Ao contrário do que está a acontecer no país, os Açores não registaram neste mês de Janeiro excesso de mortalidade, depois de se ter verificado um excesso em Janeiro de 2022.
De acordo com os números consultados ontem pelo “Diário dos Açores”, a mortalidade de Janeiro, até ao dia 18, era de 109 açorianos, quando no ano passado, no mesmo período, foi de 138 e no período homólogo de 2022 registou-se um pico de 160 óbitos, que poderão ter a ver com um forte surto de doenças respiratórias e consequências ainda da pandemia.
Para estes meses de Inverno os especialistas receavam um novo surto de excesso de mortalidade, como está a acontecer no continente, mas até agora os valores estão em linha com os anos anteriores.
Excesso de mortalidade
no Continente
Com efeito, nos primeiros 18 dias de Janeiro morreram no país mais de 8.600 pessoas, mais 1.858 do que o esperado, a um ritmo superior a 400 óbitos por dia: o excesso de mortalidade, ou seja, o número de dias em que morreram mais pessoas do que seria expectável, é maior do que em todo o ano de 2023, mas também há mais óbitos em excesso do que em todo o ano anterior (1.858 vs. 1.400) – por último, de acordo com o Sistema de Informação dos Certificados de Óbito (SICO), em todos os dias de 2024 houve excesso de mortalidade.
De acordo com dados do Instituto Ricardo Jorge, entre 18 de Dezembro e 14 de Janeiro foi registado um excesso de mortalidade de 28%: Portugal foi o país da UE que registou níveis mais elevados de mortalidade, segundo o site europeu de vigilância da mortalidade (EuroMomo).
Este pico de mortalidade em excesso já vem desde a última semana de 2023.
Entre o Natal e fim de ano foram contabilizadas quase 3.800 mortes, 821 acima do esperado face à média de anos anteriores. No entanto, 2024 arrancou com números ainda mais altos: a 2 de Janeiro, foram registadas 551 mortes, o que, para encontrar um dia com tantas mortes em Portugal é preciso recuar ao último grande pico da Covid-19, em Fevereiro de 2021.
Todos os dias de 2024 tiveram excesso de mortalidade.
Já o ano de 2023 teve 17 dias com mortes acima do esperado, tendo-se registado, ao longo de todo o ano, 1.400 óbitos em excesso.
A 12 de Janeiro deste ano, 2024 já registava um número maior: nos últimos 18 dias foram contadas 1.858 mortes acima do esperado, mais do que em todo o ano passado.
Epidemia de gripe
O excesso de mortalidade, verificado diariamente desde o início do ano, ocorre num período marcado por uma epidemia de gripe e um Inverno rigoroso com temperaturas abaixo dos valores habituais para a época. O diagnóstico elevado de infecções respiratórias parece estar na origem do excesso de mortalidade, mas a causa certa ainda não é possível de identificar. “É uma situação com várias causas, mas será preciso algum tempo para se avaliar todos os dados e perceber se há um aspecto que possa ter contribuído mais para o excesso de mortalidade”, explicou ao Diário de Noticias (DN) o epidemiologista do Instituto de Saúde Pública (ISP) da Universidade do Porto, Milton Severo.
O diagnóstico elevado de infecções respiratórias parece estar na origem do excesso de mortalidade, mas a causa certa ainda não é possível de identificar.
“É uma situação com várias causas, mas será preciso algum tempo para se avaliar todos os dados e perceber se há um aspecto que possa ter contribuído mais para o excesso de mortalidade”, explicou ao DN Milton Severo. A verdade, no entanto, é que Portugal é, neste início de ano, o único país de entre mais de 20 da Europa – que contribuem com informação para o site europeu EuroMOMO, que faz a vigilância da mortalidade – com a classificação de “excesso muito elevado” (very high excess) de mortalidade.
O site mostra um mapa onde é revelada a classificação atribuída a Portugal e aos outros países deste grupo, e do qual também fazem parte Áustria, Bélgica, Chipre, Dinamarca, Estónia, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Hungria, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Países Baixos, Eslovénia, Espanha, Suécia, Suíça, Reino Unido, Malta e Ucrânia. Além de Portugal, só a Grécia aparece destacada com “excesso moderado” e o Reino Unido, nas regiões da Escócia e de Inglaterra, com “excesso moderado e reduzido”, respectivamente. No Norte da Europa, só a Dinamarca aparece assinalada, mas com “excesso reduzido” de mortalidade.