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Susana Miranda, historiadora em Toronto – “Mulheres que emigraram para o Canadá lutaram muito e têm vida de sucesso”

Susana Paula Miranda é uma académica independente com um doutoramento em História pela Universidade de York, no Canadá.
Autora de artigos académicos sobre as Mulheres de Limpeza portuguesas em Toronto, trabalha atualmente para o Ministério da Educação do Ontário e para o Ministério dos Colégios e Universidades.
Historiadora pública, é co-fundadora do Portuguese Canadian History Project, que recolhe, preserva e divulga material relacionado com os portugueses no Canadá.
Susana Miranda traz para a nossa edição a perspetiva histórica da imigração portuguesa na Grande Área de Toronto

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Com o trabalho de investigação que desenvolveu – Portuguese cleaners working in the 1970s – o que significava emigrar nesses tempos? A procura da concretização de um “sonho” ou a luta pela sobrevivência?
A minha investigação consistiu em entrevistar mulheres que emigraram para o Canadá nas décadas de 1960 e 1970, na sua maioria oriundas de zonas rurais de Portugal, incluindo os Açores.
Vieram para o Canadá antes da revolução de 1974 e, portanto, enfrentaram uma economia fraca, poucas oportunidades de emprego e poucas oportunidades de educação para os seus filhos no seu país natal.
A decisão de emigrar foi uma decisão económica; uma estratégia familiar para melhorar a sua situação económica.
Tanto os portugueses como as portuguesas trabalharam no Canadá para encontrar a estabilidade económica que desejavam e para construir uma vida mais bem-sucedida para si e para os seus filhos no seu novo país.
Não diria que se tratou de um “sonho” – foi muito difícil para muitos destes imigrantes deixarem as suas famílias e Portugal para trás.
Foi, antes, uma decisão prática de segurança económica.

“A minha investigação consistiu em entrevistar mulheres que emigraram para o Canadá nas décadas de 1960 e 1970, na sua maioria oriundas de zonas rurais de Portugal, incluindo os Açores”

Essas pessoas conseguiram realmente integrar-se na sociedade canadiana, ou este país foi sempre encarado como um “tempo de passagem”?
Sim, estes imigrantes integraram-se na sociedade canadiana, mesmo mantendo aspetos da sua cultura portuguesa, como a língua e a comida.
Por exemplo, as mulheres que investiguei e sobre as quais escrevi no meu livro, Cleaning Up: Portuguese Women’s Fights for Labour Rights in Toronto, vieram para o Canadá com muito pouca ou nenhuma educação, nenhuma experiência com política ou sindicatos, e quase não falavam inglês.
No entanto, foram capazes de se organizar em sindicatos de limpeza e lutar pelos seus direitos laborais de uma forma que surpreendeu muitos canadianos.
A experiência de imigrante, como lidar com empregos exploradores e/ou mal pagos ou ser tratado como cidadão de segunda classe, forçou os imigrantes a reagirem às suas condições e, portanto, a integrarem-se na sociedade canadiana.
Os imigrantes portugueses não eram apenas indivíduos passivos nas suas novas casas, queriam uma vida melhor para as suas famílias e lidaram com a sociedade canadiana para o conseguir.

Sei que já nasceu no Canadá, mas do que conhece dos luso-canadianos, e lusodescendentes que vivem aqui, acha que podemos afirmar que eles são realmente leais ao Estado que os acolheu ou acolheu os seus pais?
Posso falar tanto por algumas das mulheres imigrantes portuguesas que entrevistei como pela minha própria família – elas reconhecem que o Canadá lhes proporcionou uma vida de sucesso que provavelmente não teriam tido se tivessem ficado em Portugal, particularmente nas décadas de 1960 e 1970.
Por isso, sim, estão gratos e são leais ao Canadá. Dito isto, Portugal, ou a sua cultura portuguesa, também é muito importante.
Algumas famílias luso-canadianas construíram casas em Portugal, por exemplo, e gostam de lá ir. Mas poucos “regressam” definitivamente, pois já não é o mesmo sítio de onde partiram – tanto Portugal como os próprios imigrantes mudaram.
Os luso-descendentes também construíram a sua vida no Canadá e integraram-se através do sistema escolar, por exemplo, ou casaram fora da comunidade portuguesa, sendo o Canadá a sua principal pátria.

Podemos afirmar que, de certo modo, o Canadá, um país com um nível de imigração tão elevado, se transformou num país composto por “pequenos países”?
Na minha opinião, diria que não.
É certo que o Canadá permite um espaço para celebrar culturas diferentes, como a Little Portugal ou a Little Jamaica, mas isso é bom. Enriquece a nossa sociedade.
Mas para além da primeira geração de imigrantes que se esforça por aprender a viver e a trabalhar no seu novo país, os seus filhos integram-se muito bem na sociedade.
Com o passar do tempo, os grupos de imigrantes integram-se como canadianos, embora continuem a honrar a sua herança imigrante.

“Muitos dos principais imigrantes portugueses trabalhavam em empregos exploradores ou mesmo perigosos que exigiam deles mais do que seria aceitável, ou mesmo legal, hoje em dia. Felizmente as leis laborais mudaram, tanto em Portugal como no Canadá, e penso que os imigrantes recentes estão mais concientes dos seus direitos”

É verdade que o emigrante de hoje tem uma forma diferente de gerir a vida, nomeadamente o seu tempo de trabalho? Ou seja, a frase que tantas vezes se ouve “agora, quem vem não trabalha como se trabalhava antes” faz sentido?
Não tenho a certeza de afirmar que a ética do trabalho tenha mudado, mas a sociedade mudou.
Muitos dos primeiros imigrantes portugueses trabalhavam em empregos exploradores ou mesmo perigosos que exigiam deles mais do que seria aceitável, ou mesmo legal, hoje em dia.
De facto, há muitas histórias de homens portugueses mortos ou feridos nos seus locais de trabalho. Felizmente, as leis laborais mudaram, tanto em Portugal como no Canadá, e penso que os imigrantes recentes estão mais conscientes dos seus direitos no local de trabalho quando chegam.
Penso que agora têm a capacidade de fazer escolhas diferentes das dos primeiros imigrantes que vieram para o Canadá.

Milénio Stadium/Diário dos Açores

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