Edit Template

Saúde Pública e a Saúde do público, semana a semana (54): A natureza dos Homens definida nos momentos difíceis

“A Autonomia é um desafio difícil, sobretudo numa realidade arquipelágica de 9 ilhas no Atlântico norte, mas é uma luta que se exige permanente, na defesa do melhor interesse do povo açoriano.”

Os dados para análise da semana: Comunicação de riscos em emergências de saúde pública

A OMS (Organização Mundial de Saúde) salienta que durante as emergências de saúde pública as pessoas devem saber que riscos de saúde correm, e que medidas podem tomar para protegerem a sua vida e saúde. Informação rigorosa, divulgada no devido tempo e em canais que as pessoas possam entender, confiar e usar, permite-lhes fazer escolhas e tomar medidas para se protegerem a si próprias, às suas famílias e às comunidades, contra os perigos de saúde que ameaçam as suas vidas e o seu bem-estar.
A “Comunicação dos riscos” é a troca de informação, aconselhamento e opiniões em tempo real entre peritos, líderes comunitários, funcionários e pessoas que estão em risco, sendo parte integrante de qualquer resposta de emergência. Nas epidemias, nas crises humanitárias e nas catástrofes naturais, uma comunicação dos riscos eficaz permite às pessoas em risco compreenderem e adoptarem comportamentos de protecção. Permite ainda às autoridades e peritos auscultar e darem resposta às preocupações e necessidades das pessoas, para que o aconselhamento que prestam seja relevante, confiável e aceitável.
O “Regulamento Sanitário Internacional” (de 2005) pede, porque é essencial, a todos os Estados-Membros da OMS que desenvolvam capacidades de comunicação dos riscos: os governos devem avaliar as suas capacidades de comunicação dos riscos e avaliar regularmente essas capacidades mediante avaliações externas, através do instrumento de “Avaliação Externa Conjunta da OMS” (AEC).
A “comunicação dos riscos em situações de emergência” (ERC) é executada antes (como parte da preparação), durante e depois (para ajudar na recuperação) de uma emergência, a fim de permitir a todas as pessoas em risco tomarem decisões informadas.
Por melhor que sejam planeadas e aplicadas as intervenções de comunicação dos riscos, não conseguirão que as pessoas em risco tomem decisões informadas se não confiarem na fonte de informação. Por isso, o primeiro e mais importante passo para uma ERC eficaz é manter a confiança das populações, a qual está intimamente ligada à participação das comunidades e ao reconhecimento das incertezas. Vários factores fazem prever um nível mais elevado de confiança: reconhecer as incertezas nas mensagens, incluindo as previsões e os alertas; ser transparentes e não ocultar a informação negativa, tal como o número de vítimas; divulgar a informação e intervir rapidamente; criar comunicação científica numa forma fácil de compreender; procurar contributos no público e encorajar o diálogo; assegurar a coordenação entre as diferentes autoridades de saúde e os média, juntamente com uma mensagem uniforme; evitar mudanças rápidas da informação e evitar a divulgação de informação divergente por parte de diferentes organismos; e divulgar a informação através de várias plataformas.
A falta de informação – ou a informação contraditória e inconsistente – por parte das autoridades gera incertezas. As autoridades devem considerar cautelosamente estes e outros aspectos ao formularem as melhores formas de as comunicar ao público em geral, às populações de risco/vulneráveis e às partes interessadas. A cobertura de um evento pelos meios de comunicação que realce informação que muda rapidamente, seja contraditória e divergente, especialmente a que difere da informação oficial fornecida pelas autoridades, aumenta a incerteza no público, o que pode levar a vários resultados indesejáveis, como a falta de confiança nas autoridades e nas acções que estas recomendam.

As autoridades de saúde pública são a fonte mais credível da informação sobre riscos. Os governos e as fontes de informação não locais têm, de um modo geral, menor credibilidade. As mensagens devem vir de diferentes fontes de informação e ser divulgadas logo no início da crise; as mensagens divulgadas tardiamente permitem que os rumores se espalhem. Nunca esqueçamos que as mensagens devem ser comunicadas em linguagem não técnica, para que todos as entendam.

A Ciência da semana: COVID longa

“Trajetórias temporais dos sintomas de COVID-19 em adultos com acompanhamento de 22 meses em um estudo de coorte prospectivo na Noruega”, de Merete Ellingjord-Dale et al, é uma pré-impressão não revista por pares, que ficou disponível há poucos dias, e que pretende descrever a trajetória dos sintomas cognitivos e físicos antes, durante e após um teste SARS-CoV-2 positivo, usando dados da Noruega, recolhidos entre 27 de março de 2020 a 6 de julho de 2022, num total de 146 065 voluntários. Foram avaliados diversos sintomas, em diversos momentos, e comparada a saúde em geral com o ano anterior. O teste SARS-CoV-2 positivo está associado, neste estudo, a novos problemas de memória e concentração, anosmia (perda do olfacto) e disgeusia (alteração do paladar), dispneia (falta de ar) e fadiga, bem como um pior estado de saúde geral, que persistiu durante o período de acompanhamento de 22 meses, mesmo quando corrigindo sintomas antes da COVID-19.

A Homenagem da semana: à Autonomia

A presença, o conhecimento, a empatia e a segurança transmitida são fulcrais em situações de catástrofe. Plantar uma árvore, e cuidar dela enquanto ela cresce, é difícil, ao passo que cortá-la e derrubá-la é simples. É isto que permite distinguir os que constroem e criam valor, dos que apenas consomem e destroem. Os primeiros são muito mais raros do que os segundos.
“Não existe nada que mais nos acalme, em momentos difíceis, do que saber que está alguém a lutar connosco”, disse Santa (Madre) Teresa de Calcutá. Nestes dias difíceis que se viveram em São Miguel os micaelenses viram ao seu lado o Dr. José Manuel Bolieiro e a Dra Mónica Seidi, e sentiram o apoio incondicional dos irmãos terceirenses e faialenses que, na necessidade, receberam aqueles que precisaram, reforçando que o sucesso da Autonomia também passa por sistemas de redundância, que permitam que em cenários de catástrofe os Açores tenham meios e recursos máximos para se defenderem, e protegerem. Desde há muito que estas “redundâncias” são defendidas, por exemplo, pelo Dr Artur Lima, recordo.
A Autonomia é um desafio difícil, sobretudo numa realidade arquipelágica de 9 ilhas no Atlântico norte, mas é uma luta que se exige permanente, na defesa do melhor interesse do povo açoriano.

Mário Freitas*

*Médico consultor (graduado) em Saúde Pública,
competência médica de Gestão de Unidades de Saúde

Edit Template
Notícias Recentes
Câmara Municipal de Ponta Delgada arranca com repavimentação da Avenida 6 de Janeiro na freguesia da Covoada
Escola Secundária da Ribeira Grande distingue melhores alunos
Mais de uma centena de cursos previstos para 2025 no campo da formação agrícola
Parlamento aprova anteproposta para isenção do pagamento de direitos de partituras
Este ano vamos ter 200 escalas de navios cruzeiros
Notícia Anterior
Proxima Notícia

Copyright 2023 Diário dos Açores