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Saúde Pública e a Saúde do público, semana a semana (56): Mais prevenção em tempo de Crises

“A crise do custo de vida afecta o “bem-estar mental, físico e financeiro”, tanto do pessoal como das comunidades locais. Além do aumento da procura dos serviços de saúde, há mais pessoas com circunstâncias sociais complexas a recorrer ao hospital.”

A Ciência da semana: o efeito perverso do marketing digital

A “maioria das grávidas e mães” portuguesas estão expostas ao marketing digital de produtos para alimentação complementar dos bebés, em que 73% dos quais não cumprem os requisitos nutricionais definidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), noticiou esta semana a Comunicação Social portuguesa, citando um estudo da Direção-Geral da Saúde (DGS). De acordo com o documento, o marketing de substitutos do leite materno e de produtos para a alimentação complementar de bebés tem sido apontado como “um dos determinantes da baixa prevalência de aleitamento materno exclusivo até aos 6 meses”. Isto assume relevância em Portugal, onde os dados mais recentes mostram que a prevalência de aleitamento materno exclusivo até aos 6 meses, como recomenda a OMS, é de apenas 22%, refere o estudo da DGS.
Os resultados apresentados neste relatório “sugerem a necessidade de implementar algumas acções que visem reduzir e/ou melhorar a comunicação comercial digital dos substitutos do leite materno e dos alimentos para alimentação complementar de lactentes e crianças pequenas”, conclui o estudo.
Das acções a implementar, o documento destaca a análise do enquadramento legal existente e as suas respetivas fragilidades por comparação com o disposto no “Código Internacional do Marketing dos Substitutos do Leite Materno” e do modelo de lei da OMS para a regulação do marketing dos substitutos do leite materno e dos alimentos para a alimentação complementar. Além disso, propõe um guia e a realização de acções de sensibilização sobre boas práticas de comunicação comercial no meio digital, dirigido a criadores de conteúdo digital, em parceria com a Direção-Geral do Consumidor, com o objetivo de sensibilizar para o cumprimento do referido código e enquadramento legal.

Os dados para análise da semana: a saúde do público como vítima das crises

Quase todos os prestadores do NHS (Serviço Nacional de Saúde) da Inglaterra afirmaram que a “saúde do público piorou ao nível local, devido ao aumento do custo de vida”, num estudo recente, realizado entre Fevereiro e Março deste ano, noticiado pelo “The Guardian”.
96% dos prestadores do NHS inquiridos dizem que a “crise do custo de vida piorou a saúde na sua área local”, e mais de metade afirmou que a diminuição foi “significativa”. 51% relatou que há falta de financiamento a programas que combatam as desigualdades na saúde, na sua área.
A crise do custo de vida afecta o “bem-estar mental, físico e financeiro”, tanto do pessoal como das comunidades locais. Além do aumento da procura dos serviços de saúde, há mais pessoas com circunstâncias sociais complexas a recorrer ao hospital. O inquérito também revelou outros desafios, como o facto de as pessoas que não têm condições para comer adequadamente, ou aquecer as suas casas, chegarem ao hospital em pior estado, bem como o aumento da procura, pelos doentes, dos serviços locais de saúde mental.
Isto ocorre quando o “Nuffield Trust”, publicado a 16 de Maio, relata uma “deriva implacável para o sector privado” na saúde, no Reino Unido (https://www.nuffieldtrust.org.uk/news-item/how-has-the-role-of-the-private-sector-changed-in-uk-health-care), descrevendo “sérios problemas com o acesso aos cuidados, relações laborais e estabilidade financeira” nos serviços de saúde geridos pelo Estado, o que leva muitos a “perceber, temer ou defender um papel maior para o sector privado”.
De acordo com o relatório, a proporção dos gastos do NHS dedicados à medicina dentária, por exemplo, diminuiu de 2,9% em 2009/10 para 1,6% em 2022/3.

A Homenagem da semana: aos que apostam num “Futuro mais preventivo”

Quem quer que ganhe as próximas eleições gerais no Reino Unido será incapaz de prestar serviços públicos de elevado desempenho – e manter os impostos e a dívida em níveis sustentáveis – a menos que se comprometa com uma estratégia de prevenção, que limite a onda crescente de procura de serviços urgentes, como os dos hospitais.
O próximo governo pode aproveitar a oportunidade de um novo parlamento para mudar para uma abordagem preventiva, que procure resolver e gerir os problemas dos cidadãos antes que estes atinjam o “ponto de crise”. Isto traria benefícios financeiros e políticos, ajudando a enfrentar as crises no NHS, na justiça, nos serviços juvenis e muito mais – e levaria a vidas mais felizes e saudáveis, de milhões de pessoas.
Há boas evidências, por exemplo, de que o investimento nos cuidados primários, na saúde pública e no trabalho com jovens e centros infantis, entre outros serviços e programas, proporciona benefícios, tanto em termos de melhoria de vida como em termos monetários.
Desde 2010, numa série de serviços do Reino Unido, a atenção dos políticos – e o financiamento – desviou-se da “prevenção” para os “serviços de urgência e emergência”. Por exemplo, os gastos locais em serviços como “clubes juvenis” e “centros infantis” diminuíram 77,9% entre 2009/10 e 2022/23, ao passo que os gastos com cuidados infantis urgentes aumentaram mais de metade (58,1%) no mesmo período.
Um governo que pretenda actuar seriamente na prevenção, pode superar barreiras históricas e estabelecer um plano de 5 etapas para implementar uma abordagem preventiva, referia recentemente um relatório; as 5 etapas elencadas são:

  1. Fazer da prevenção uma prioridade política, sendo necessário que o governo e outros políticos demonstrem liderança, se quiserem colher os benefícios.
  2. Incorporar a prevenção no quadro de despesas, limitando as despesas com a prevenção, publicando uma estratégia de prevenção intergovernamental e financiando avaliações exaustivas das despesas preventivas.
  3. Incorporar a prevenção no quadro de desempenho do governo, acompanhar o progresso dessas métricas e ser honesto acerca dos sucessos e dos fracassos.
  4. Apoiar a nível local, para que aqui tenham orçamentos preventivos ajustados à sua realidade e se removam as barreiras impostas pelo governo central – como a fundos de financiamento de curto prazo – à inovação.
  5. Criar um sistema de responsabilização e aprendizagem mais eficaz, ao nível local.

Mário Freitas*

*Médico consultor (graduado) em Saúde Pública,
competência médica de Gestão de Unidades de Saúde

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