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Um mau exemplo dos partidos

As listas de candidatos a deputados às eleições regionais de 4 de fevereiro não trazem nada de novo, a não ser a péssima decisão de incluir autarcas que ainda não terminaram os seus mandatos.
Esta atitude é um mau exemplo que descredibiliza, ainda mais, a já pouca confiança que os cidadãos têm nos partidos e nos políticos.
Os dois maiores partidos, ao incluírem nas suas listas Presidentes de Câmaras com o mandato por terminar, estão a transmitir um sinal contrário ao eleitorado dos respectivos concelhos, com a agravante de alguns deles, ainda há pouco tempo, terem garantido que iam assumir o cargo até ao fim do mandato.
Daqui para a frente, como é que um eleitor vai acreditar que um autarca está a ser sério ao assumir o mandato no seu município?
Como é que não há-de ser interpretado como um mero trampolim para deixar a meio o mandato e assumir outros cargos?
Pior, ainda, é quando estão em situação de não se poderem recandidatar, pelo que a “transferência” é vista pelos cidadãos, legitimamente, como a procura de um lugar para segurar a carreira política.
Esta espécie de “porta giratória” é a prova de que alguns políticos colocam os seus interesses pessoais e políticos acima dos interesses das suas populações, desacreditando a classe política e o rigor ético que deve estar à frente de todas as prioridades.
Já não bastavam as candidaturas de Presidentes de Juntas de Freguesia, que podem assumir as duas funções, um precedente estranho que não pode ser aplicado, por exemplo, a um presidente de uma associação de bombeiros. Isto faz sentido?
O PS apresenta-se com dois Presidentes de Câmara, uma gravidade a duplicar, enquanto a coligação apresenta um, que não deixa de ser um mau exemplo.
O caso de Cristina Calisto até pode ser compreensível na estratégia do PS, porque indo em segundo lugar, a seguir a Vasco Cordeiro, deverá significar que este está a preparar a sua sucessão, mas não deixa de ser um sinal negativo para quem poderá vir a liderar um partido, começando por trair os seus eleitores concelhios, e outro sinal de fraqueza para o seu líder.
A história diz que estas “portas giratórias”, mal explicadas e com selo de ruptura mandatária, não são bem vistas pelo eleitorado. É só ver o que se passou com Berta Cabral.
De resto, o que se vê nas listas de candidatos é um apego aos homens e mulheres do aparelho, uma espécie de pagamento aos que dão o rosto pelo partido e lambuzam o líder. Muitos deles nem conseguem ganhar eleições nas suas freguesias!
Por outro lado, não há nomes sonantes da área independente, comprovando que a oligarquia partidária quer mesmo travar a cidadania.
Já não bastava a vergonhosa “Reforma da Autonomia”, encalhada há vários anos no parlamento, porque os partidos não querem reformar nada e muito menos que listas de cidadãos independentes se intrometam na contenda eleitoral.
E ainda há aqueles partidos, de que nunca ouvimos falar durante o ano, que se lançam à contenda com candidatos não residentes, tornando as eleições num negócio, à espera, certamente, da subvenção estatal às despesas da campanha eleitoral.
A subvenção consiste numa quantia em dinheiro equivalente à fração 1/135 do valor do IAS [Indexante de Apoios Sociais], por cada voto obtido, o que é capaz de chegar aos 3 euros por cada voto, se não estiver desactualizado.
Outra vergonha destas eleições, que nem partidos nem a Comissão Nacional de Eleições querem corrigir, é a actualização dos cadernos eleitorais, porque se fossem actualizados teríamos menos deputados no parlamento. Nenhum partido quer perder este benefício, preferindo chorar “lágrimas de crocodilo” na noite eleitoral com o valor da abstenção.
Para as eleições de 4 de fevereiro próximo há 229.921 eleitores inscritos, enquanto a população dos Açores, segundo os últimos Censos, é de 236.413 habitantes.
Se retirarmos deste número os açorianos sem idade para votar, que ultrapassam os 35 mil, ficamos com mais eleitores do que habitantes. São cadernos eleitorais recheados de fantasmas!
É esta a imagem do nosso país: não se consegue modernizar, actualizar e aligeirar processos.
É tudo à portuguesa.

Osvaldo [email protected]

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