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HDES: Uma Morte Anunciada

Por várias vezes nas crónicas publicadas neste jornal alertamos para o estado de abandono a que fora votado o Hospital do Divino Espírito Santo de Ponta Delgada (HDES). Abandono esse que punha em causa a qualidade do Serviço Regional de Saúde na ilha de São Miguel, onde reside mais de metade da população dos Açores. Mas nunca, nem nos piores cenários, poderíamos imaginar o colapso desta unidade de saúde, obrigando à evacuação em emergência de todos os doentes e de todos os profissionais que deles cuidavam e ao encerramento por tempo indeterminado daquele que, imagine-se, é o hospital central dos Açores, forçando o Governo Regional a declarar o estado de calamidade pública em toda a Região Autónoma dos Açores.
Mas, na realidade, há muito que o Hospital de Ponta Delgada tinha morte anunciada. Em Dezembro de 2020, Clélio Meneses, Secretário Regional da Saúde do novo Governo Regional PSD-CDS-PPM, que chegava ao poder após 24 anos de governos PS, após visita ao HDES deixou o alerta “O Sistema Regional de Saúde está próximo do colapso”.
Em Julho de 2023, quando os autarcas micaelenses se reuniram com José Manuel Bolieiro para exigirem uma “reflexão séria” sobre o desenvolvimento da ilha que estava (e está) a ficar para trás, o Presidente do Governo referindo-se à área da Saúde, defendeu a requalificação dos Centros de Saúde da Lagoa, Ribeira Grande e Vila Franca do Campo e reconheceu que o HDES estava “há muitos anos abandonado na capacidade de dar resposta aos cuidados de saúde”, não assumindo no entanto nenhum compromisso para reverter essa situação.
Perante este cenário, é no mínimo inacreditável que a Secretaria Regional da Saúde que nesse mesmo ano de 2023, ou seja, o ano passado, tenha sido uma das três Secretarias regionais que apresentaram as mais baixas taxas de execução do Plano e Orçamento para 2023.
A taxa de Execução da Secretaria da Saúde foi de 63,7% , executando apenas 37,2 milhões de euros dos 58,5 milhões alocados. Quando em Novembro desse mesmo ano de 2023 a Secretária Regional da Saúde reconheceu “o estado de degradação em que se encontrava o HDES. Já depois do incêndio o Presidente do Governo admitiu que “precisamos de compreender no domínio político a importância de olharmos para a situação ao longo de todos estes anos dos nossos equipamentos”.
Na hora da verdade Mónica Seidi, Secretária Regional da Saúde, admitiu que o sistema elétrico do HDES, já com 30 anos, estava completamente obsoleto. Para os profissionais de saúde do hospital e para muitos doentes o facto era bem conhecido através das frequentes falhas de energia em diversas áreas do hospital, obrigando muitas vezes à repetição de exames de imagiologia interrompidos por falta de energia elétrica.
Dois acontecimentos graves foram o prenúncio do que viria a acontecer no HDES. Em Outubro de 2015 uma avaria elétrica com gravidade no quadro geral de baixa tensão provocou um apagão geral de várias horas no Hospital de Ponta Delgada. Mais recentemente a câmara hiperbárica incendiou-se com os doentes lá dentro em pleno tratamento. Só não aconteceu uma tragédia porque foi no início do tratamento e ainda havia pouco oxigénio no interior da câmara.
Como disse o deputado Almeida e Sousa na Assembleia Regional, existem reservas em abordar os problemas de São Miguel no parlamento açoriano. Os deputados eleitos pela ilha não se assumem num arquipélago dominado pelo dito “É tudo para São Miguel”. Agora a ilha com mais de metade da população nem hospital tem. Esta Autonomia não serve para São Miguel.
Longe vão os tempos em que um incêndio calamitoso era encarado com fatalismo e resignação. Hoje vivemos a era da segurança, em que tudo ou quase tudo está previsto. E quando algo falha investiga-se as causas e a identidade dos culpados, pois, como diz a sabedoria popular, “a culpa não pode morrer solteira.
O acontecido no HDES tem causas que nenhuma das muitas capas do Senhor Santo Cristo dos Milagres consegue esconder. Um hospital votado ao abandono, com equipamentos obsoletos, em fim de vida e com problemas de manutenção. Um hospital que não deu o passo para a modernidade.
São todos culpados. Anteriores e actual Governo. E os deputados eleitos pela ilha de São Miguel.

Teresa Nóbrega*

*Jornalista

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