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Afinal quem governa, Trump ou Musk?

Foi no tempo em que as chamadas árvores caducas estavam a perder a folha na pequena zona de floresta da Gronelândia
Lamentavam-se, as pobres, porque ali ao lado imperavam, em glória dourada, as suas irmãs de folha perene. Tão belas, tão a atrair os olhos das pessoas que os desviavam, incomodadas, quando davam de caras com os braços esgalhados e frios em que se tinham tornado as caducas. Mas a mais velha de todas só lhes lembrava que já deviam ter aprendido que nada escapava à lei da vida, era só dar tempo ao tempo E acrescentava como consolo: Já repararam que o mesmo acontece com as pessoas? Umas são mais beneficiadas que outras …
Com isto concordaria Putin se não se encontrasse encerrado numa prisão em Thulel para onde o tinham mandado Trump e Musk. Como lamentava ter chegado àquele estado. Em vão arrancava os cabelos em desespero e se recusava a comer. De resto, como ousavam trazer-lhe aquela comida tão reles de carne de baleia ou de rena, puff!, a ele, o dono da poderosa Rússia?
Entretanto, disfarçado em turista interessado na ilha, passeava um igualmente poderoso general russo que não se cansava de manifestar um apreço exagerado em tudo o que via à volta. Começou por se maravilhar com a camada de gelo esparso por quase toda a ilha: Formidável! Incrível E queixam-se certos palermas do gelo, do frio! Quem é que se lembra do frio num mundo destes? Onde mais se poderá ver uma tundra assim perfeita com arbustos e musgos tão raros ? E o melhor nem está à vista! Sim, porque o ouro, o ferro, o chumbo, o zinco, a platina, o carvão e o petróleo, estão a bom recato!
O guia, deleitado, explicava que a princípio, no tempo dos inuítes, o clima na ilha era relativamente ameno e permitia agricultura e criação de gado.

  • Mas ainda existe aqui alguma agricultura, não? E que dizer dos vossos peixes e crustáceos? Vocês são uns felizardos! E com quinze aeroportos e tantas ilhas em volta não se pode falar em isolamento!
  • Não estamos mal, não, desde que nos deixem viver em paz a nossa autonomia, e dentro em breve, a nossa independência.
  • A vossa independência, pois claro. Meu caro, o mundo atual anda a escolher caminhos novos, competências novas. Por que não vocês também? Com certeza já ouviu falar da nova Riviera de Gaza? É um mundo novo que, ao que parece, se vai criar…
  • …. à custa de outros que se vão desfazer, não é? Adeus Palestina…
  • Bem, é preciso que se diga que isso ainda é apenas o sonho por realizar de um promotor imobiliário muito poderoso. E como o guia se abstivesse de mais comentários comprometedores, acrescenta, compreensivo e solícito : É preciso saber escolher os apoios que nos convêm. Hoje em dia há potências poderosas que põem os seus interesses acima de tudo e de todos. Cuidado com elas! Sobretudo com aquelas que contestam os alicerces do Direito Internacional.
  • Não estiques demasiado a corda, general, isto lhe sussurrava uma vozinha que só ele podia ouvir: Olha não te vá o guia falar da invasão da Ucrânia pela Rússia, ela que também mandou às urtigas o Direito Internacional..
  • Mas o que ambos estavam longe de saber era como a América de Trump andava agitada.
  • Tinha-se acabado de descobrir que Musk andava a desviar milhões das contas dos cidadãos americanos às quais, com autorização de Trump, tinha livre acesso. E para quê, ele que já tinha tanto? Boatava-se muita coisa. Dizia-se dele que que o investimento em Marte deixara de lhe monopolizar o interesse de tantos anos e que se estava a revelar um empresário cheio de opiniões e atos políticos. Mas o que se sobrepunha a tudo era a onda de indignação que se seguiu a este desfalque, uma onda de indignação que quase submergiu a América de lés a lés. Todos a pedirem a expulsão de Musk., um estranho que ousava assim interferir na vida dos americanos. Que ainda em dias muito recentes era apologista da criação de dois países, Israel e Palestina, e que ultimamente pactuava com Trump no projeto mirabulesco de transformar a faixa de Gaza na Riviera do Médio Oriente.
  • Mas ao que tudo parecia, Trump fechava os olhos às tropelias dele na função pública, nas Agências, na Educação e no Exército. De momento só a compra da Faixa de Gaza lhe interessava e transformá-la na Riviera de Gaza era sonho partilhado por ambos. Mas que fazer com os dois milhões de palestinianos? Ora, caro Presidente, mandamo-los para o Egito e para a Jordânia!
  • Estando as coisas assim encaminhadas com ambos focados na glória deste sonho, aconteceu o imponderável : a questão do trangénero que Trump combatia e de que era inimigo acérrimo.
    Ora Elon Musk era pai de dois filhos que tinham mudado de sexo e se tinham tornado em duas impetuosas moçoilas, capazes de desafiar este mundo e o outro. Pois bem, sendo filhas de quem eram, manifestaram ao pai vontade de ir até àquela América (estavam a viver na África do Sul), explorar e gozar aquele lugar do poder, pois que do pai tinham herdado o instinto de desafiar o mundo e as suas leis.
