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Eu, urbano-rural, me confesso

Ainda antes das celebrações dos cinquenta anos do 25 de abril terem começado, data em que se instaurou a liberdade de expressão e de informação, o presidente Marcelo, levando a tese ao extremo do ridículo, prestou um triste papel às instituições democráticas portuguesas num tempo em que as mesmas necessitavam ser reforçadas. A pergunta de um milhão de dólares é o que se terá passado na cabeça do presidente para proferir um pacote completo de asneiras durante um almoço com imprensa estrangeira.
Marcelo, diabólico, bebeu do próprio veneno que a democracia proporciona, e expôs duas questões fulcrais: A democracia tem limites? A liberdade de expressão tem filtros?
Absolutamente que sim. A democracia sem limites e a liberdade de expressão sem filtros é a selvajaria. A capacidade de entender isso, e levar à prática, é o que nos divide e distingue dos antigos selvagens. E depois há uma coisa que dá pelo nome de livre-arbítrio, que apesar de se definir como a faculdade de um indivíduo decidir de acordo com a sua própria vontade, seja pela palavra, pela ação ou pelo comportamento, também é um atalho para a coerência e para a ponderação. Tudo o que Marcelo não foi e dificilmente voltará a ser. Mas o presidente de Portugal, o mais alto dignitário do Estado, provou não ser mais do que um provinciano, feito doutor em leis e constituições na centralista capital do Império. E se Luís Montenegro é um urbano-rural, então denuncio-me também como um urbano-rural. E, de igual forma, milhões de portugueses.

Luís Soares Almeida*

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