste (e à Autoridade de Saúde local)
A Delegação de Saúde de Nordeste recebeu, no dia 3 de Março, a notificação da existência de casos de gripe A no Lar de Idosos da Santa Casa da Misericórdia do Nordeste. O Lar tem 54 residentes e, como é comum nesta época do ano, alguns apresentam sintomatologia gripal. Tal como a população em geral. Apenas 2 residentes não têm a vacinação em dia, por sua própria opção, estando os demais residentes vacinados.
Sabe-se que 4 residentes com quadro mais grave, incluindo os dois não vacinados, acabaram por ser internados no Hospital do Divino Espírito Santo.
Em articulação estreita com a Direção Técnica do Lar, as medidas de contingência foram de imediato activadas. No Lar, os residentes que apresentavam sintomatologia gripal foram isolados dos que não apresentavam qualquer sintomatologia, não devendo circular nas áreas comuns do Lar.
Os profissionais foram divididos em grupos que prestam cuidados de forma exclusiva ao grupo assintomático, ou ao grupo sintomático.
Foi determinada a utilização de equipamento de proteção individual, e a utilização de máscara passou a ser obrigatória.
Para salvaguarda dos residentes, e melhor controlo do acontecimento, as visitas à instituição foram suspensas.
A testagem de todos os utentes (segundo as melhores práticas de Saúde Pública) na última 4a feira, revelou 15 utentes positivos, todos assintomáticos ou ligeiramente sintomáticos, o que indicia que o surto se encontrava já numa fase de resolução. Testar é sempre a melhor forma de detectar casos e controlar surtos. Como se tornou popular durante a Pandemia, é a melhor forma de “ver a luz ao fundo do túnel”.
A Autoridade de Saúde Concelhia, inexcedível na sua actuação, sem hesitações, manteve constante comunicação com a Coordenação Regional de Saúde Pública e com a Autoridade de Saúde Regional, monitorizando permanentemente os acontecimentos, possibilitando assim que se tomassem de imediato as medidas necessárias em cada momento.
As autoridades de saúde locais, a realizarem um ponto de situação permanente com todos os lares, não foram notificadas de outros casos.
Os números neste evento mostram que os casos graves ocorrem com uma probabilidade 26 vezes maior nas pessoas não vacinadas, comparando com as vacinadas, sendo uma demonstração cabal da importância desta importante medida de Saúde Pública.
Vacinar salva vidas!
Mário Freitas*
- Médico, Coordenador Regional da Saúde Pública dos Açores