É agosto, faz calor e a silly season já não é o que era. Aquela época doirada e tórrida, de relaxamento e banhos, durante as semanas do pico do verão, foram transformadas em uma war season; Perdemos os dias calmos de agosto por troca por dias de violência e muito sangue. Não é coisa que nos dê prazer escrever, mas abram os noticiários e é que nos metem pela casa dentro.
Porém, o relato factual deste tipo de notícias atingiu um pico moral que não nos convence mais. O jornalista – o menos responsável desta torrente anormal de violência – persiste em ser mero intermediário entre os agressores e os agredidos, na Venezuela como no Médio Oriente. E a pergunta que eu faço é se o papel dele não deveria passar por ser um pouco mais interventivo e, em vez do relato frio dos números e factos, não poderia indagar mais os responsáveis ou, até, promover explicações mais complexas e desenvolvidas sobre aquilo que alguém quer tornar simples, questionando convictamente os líderes, de bairro ou de território, sobre os seus comportamentos, ou fazendo passar mensagens de resiliência e motivação, de tal modo que muitas populações pudessem sentir que não foram, nem estão, abandonadas. É claro que o medo e o pragmatismo prevalecem. Mas num mundo agitado, a ousadia e a coragem de se ser incómodo nunca fez tanto sentido.
Afinal, é o nosso estilo de vida que está em jogo. É o futuro dos nossos filhos que está comprometido. Só isso, já seria motivo para uma mudança de atitude da parte de todos.
Luís Soares Almeida*
*Professor de Português
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