O Jorge Batista é uma grande referência do desporto açoriano. Nascido na freguesia de São Sebastião (1961) e filho mais novo de uma família numerosa (8 irmãos) com a maioria sempre ligada ao desporto (hóquei, basquetebol, futebol, natação e judo). Iniciou o seu percurso académico na escola primária no Campo de São Francisco e o ensino preparatório na Escola Roberto Ivens, naquele tempo a única de Ponta Delgada. No ensino secundário estudou na Escola Industrial e Comercial de Ponta Delgada onde apanhou a mudança para Escola Secundária Domingos Rebelo. Mais tarde, frequentou o ISEL mas optou pela formação na IBM Portugal, na área de Análise e Programação em RPG IV, uma linguagem usada nos equipamentos da IBM.
Aos 7 anos de idade, iniciou a prática desportiva no Clube Naval de Ponta Delgada (natação no mar nos meses de Verão) pois ainda não havia piscinas. Nas férias escolares, no bairro onde cresceu havia sempre muitas actividades desportivas: torneios de futebol, corridas de bicicleta e provas de ciclo-cross. Entretanto, nos finais da década de 60 (1968), o judo foi introduzido no Clube Naval de Ponta Delgada , início da sua prática regular nos Açores. O Jorge Batista ficou fascinado com os treinos a que assistiu mas os pais não autorizaram a sua inscrição. Influenciado pelas irmãs e irmãos que praticavam basquetebol, também aderiu ao desporto colectivo mais do seu agrado, treinando e competindo com regularidade. Em 1974, por influência de um familiar regressado do serviço militar em Moçambique, os pais autorizaram a inscrição do Jorge já no Judo Clube de Ponta Delgada.
Entretanto, foi tentando conciliar a actividade escolar com os treinos e competições do basquetebol e do judo. Contudo, a sua concentração estava cada vez mais focada no judo, a sua modalidade desportiva de eleição. No primeiro ano de práctica (aos 13 anos) treinava 3 vezes por semana e, no ano seguinte, os treinos eram diários. A partir dos 16 anos treinava frequentemente 2 vezes por dia e nos períodos de férias escolares fazia 3 treinos diários (6h30, 10h30 e 18h00). Como atleta foi campeão regional em todas categorias (quando não havia distinção de pesos) e campeão nacional em diversos escalões etários. Fez parte da equipa nacional no Encontro de Cadetes Portugal-Holanda (1979), participou no Campeonato Europeu de Juniores, 3º lugar na Taça Latina de Juniores – Santander 1981, 2º e 5º lugar nos Torneios Ibéricos em Madrid e Barcelona. Na década de oitenta foi o vencedor do Torneio Internacional de Coimbra e, como tal, premiado como melhor atleta da prova. Na categoria de seniores foi, por diversas vezes, vencedor da Taça Kioshi Koboyashi (meu professor de Judo no INEF) bem como do Torneio FPJ. Campeão nacional de veteranos em todas as participações e 5º classificado no Europeu de Veteranos efectuado na Áustria. Foi o primeiro atleta açoriano a entrar no regime de alta competição. Nas competições federadas representou sempre o JCPD e, apenas num período relativamente curto, o Sport Algés e Dafundo, pelo qual foi campeão nacional de equipas seniores, situação difícil de concretizar se estivesse inscrito por um clube dos Açores. A formação e orientação do Jorge Batista no judo é da responsabilidade do Sensei Masatoshi Ohi e o seu aperfeiçoamento e especialização pelos professores Costa Matos e José Branco, treinadores enquanto esteve no Sport Algés e Dafundo, tendo também treinado, nas suas longas estadias em Lisboa, com o mestre Henrique Nunes.
No percurso desportivo dos atletas de alta competição há sempre situações em que o aconselhamento aos mais jovens é inevitável. Trata-se de uma preocupação natural de transmissão de conhecimentos e experiência aos que estão em fase de aprendizagem e aperfeiçoamento. É o primeiro sinal de que por ali se perspectiva um futuro treinador. Foi o que aconteceu com o Jorge Batista que no início da década de 80 começou a frequentar diversas ações de formação e cursos de treinadores orientados por prelectores nacionais e estrangeiros. No Instituto de Judo em Paris teve a oportunidade de estagiar com prestigiados técnicos internacionais que influenciaram o seu modelo de ensino e aperfeiçoamento no Judo. Nas suas funções de treinador trabalhou sempre no JCPD, contribuindo de forma decisiva para que muitos atletas tenham conquistado títulos regionais, nacionais e obtido excelentes classificações a nível internacional. Foi colaborador técnico da Federação Portuguesa de Judo no Campeonato da Europa realizado no Mónaco-1996, tendo orientado alguns judocas portugueses participantes nesta prova e no Campeonato do Mundo de Juniores. Também esteve envolvido no projecto olímpico do Rio de Janeiro.
Quando regressava a S. Miguel estava sempre disponível para colaborar no desenvolvimento técnico-desportivo do judo na ilha verde, assim como nas outras ilhas. Abriu as portas do JCPD aos atletas dos outros clubes, incentivando a realização de um treino semanal com todos os atletas da ilha em que o foco principal era o aperfeiçoamento das técnicas que executavam, seguido do treino específico de “Randori” (treino de combate). Foi membro da comissão nacional de graduações da Federação Portuguesa de Judo. Membro do grupo de trabalho, em representação da FPJ, na informatização das federações desportivas nacionais junto do Instituto Português do Desporto e Juventude, assim como, representante do Judo junto da comissão de apoio ao desporto de alto rendimento. Colaborador na elaboração do documento orientador da FPJ “Modelo de desenvolvimento dos Judocas a Longo Prazo” juntamente com um alargado número de treinadores nacionais.
No seu notável percurso desportivo foi galadoardo na Gala do Desporto Açoriano em 2002 na categoria “Personalidades e entidades”. Pela Câmara Municipal de Ponta Delgada foi finalista do prémio “Treinador do Ano-2015” (conseguiu colocar um atleta em 38º no ranking mundial, se tivesse ficado em 32º tinha participado nos JO Rio Janeiro). Em 2019, foi galardoado pela Câmara Municipal de Ponta Delgada com o prémio “Mérito Desportivo”. Actualmente é Presidente do Judo Clube de Ponta Delgada.
Uma vida dedicada ao Judo.
Eduardo Monteiro