Eternidade Invejada
Ao longo dos dois mil anos de formação e desenvolvimento da religião chamada Cristã, a mesma tem passado por diversas e diferentes etapas, nomeadamente, Assembleias e Concílios, que a controlam e moldam no caminho desejável a cada tempo.
Sendo ela própria uma religião saída do Judaísmo, também ela se dividiu em várias, entre elas, o Catolicismo.
Por outro lado, a Arqueologia académica e científica, tem descoberto autênticos tesouros, até agora enterrados no tempo, elucidando aos poucos os grandes mistérios e incógnitas sobre a figura mais controversa e mais universal dos dois últimos milénios.
Muito embora ainda muito possa vir a ser conhecido no futuro, o certo é que novas perspetivas foram trazidas à luz da História e esta tem sido reescrita e sempre assim o será como tudo o resto.
Há registos que chegaram até nós, sobre a existência de um Joshua (Jesus), cuja morte na cruz causou transtorno ao agitado ambiente político na capital da Judeia, Jerusalém.
Yosef ben Mattityahu, mais tarde e depois de se tornar cidadão romano passou a chamar-se Tito Flávio Josefo (Flavius Josephus), historiador judaico-romano e mais conhecido apenas por Josefo, com várias obras escritas, entre elas “História dos Hebreus”, fala de um homem chamado Jesus, político judeu, rabino, que falava às multidões com grande carisma e sobre o qual, os próprios sacerdotes acusaram e incentivaram Pilatos dos problemas causados pelos Zelotes, um grupo judaico que combatia a ocupação romana da Judeia.
Parece óbvio que a presença de Jesus e a sua ação, incomodava as autoridades religiosas judaicas, contribuindo para criar muitos inimigos entre os vários grupos de judeus e até entre os sacerdotes, que eram os mandantes das leis do povo. Afrontando o poder político-judaico da altura, que se concentrava no Templo, Jesus vai a Jerusalém e causa distúrbios em toda a elite. Estes viram a oportunidade de se livrarem dele, apresentando queixa ao governador romano.
Pilatos não tinha interesse político em matar Jesus e, de facto, não via qualquer crime no homem que até defendia os interesses financeiros de Roma.
A morte deste Jesus, foi meramente acidental e política… se é que morreu mesmo.
Nos inícios do século XIX, começam a surgir estudos sobre o Jesus histórico, por descobertas arqueológicas em Israel e não só. Vários livros são publicados com novas perspetivas. Uma delas diz mesmo que Pôncio Pilatos, em combinação com José de Arimateia, senador e membro do Sinédrio, terão drogado Jesus na cruz quando lhe deram a esponja com suposto vinagre. Que essa esponja continha uma mistura de ópio, belladona e haxixe, usada para anestesiar o corpo durante cirurgias da antiga medicina. De seguida, José de Arimateia e Nicodemos, amigos de Jesus, teriam levado o corpo inconsciente de Jesus para o túmulo novo, ali perto, de José de Arimateia, na sua propriedade rodeada de jardins. Durante a noite visitaram o túmulo, levando mirra e aloés. Segundo especialistas, este composto era usado para travar a sangria provocada por feridas. Jesus teria sido salvo pelos amigos e voltado ao Egito.
Quando os romanos decidiram destruir o Templo e com a queda de Jerusalém, a resistência judaica entra pela via da luta subversiva e alguns dos seguidores do Jesus que havia desaparecido há cerca de setenta anos, bem como outros ativistas, usavam os escritos para animar as hostes revoltadas.
Apareceram muitos Messias/Cristos (Enviados do Senhor/Ungidos). Prometiam que Deus viria salvar o seu Povo Judaico daquela servidão romana e que o fim dos tempos estava próximo.
Saulo de Tarso ou Paulo, começa a pregar os ensinamentos do Cristo Messiânico, místico. Atribui à existência do Jesus, que ele (Paulo) não conheceu pessoalmente, o título de Messias (em hebraico) ou Cristo (em grego). Envia escritos a muitas comunidades primitivas da nova seita. E é ele, Paulo, o construtor do Cristo impregnado no Jesus, rabino e pregador judeu. Embora as cartas de Paulo apareçam hoje no fim dos quatro Evangelhos do Novo Testamento, elas foram escritas antes desses Evangelhos. Elas são como que a minuta, o esboço, a pedra de toque, do que viria a ser o Jesus Cristo para toda a Cristandade.
Mais tarde, um seu discípulo, Marcos, aparece como autor de uma obra sobre a vida do Messias. Com o andar dos tempos e entre o primeiro e segundo séculos da nossa era, surgem mais dois trabalhos sobre a vida de Jesus pregador, baseadas na fonte de Marcos: Lucas e Mateus. E ainda um outro, o de João, sendo este muito mais místico. O Apocalipse é prova de que João tudo fez para que Jesus fosse o tão desejado Messias. Até agora, mais de trinta obras ou evangelhos sobre Jesus foram descobertas, mas apenas quatro foram aceites. O Evangelho de Maria Madalena, por exemplo, não foi aceite pelos bispos da Igreja de Roma.
Notemos que os Evangelhos, são textos de reverência. Não são textos históricos. Qualquer defesa de uma realidade dos factos descritos, é por pura fé dos que acreditam, por isso mesmo chamados Cristãos. Podem também ter sido escritos por várias pessoas ou comunidades, dando nomes de discípulos como homenagem aos mesmos.
A organização da Igreja como instituição, acontece com um aliado improvável, com o concílio de Niceia, no ano de 325, no que é hoje Íznik na Turquia e foi impulsionado pelo imperador do império romano Constantino, que viu no rápido alastramento da nova seita cristã, um aproveitamento político ao incluí-la e oficializá-la como religião do império romano. Com este forte apadrinhamento imperial, o cristianismo tinha agora tudo para se desenvolver sem obstáculos. No leito de morte, Constantino adere ao cristianismo.
A fé com que biliões de pessoas abraçaram o Cristianismo, na sua forma mais pura, revela o desejo profundo de realização permanente da Irmandade, Igualdade, Solidariedade, que são o guião doutrinal dessa personagem mítica e mística chamada Jesus, o Cristo. As duas personagens fundiram-se numa infinita esperança e foram alteradas e transformadas no Homem-Deus que a Humanidade sempre necessitou.
José Soares*