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Provas de que é o caos que nos (des)governa: evidência nº 1 – A adolescência

A adolescência é aquela fase da vida em que o corpo pede liberdade, o cérebro quer dormir até ao meio-dia (ou mais), e os pais só querem perceber o significado dos diferentes grunhidos emitidos pelas outrora fofas criaturas que acolheram no mundo. Aconteceu uma avalanche de transformações psicológicas, emocionais e cognitivas. Na verdade, toda a gente está à espera disto. Anos de cultura cinematográfica, televisiva e até literária têm explorado, muitas vezes bem, mais esta maravilhosa fase do desenvolvimento humano.
Sob o ponto de vista psicológico, a adolescência é marcada pela construção da identidade. Erik Erikson, à boa maneira psicanalítica, atirou o barro à parede e chamou a este período “crise de identidade versus confusão de papéis”. O adolescente pergunta-se coisas acerca das quais provavelmente nunca terá respostas definitivas, mas aprenderá a viver com isso. Frequentemente, responde com “não sei”, “deixa-me em paz” esentirá que “ninguém me compreende”.
Aparentemente os adolescentes corporizam um mar revolto em mudança de maré. Daniel Siegel, neuropsiquiatra e autor do livro Brainstorm, explica que a adolescência não é uma fase de loucura, mas sim de reconstrução cerebral criativa (aceitemos os nossos “Picassos”). O cérebro está a redefinir ligações, especialmente entre o sistema límbico (processador de emoções) e o córtex pré-frontal (última app a ser instalada para vida plena enquanto humano). Como esta app é a última a ser instalada, as variações de humor, chamemos-lhe assim porque pode haver adolescentes a ler isto, são mais frequentes e intensas. É lidar… Tudo se vive de forma mais acentuada, enquanto as decisões ponderadas e os impulsos se envolvem em batalhas onde os últimos tendem a ganhar. Trata-se de aprendizagem, amadurecimento e afinação emocional.
B.F. Skinnerexpôs com clareza muito do nosso comportamento como sendo moldado por recompensas e consequências. Na adolescência isso nota-se bem: os jovens procuram constantemente validação, seja através de likes, estatutos sociais ou liberdade concedida. O sistema de recompensas do cérebro está hiperativo e o dia a dia familiar é uma negociata permanente parecida com as da loja de penhores: “a melhor oferta que consigo é levantar-me às 11:55, mas sem arrumar a roupa”. Recompensas imediatas superam facilmente responsabilidades futuras (até nos adultos isso acontece, concordam?). Isto explica algumas decisões… questionáveis.
Bandura, por sua vez, destacou o papel da aprendizagem social. Segundo ele, os adolescentes aprendem por observação: imitam comportamentos dos pares, das figuras públicas, dos influencers ou de qualquer pessoa que pareça “ter tudo sob controlo”. E sim, isso inclui sotaques novos, gírias importadas, ou modas passageiras que mudam todas as semanas.
Lev Vygotsky , nas suas aturadas investigações, concluiu ainda que o desenvolvimento cognitivo não acontece no vazio — ele depende das interações sociais e culturais. O que significa que os adolescentes estão constantemente a construir a sua forma de pensar com base no ambiente em que se inserem. A influência dos amigos, das redes sociais e até dos professores pode ser tão determinante como a dos pais. Ou mais, dependendo do dia.
Claro que nem tudo são crises. A adolescência é também uma fase de enorme criatividade, energia e descoberta. Mas sim, é turbulenta. Para quem a vive e para quem a testemunha de fora. É como fazer malabarismo com granadas emocionais — de olhos vendados.
A boa notícia? Passa. A má? Pode demorar. Mas com escuta ativa, paciência, empatia, compaixão e uma pitada de bom humor, atravessa-se esta etapa com tropeções inevitáveis, mas também com histórias para rir no futuro.
Fique bem, pela sua saúde e a de todos os açorianos!
Um conselho da Delegação Regional dos Açores da Ordem dos Psicólogos Portugueses.

Pedro Pereira*

*Psicólogo

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