    Quando Trump soube que estas duas “filhas” de Musk andavam, despudoradas, a mostrar-se por toda a “sua” América, desabou em cólera sobre o pai, a quem tinha dado tantos poderes:
  • Daughters or sons, I want them out of my America! At once!!
    E como não achasse suficiente tal exigência, mandou que lhe fossem retirados alguns dos tais poderes que faziam com que os norte-americanos perguntassem às vezes Mas afinal quem é que governa, Trump ou Musk?
    Ah era assim? O “amigo” Trump queria enxovalho, queria guerra? E Musk foi a correr fazer levantamentos às contas dos americanos (uma retaliaçãozita…) antes que fosse demasiado tarde. E em boa hora o fez porque, tal como previu, tais poderes iriam ser -lhe retirados.
    Agora era aquele jogo de quem mais pode. Com um Trump cada vez mais contestado e as pessoas a reclamar o seu dinheiro, Musk esperou para ver. E viu: Trump ia ter que arcar sozinho com o projeto de Gaza e com o escândalo que ele suscitava principalmente no mundo árabe, o que fazia dele um ser enlouquecido pelo poder, num total desrespeito pelos valores emergentes do Segundo pós-guerra Mundial.
    Mas o desconcerto de Musk era evidente. Porque em boa verdade, Trump nem se sentia atingido. Muito menos, fragilizado. Era vê-lo na maior, acima de tudo e de todos, estimulado com as palmas dos israelitas.
    Foi então que Musk resolveu jogar pelo seguro. Ele sim, que se sentia menos poderoso e não tinha paciência para o põe-e-tira de Trump.
    Lembrou-se da Gronelândia. Como desafio. E se fosse para lá, virar os gronelandeses contra Trump?
    Putin nem queria acreditar naquele volte face que a vida lhe oferecia.
  • Obrigado, amigo, muito obrigado por estes casacões que te lembraste de me trazer. O frio tem sido o meu maior flagelo! Raio de terra gelada!
    Mais tarde, já no ambiente aquecido do hotel, não foi capaz de resistir à garrafa de vodca, oferecida ali à vista, que se pôs a beber até à última gota. Assim reconfortado, recebe apaziguado as notícias que Musk lhe vai transmitindo: Gostarás de saber como vai a tua terra, não? Pois meu caro, na tua terra há grande animação: acabaram de criar o vosso próprio festival de Música, a Eurovisão Russa…. Mas como Putin não mostrasse o menor interesse, pois que esse ia todo para a garrafa que tinha entre mãos, acrescenta: Parece que os teus generais precisam de esquecer as maleitas da guerra… E a música vai ajudar, oh se vai!
    Mas, nada. Aquele não era o Putin-czar.
  • Homem, caso ainda não saibas, anda por aí um asteróide que traz toda a gente inquieta porque se diz que vai colidir com a Terra e não há nada a fazer!
  • O quê? Que dizes?
    Ouviu-se uma gargalhada bem puxada de Musk : Bem sabia do teu apego à terra, seja ela russa ou gronelandesa!… Então, nem perguntas pelo nosso grande amigo? Olha que anda cada vez mais revolucionário e criativo. Acaba de criar o Departamento da Fé em que ele é o Messias- Todo-poderoso-Trump… Mas não se ficou por aqui: acaba de fazer uma transação com a Ucrânia.
  • Ãh, repete lá..
  • A ajuda da América à Ucrânia continua, mas na condição de esta lhe ceder as terras raras, ou seja o titânio e o lítio. Que, por sinal até se encontram nos territórios ucranianos já controlados por vocês.
  • Oh, vai ter sorte, vai… Muita sorte…
    Realizaram-se, como previsto, as eleições regionais na Gronelândia. Nunca até então tinha havido umas tão concorridas e tão debatidas. Mas 99% da população votou pela independência.
  • Olhemos para o exemplo da Islândia, outrora também território dinamarquês e hoje em dia a viver otimamente a sua independência, era o que se diziam uns aos outros.
    Manda a verdade que se diga que para aqui se chegar muito terá contríbuido as intervenções de Musk. Ouviam-no com especial atenção depois de saberem que a sociedade com Trump tinha acabado. E ele não se cansava de falar do Havai, de o trazer como exemplo daquilo que os gronelandenses não queriam para a sua terra:
  • Olhemos para a história do Havai, que os Estados Unidos tanto cobiçavam.Conhecem a história não? Acho que toda a gente sabe que o Havai é hoje em dia o quinquagésimo Estado da América! Não é isso que a Gronelândia quer, pois não? Vocês merecem um futuro melhor! Muito melhor, meus amigos!
    E lisongeava-lhes o ego, lembrando-lhes que eram ricos, cada vez mais ricos com o degelo do solo a acontecer, podendo-se então extrair as riquezas que Trump tanto cobiçava.
  • Com esse dinheiro podem-se fazer aqui grandes coisas! Olhem: podem até competir com a Riviera do Oriente que Trump anda a querer construir em terras árabes!
    E hoje em dia quem se atreveria a competir com Trump, àh?
  • Maria Luísa Soares *
  • Escritora
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