Regressando ao turismo no charuto-ilha
Quanto ao Povoamento, o Faial e Pico tinham sido doados, antes de 1466, ao flamengo Josse Van Huertere (Joz de Utra, posteriormente em Dutra), casado com Beatriz de Macedo e sogro do famoso Martinho da Boémia. Na sua companhia teriam vindo muitos flamengos, dentre os quais Wilheim Van der Hagen (Guilherme da Silveira), que, passou às Flores e para a Terceira e S. Jorge, promovendo o povoamento. A rua dedicada a este homem carece de importância na vila das Velas, a demonstrar que a História continua a merecer lugar secundário nas mentes dos homens.
Pois bem, a ilha de 246 km² com 65 km de comprido e 8 de largura sempre me parecera um enorme charuto abandonado no oceano, ao lado da perna de galinha (Pico) e já longe do cachalote (S. Miguel). Distando 21 milhas da Terceira, 19 da Graciosa e 10 do Pico, dispunha de dois concelhos: Velas e Calheta. Nas Velas ainda se podem observar várias casas solarengas de rica traça que atestam a riqueza patrimonial apesar dos muitos sismos que ficaram na história. As Igrejas da Matriz e N. Sr.ª da Conceição nada têm de extraordinário, o mesmo se podendo dizer da de Santa Catarina na Calheta, mais interessante é a de Santa Bárbara nas Manadas, a da Queimada sendo também digna de visita a Torre Sineira na Urzelina, ou o que resta da igreja derrocada pelo violento sismo de 1 de maio de 1808.
Conhecida pelas suas fajãs (terras baixas, à beira-mar, resultantes de materiais desprendidos por quebradas ou acumulados na foz de uma ribeira e assentes quase sempre num banco de lava muito resistente, são extremamente férteis, habitadas e cultivadas com fantásticas piscinas naturais que são autênticos aquários, onde se nada rodeado de peixes que não se incomodam com a presença humana). Dentre algumas que visitamos (creio que são 76 no total) a que mais impressionou pela positiva e beleza foi a do Ouvidor, mas pela perigosidade da estradaa de S. João ganhava a todas mesmo à dos Cubres (e daqui era ainda necessário ir a pé uma hora para a maravilha da ilha, a do Santo Cristo). A cordilheira central atravessa a ilha a todo o comprimento e deixa nas suas franjas as interessantes fajãs, exercício de vontade dum povo que lutava pela sua independência económica arrebanhando a terra que a natureza criava. Beleza agressiva e de acesso capaz de cortar a respiração a qualquer um, a ida às Fajãs que dispõem de estrada alcatroada é em si mesma um exercício de desafio das leis da natureza e não aconselhável a quem tenha vertigens ou seja impressionável.
O ilhéu do Topo é único e impressiona pela beleza que a natureza proporciona sem estar conspurcado pelo Homem. No outro extremo há uma maravilha paradisíaca: a reserva ou parque natural das Sete Fontes em Rosais, cujo farol abandonado deveria ser recuperado como núcleo museológico, pois tem uma localização inigualável e umas vistas excelentes. Ali se faria uma excelente pousada com vista para um pôr-do-sol inolvidável. As formações geológicas em volta do farol são espantosas pelos caprichos da mãe natureza. O mais estranho no Parque Natural das Sete Fontes, foi encontrar os tão diferentes e originais porcos do Vietname e os omnipresentes e engraçados gamos.
A ida ao Pico da Esperança foi coartada pelas nuvens e nunca passamos do sopé intermédio e não pudemos ir ao cume com 1053 m., onde a 11 de dezembro 1999 se despenhou (35 mortos), um avião da SATA onde ia um primo meu. A ilha tem inúmeros miradouros estrategicamente colocados e paisagens deslumbrantes.
Continua
Chrys Chrystello*
*Jornalista, Membro Honorário Vitalício nº 297713