Cinquenta e oito utentes, transferidos dos Açores na sequência do incêndio que atingiu o hospital de Ponta Delgada, permanecem ainda na Região Autónoma da Madeira, indicou o serviço de saúde do arquipélago madeirense.
Uma das duas grávidas transferidas da ilha de São Miguel no dia 5 de Maio “já deu à luz gémeos e encontra-se bem de saúde”.
Em comunicado, o Serviço Regional de Saúde (Sesaram) adianta que apenas um doente, dos 59 transferidos há cerca de uma semana dos Açores, já saiu, “pelo facto de já ter um procedimento cirúrgico agendado em Lisboa”.
Ainda segundo o Sesaram, 23 utentes estão internados no Hospital Dr. Nélio Mendonça, 26 estão alojados no Regimento de Guarnição n.º 3 e sete estão em alojamento próprio.
“Os 55 doentes com doença renal crónica continuam a receber os respectivos tratamentos, bem como toda a medicação necessária”, que está a ser assegurada pelo Sesaram, é acrescentado.
Ainda de acordo com o Sesaram, “as equipas de saúde das Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores estão em constante articulação em prol de uma melhor prestação de cuidados aos utentes”. Por outro lado, o HDES revelou que “foi já possível a 26 doentes oncológicos retomar os seus tratamentos nas instalações do hospital”. Entretanto, hoje terá lugar, pelas 16h00, no Auditório do HDES, uma conferência de imprensa para o ponto da situação à população. Presentes estarão os elementos do Conselho de Administração, sendo que no final todos os órgãos de comunicação poderão colocar questões.
Ordem dos Médicos apela à solidariedade
O Bastonário da Ordem dos Médicos, que nos últimos dias visitou os Açores para se inteirar dos prejuízos do HDES, escreveu ontem um artigo no jornal Público, onde afirma que “a solidariedade e união demonstradas pela comunidade açoriana e pelos profissionais de saúde frente ao desastre no hospital ilustraram na perfeição o altruísmo e o trabalho em equipa em tempos de crise”.Carlos Cortes adianta que, “inexplicavelmente, o país ainda não despertou para a magnitude deste terrível evento, nem compreendeu plenamente o impacto devastador e o colossal esforço que agora se impõe”. “A solidariedade não se manifesta apenas em palavras de apoio ou intenções, ela requer acções concretas e determinantes. Não tenho dúvidas que um acontecimento semelhante no continente teria tido uma outra reação nacional, mais imediata e global”, acrescenta.“Não devemos manter esta indiferença. O hospital de Ponta Delgada, mais do que um hospital distrital, é um hospital nacional essencial que necessita urgentemente de ser revitalizado com recursos humanos adequados, capacidade de diferenciação e apoio financeiro nacional e europeu para a sua completa recuperação. Somente com a união de todos poderemos garantir que esta unidade hospitalar continue a cumprir sua missão essencial de cuidar e salvar vidas. Há momentos em que a ajuda do poder central e da Europa é essencial, no seu apoio político, financeiro, técnico e material; este é seguramente uma oportunidade solidária que não deve ser ignorada”, escreve ainda. “Expresso aqui minha mais profunda admiração e gratidão pelo trabalho, entrega e altruísmo dos profissionais de saúde que, uma vez mais, em plena adversidade, se destacaram pelo seu compromisso ético e incansável dedicação humanista”, conclui.