Dizem que vivemos no futuro. Carros elétricos, inteligência artificial, robots que aspiram sozinhos… e, no supermercado, as gloriosas caixas automáticas. São apresentadas como a grande revolução: rápidas, práticas e modernas. Traduzindo para português corrente: “faça você mesmo o trabalho do funcionário e ainda sorria para a câmara de vigilância”.
Na teoria, tudo é simples: passamos os produtos, pagamos, e em poucos minutos saímos de saco na mão. Na prática, a caixa automática é uma espécie de professor severo: está sempre à procura do nosso erro.
“Coloque o artigo no tabuleiro.” — Mas já está!
“Retire o artigo do tabuleiro.” — Afinal não está.
“Chame a assistência.” — Pois claro, a modernidade não é nada sem a boa e velha funcionária que vem desbloquear a máquina.
E depois há o grande clássico: o problema da maçã. A máquina pede para identificar o produto. Aparece uma lista de 47 variedades de maçãs que nunca vimos na vida. Golden, Royal Gala, Fuji, Pink Lady… e nós só queríamos “uma maçã vermelha, normal”. Cinco minutos depois, já estamos arrependidos de não ter ido para a fila da caixa tradicional.
O mais irónico é que estas caixas automáticas supostamente aceleram o processo, mas acabam por gerar pequenas multidões de clientes confusos, a olhar para o ecrã como se fosse uma obra de arte abstrata. Resultado: criamos uma nova fila, mais tecnológica, mas fila na mesma.
No fundo, a caixa automática é como aquela promessa eleitoral que soa bem mas raramente se cumpre: rápida, moderna e eficiente… só que não. E nós, fiéis clientes, continuamos a cair na ilusão da modernidade, sempre com um saco de compras numa mão e a paciência na outra.
Carlos Pinheiro